O presidente russo Vladimir Putin é pragmático, mas provavelmente errou o cálculo da invasão da Ucrânia do ponto de vista da economia. A conta está a cada dia mais pesada. A resistência ucraniana está atrasando a derrubada do governo. A inicial apatia do Ocidente, justificada por Estados Unidos e Europa como cautela para evitar a Terceira Guerra Mundial, deu lugar a um bombardeio de restrições financeiras. Até mesma a isenta Suíça, que há séculos evita qualquer posicionamento na diplomacia internacional, entrou na batalha das restrições.

Fora do sistema global de transferências, o Swift, a engrenagem russa começa a travar. O congelamento de mais de US$ 1 trilhão dos bancos da Rússia mundo afora e a retaliação mundial a bilionários ligados ao Kremlin tiraram a situação do controle de Putin. Para quem está acostumado a controlar a tudo e a todos, perder a autonomia das decisões econômicas é perturbador.

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Nos últimos dias, as cotações de petróleo, gás, trigo, milho (os principais produtos de exportação da Rússia) dispararam, mas os produtores russos não ganharam nenhum centavo a mais por isso. Ao contrário, estão com seus estoques ameaçados pelo bloqueio imposto pelo mundo.

Presa na solitária da economia mundial, a Rússia vai assistir, sem ter condições de reagir, a uma rápida necrose das maiores empresas do país. Na segunda-feira (28), o preço da ação do Sberbank, o maior banco russo e o maior alvo de sanções do Ocidente, caiu mais de 73% na Bolsa de Londres. A subsidiária austríaca, o Sberbank Europe, “está falindo ou deve falir” por causa de saques em massa, segundo comunicado do Banco Central Europeu.

A Bolsa de Moscou foi fechada para a maior parte de seus negócios. A partir desta terça-feira (1), russos não podem mais fazer envio de dinheiro ao exterior ou empréstimos. Diante da corrida por saques às contas, os bancos estão sem caixa. Segundo o BC russo, 20% do total de depósitos bancários de pessoas físicas e 26% do dinheiro das empresas estão no exterior.

Nos próximos dias, as forças militares russas vão intensificar os ataques à Ucrânia até que o objetivo seja alcançado. Mais cedo ou mais tarde, com o governo ucraniano sob seu comando, Putin sentará à mesa para impor suas regras. A missão militar estará concluída e, sob a visão bélica, será bem-sucedida. Mas a devastação e a guerra no front econômico estarão ainda mais distantes de um fim. A guerra na Ucrânia vai arrasar a economia da Rússia por décadas.