A relação entre a NotreDame Intermédica e os investidores estrangeiros nem sempre foi harmoniosa. Em 2016, o fundo de private equity CVC Capital Partners, com sede em Luxemburgo, demonstrou interesse em adquirir uma participação na operadora brasileira de planos de saúde. Mas, ao saber que a empresa tinha sido avaliada em R$ 10 bilhões, os europeus desistiram do negócio. Sem a injeção financeira de um novo sócio, a NotreDame protocolou sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na B3, em maio de 2017.

Novamente os planos foram frustrados. Com a crise instaurada pela revelação da gravação feita pelo empresário Joesley Batista com o presidente Michel Temer, o apetite dos estrangeiros foi fraco, o que fez a companhia desistir da operação. Agora, a NotreDame vai para uma nova tentativa. Está programada para 19 de abril a precificação dos papéis e para o dia 23 o início da negociação. A projeção é captar R$ 2 bilhões. “Há um apetite maior pelo Brasil”, afirma Carlos Soarez, analista da Magliano Corretora.

Apesar do melhor ambiente para o IPO, a NotreDame Intermédica, que tem forte atuação no Sudeste e conta com 3,6 milhões de beneficiários, enfrentará um novo desafio neste ano: a oferta inicial da sua concorrente Hapvida, também prevista para ocorrer em abril. As empresas operam no mesmo segmento e possuem modelos de negócio muito parecidos, com foco no público de baixa renda e redes próprias de hospitais e clínicas. Pela semelhança, elas terão que brigar pelos mesmos investidores. A situação é similar ao que ocorreu, no ano passado, com as locadoras de veículos Movida e Unidas. Elas decidiram estrear na bolsa de valores no mesmo período. Resultado, a Movida movimentou R$ 654 milhões e a Unidas desistiu do IPO, alegando “condições desfavoráveis de mercado”.

Competição: a Hapvida, de Candido Pinheiro, também quer fazer o IPO em abril (Crédito:João Castellano / Agência Istoé)

Nessa disputa, a Hapvida, criada pelo médico Cândido Pinheiro e maior operadora do Nordeste com 3,9 milhões de beneficiários, parece ter saído na frente. A empresa registrou lucro líquido de R$ 650,6 milhões em 2017 e faturamento de R$ 3,8 bilhões. A Intermédica, por sua vez, lucrou R$ 238,2 milhões para uma receita de R$ 5,3 bilhões. Mais: a margem de lucro da primeira foi maior, atingindo 21,4%, ante 13,4% da NotreDame. “A NotreDame vem de um momento de arrumar a casa”, diz o consultor Henning Von Koss, ex-diretor da Amil. “Ela tinha uma parte dos beneficiários atendidos por hospitais de terceiros e está trazendo cada vez mais para a rede própria.”

Fundada pelo médico Paulo Barbanti, a NotreDame Intermédica foi adquirida em 2014 pela gestora Bain Capital, que pagou quase R$ 2 bilhões pelo controle. Com a saída do fundador do comando e a entrada do atual CEO, Irlau Machado Filho, houve uma transformação e a companhia buscou aumentar sua rede própria, com uma série de aquisições de hospitais e clínicas. Ao todo, são 118 unidades médicas. A estratégia reduz custos com procedimentos médicos e eleva a rentabilidade. Mas esse é outro fator que os analistas colocam a Hapvida em vantagem: a representatividade de sua rede própria é maior (255 unidades médicas). Nas próximas semanas, ambas vão testar o mercado para saber qual delas tem melhor saúde.