O Afeganistão adiou as eleições legislativas na província de Kandahar, após um ataque reivindicado pelos talibãs contra um edifício governamental durante uma reunião sobre segurança com funcionários do governo dos Estados Unidos.

As eleições, que deveriam acontecer neste sábado como no resto do país, foram adiadas em uma semana, indicou o porta-voz do presidente afegão Ashraf Ghani.

A Comissão Eleitoral Independente anunciará uma nova data, acrescentou.

Os preparativos para a votação em Kandahar, o local de nascimento do movimento talibã, foram interrompidos na quinta-feira, quando um atirador usando um uniforme das forças de segurança abriu fogo contra um grupo de autoridades americanas e afegãs.

Os talibãs reivindicaram o ataque de que matou um polêmico chefe de polícia da província de Kandahar, sul do país.

Outras duas pessoas morreram no ataque, que aconteceu dois dias antes das eleições legislativas no Afeganistão.

O general Scott Miller, comandante das forças da Otan e americanas no Afeganistão, que também participava na reunião, escapou ileso.

Mais 13 pessoas ficaram feridas no assalto dentro do complexo do governador provincial, fortificado, incluindo o governador e dois americanos. O atirador foi morto.

O ministério do Interior disse nesta sexta-feira que três suspeitos foram detidos por causa do incidente, que, segundo os talibãs, tinha como alvo Miller e Raziq.

Autoridades dos Estados Unidos descartaram a alegação de que Miller era um alvo.

Miller fez uma aparição pública em Cabul nesta sexta, ao visitar um posto de segurança afegão, onde descreveu o ataque como um “acontecimento trágico”.

“Minha avaliação é que eu não era o alvo. Era um espaço confinado. Mas não avalio que eu fosse um alvo”, disse Miller à emissora afegã Tolo News.

A afluência de eleitores para a votação – que está atrasada em mais de três anos – já era esperada de ser muito inferior aos 8,9 milhões de pessoas oficialmente registradas, após a promessa dos talibãs de realizar ataques.

A morte de Raziq deve impedir ainda mais eleitores de aparecerem em mais de 5 mil centros de votação em todo o país, que as sobrecarregadas forças de segurança do Afeganistão receberam a tarefa de proteger.

Mais de 2.500 candidatos competem por 249 vagas na Câmara, que é responsável por fazer leis e supervisionar o governo.

Centenas de pessoas foram mortas ou feridas em violências relacionadas às eleições até o momento. Ao menos 10 candidatos foram mortos.

As ameaças e atentados cometidos também pelo grupo Estado Islâmico (EI) podem convencer muitos eleitores a permanecer em suas casas, apesar do enorme dispositivo de segurança: 54.000 agentes das forças de segurança serão mobilizados.

Apesar das ameaças de violência, a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão pediu nesta sexta-feira aos eleitores que “exerçam seu direito constitucional de votar”.

Desde a invasão de 2001, que acabou com o regime dos talibãs, o Afeganistão escolheu deputados em 2005 e em 2010.

O pleito legislativo deste sábado havia sido marcado para abril, adiado para julho e finalmente para outubro, a data limite.

A organização foi caótica e as autoridades estão com dificuldade para encontrar fiscais e para distribuir o material eleitoral nos mais de 5.000 locais de votação.

A credibilidade do voto também é objeto de dúvidas: muitos casos de registros múltiplos de eleitores foram detectados.

De acordo com a ONG Afghan Analyst Network (AAN), o número de eleitores registrados apenas na província de Paktia (leste) representa 141% da população habilitada a votar.

Para aumentar a confusão, a implementação no último momento de um sistema de controle biométrico dos eleitores – inédito no país – ameaça multiplicar as possibilidades de fraude, e inclusive de fracasso do processo.

A eleição é vista como um teste crucial para as presidenciais de abril do próximo ano e um momento importante antes da reunião da ONU em Genebra, em novembro, onde o Afeganistão está sob pressão para mostrar progressos em seus “processos democráticos”.