O turismo de luxo tem uma variedade mais do que interessante de opções. Com cerca de US$ 15 mil você pode, por exemplo, hospedar-se num hotel de gelo na Escandinávia ou voar de balão sobre a Masai Mara, no Quênia, uma das mais ricas reservas florestais da África. Ou gastar US$ 20 mil e fazer um safári para fotografar ursos-polares no Canadá. Mas, nos quesitos preço e exotismo, nenhuma dessas alternativas se compara a uma viagem em uma nave espacial em torno da Terra, com alguns dias de pernoite num hotel orbital. Sete milionários já gastaram US$ 20 milhões cada um para fazer essa viagem na espaçonave russa Soyuz – o primeiro foi o americano Dennis Tito, em 2001, e o último, no ano passado, o canadense Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil. Agora, porém, a perspectiva de viagens mais baratas e mais frequentes acaba de crescer.

 

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É que a Boeing, a maior empresa do setor aeroespacial do mundo com faturamento de US$ 68,3 bilhões, anunciou recentemente que vai entrar nesse negócio para valer, transportando passageiros entre a Terra e uma estação orbital a partir de 2015. A empresa americana vai disputar mercado com a Virgin Galactic, do magnata inglês Richard Branson, que desde 2005 aceita reservas para levar simples mortais ao espaço por US$ 200 mil, a partir de 2011.  

 

A estreia da Boeing nesse nicho de mercado é consequência de decisões orçamentárias anunciadas, em fevereiro, pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O orçamento da agência espacial americana, a Nasa, de US$ 18,7 bilhões, não prevê mais um programa de retorno à Lua nem a substituição da frota de ônibus espaciais Space Shuttle, como planejado pelo governo de George W. Bush. 

 

Em vez disso, o governo liberou uma verba de US$ 6 bilhões para ser gasta, em cinco anos, no desenvolvimento de uma espaçonave pela empresa de Seattle. Em outras palavras, a Boeing construirá cada porca e parafuso da nave e a Nasa apenas supervisionará o trabalho. Mas há outro atrativo: “O setor espacial já movimenta US$ 120 bilhões anualmente no mundo”, estima o português Sérgio Figueira, fundador da International Space Travel Association (Ista). E a Boeing quer uma fatia desse filão. 

 

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Passagens à venda: a Virgin Galactic, do bilionário inglês Richard Branson, 
levará seus passageiros em voos a 110 quilômetros de altitude

 

A empresa vai ganhar com o transporte de passageiros em voos comerciais e não comerciais na sua aeronave, que já foi batizada de CST-100, para sete ocupantes. Quatro assentos estarão sempre reservados para astronautas e os três restantes para qualquer pessoa. Quem quiser uma passagem na astronave da Boeing terá de comprá-la da Space Adventures, a mesma empresa que levou os sete milionários ao espaço. O preço não foi anunciado, mas espera-se que a empresa consiga torná-lo mais acessível no futuro. 

 

Habituado às mudanças de prazos e custos do setor, o engenheiro Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro, acha que “2015 é uma estimativa de prazo muito otimista, talvez precipitada”, diz ele. “Mas o empreendimento faz sentido, sim. Os passageiros deverão ficar na estação orbital que a empresa Bigelow, parceira da Boeing, já está construindo”, completa. 
 

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Plataforma de lançamento: a nave CST-100, projetada pela Boeing para voos comerciais, 
será levada ao espaçopor um foguete Delta. Ele será lançado na base da Nasa, em Cabo 
Canaveral, na Flórida, para viagens que deverão durar, em média, dez dias

Figueira, que também é dono da agência portuguesa Caminho das Estrelas, primeira da Europa especializada em turismo espacial, admite que haverá muitas dificuldades até a chegada dos primeiros hóspedes na estação orbital. A começar pelo preço. “A mesma coisa aconteceu com a aviação no início do século passado, quando voar era uma coisa para milionários. Mas hoje qualquer pessoa pode andar de avião”, afirma. 

Patrícia Servilha, sócia da consultoria espanhola Chias Marketing, especializada em turismo, explica que um nicho como esse aparece quando sua implantação atende ao desejo de um grupo de pessoas. “As viagens espaciais estão no imaginário de muita gente, mas podem agora se tornar realidade e existem pessoas com renda para realizar esse desejo”, diz. 

 

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Basta ver que a empresa GSPTur, que representa a companhia de Branson no país, já tem dez interessados em voar para o espaço. “Todos são empresários e muito ricos. São homens de 30 a 50 anos que podem pagar os US$ 200 mil da passagem”, diz Rogê David, dono da empresa.