Uma situação “desumana e escandalosa, mesmo para os padrões japoneses”: um dos advogados de Carlos Ghosn não mede as palavras, após a rejeição pelo Supremo Tribunal do recurso interposto contra as restrições ao ex-magnata do setor de automóveis.

“Confirma a decisão do tribunal de Tóquio de proibir qualquer comunicação entre Ghosn e sua mulher, Carole, sem uma autorização específica”, lamentou Takashi Takano, ao revelar a decisão da mais alta corte em entrevista à AFP.

Suspeito de malversações financeiras, o ex-CEO da Renault-Nissan foi libertado sob fiança em 25 de abril, após três semanas de detenção, mas em troca de condições mais severas do que quando foi solto pela primeira vez no início de março depois de 108 dias atrás das grades.

“Esta é a primeira vez na minha carreira que um dos meus clientes é libertado sob tais condições, é muito raro”, assegurou o advogado.

– ‘Razões específicas’ –

“Argumentamos que é uma violação clara da nossa própria Constituição e do tratado das Nações Unidas que o nosso governo ratificou há muito tempo”, explicou Takano, referindo-se à Convenção da ONU sobre direitos civis e políticos.

“Infelizmente, para minha grande decepção, até mesmo a última instância ignorou nossos argumentos”, suspirou, agitando um pedaço de papel – o documento emitido pelo Supremo de uma única página.

O Supremo Tribunal não costuma justificar suas decisões, “mas neste caso, que tem sido amplamente divulgado e acompanhado por todo o mundo, esperava uma resposta mostrando sua preocupação”, disse o advogado, entrevistado na terça à noite em seu escritório em Tóquio.

Agora que a proibição foi validada em última instância, a equipe de defesa de Carlos Ghosn tem apenas uma opção: tentar obter um encontro com sua esposa neste quadro muito restrito.

“Nosso pedido deve ser baseado em razões específicas e urgentes” que justificariam um encontro, disse Takano.

Após a libertação de seu cliente, um pedido foi apresentado, para uma visita “de uma hora por dia, na presença de um advogado”. Apesar das garantias apresentadas, a solicitação foi negada.

Carlos Ghosn também está proibido de deixar o território e de acessar a Internet, enquanto sua residência está sob a vigilância de câmeras.

– “Deprimido” –

Essas condições poderão ser ajustadas, porém, conforme avançam os preparativos do processo, acredita Takano. Uma primeira reunião formal está marcada para esta quinta-feira no tribunal de Tóquio, na presença de Ghosn, juízes e promotores.

Um mês após sua libertação, o franco-libanês-brasileiro de 65 anos não está em boa forma, segundo seu advogado.

O fato de não poder ver sua esposa “o afeta mentalmente, ele parece deprimido”, disse, enquanto uma de suas colaboradoras acrescentou que ele ficou “realmente chocado” quando tomou conhecimento desta medida para evitar a destruição de provas.

Carole Ghosn é suspeito pelo Ministério Público de ter entrado em contato com pessoas envolvidas no caso.

Mas o ex-magnata, que alega inocência e denuncia uma “conspiração” da Nissan, “mantém o espírito combativo”, testemunhou o advogado, convencido de que ele será inocentado.

“O processo de preparação do julgamento levará pelo menos mais um ano”, disse Takano.

Preso em 19 de novembro em Tóquio, Carlos Ghosn enfrenta quatro acusações pela Justiça japonesa: duas por ocultar sua renda no mercado de ações, e duas, por diferentes casos de violação agravada da confiança, incluindo suposta apropriação indébita de fundos da Nissan.

Após o escândalo, ele perdeu todos os cargos nas três fabricantes, reunidas por ele para formar a maior aliança global de automóveis: Renault, Nissan e Mitsubishi Motors.