O primeiro voo espacial tripulado da companhia SpaceX, cujo foguete com dois astronautas da Nasa será lançado rumo à Estação Espacial Internacional (EEI), foi adiado para o sábado devido ao mau tempo pouco antes de sua decolagem nesta quarta-feira (27) no Centro Espacial Kennedy, na Flórida.

“Infelizmente não vamos fazer um lançamento hoje”, disse o diretor de lançamentos da SpaceX, Mike Taylor, aos astronautas da Nasa Bob Behnken e Doug Hurley, acrescentando que o clima melhoraria apenas dez minutos após o horário previsto para a decolagem.

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A nova página da História espacial terá que esperar até esse dia, quando está prevista uma nova janela possível para se coordenar com a estação orbital.

O anúncio do adiamento da missão ocorreu no último minuto, com a escotilha da cápsula Crew Dragon já fechada e Hurley e Behnken presos a seus assentos.

O avião presidencial com Donald Trump e a primeira-dama, Melania, tinha pousado debaixo de chuva após sobrevoar a área de lançamento na costa da Flórida. Os dois assistiriam o lançamento.

A cápsula está presa na parte superior de um foguete Falcon 9 da empesa privada.

“É um sonho que se realizou, nunca pensei que aconteceria”, disse antes do anúncio do adiamento Elon Musk, que fundou a SpaceX em 2002 na Califórnia.

Antes de embarcar na cápsula, Hurley e Behnken puderam se despedir de suas famílias. Aos filhos pequenos dos dois, Musk contou ter-lhes dito: “Fizemos tudo o possível para que seus pais retornem”.

No topo de um foguete de 70 metros de altura, cheio de combustível, os dois homens vão tentar decolar no sábado às 15h22 locais (16h22 de Brasília) da plataforma de lançamento número 39A, a mesma usada por Neil Armstrong e seus colegas da tripulação da Apolo, há mais de cinco décadas.

Espera-se que cheguem à Estação Espacial Internacional 19 horas depois.

Behnken e Hurley estiveram previamente em quarentena por duas semanas. Apesar das medidas de isolamento, o voo se manteve de pé.

Turistas e fãs que tinham ido presenciar o lançamento ocupavam as praias próximas.

“Tomamos todas as precauções para ver este evento monumental”, disse Kyle Rodríguez, engenheiro especializado em robôs, que viajou na segunda-feira de San Francisco, acompanhado da esposa. “Os bilhetes (de avião) não foram caros”, acrescentou.

– Monumental –

 

A Space Exploration Technologies Corp. (SpaceX), fundada com a determinação de mudar as regras do jogo da indústria aeroespacial, pouco a pouco ganhou a confiança da maior agência espacial do mundo.

Em 2012, tornou-se a primeira empresa privada a acoplar uma cápsula de carga à EEI. Dois anos depois, a Nasa pediu que a cápsula Dragon fosse adaptada para transportar astronautas.

“Se sair mal, a culpa será minha”, disse Elon Musk na quarta-feira à rede de TV CBS.

A agência espacial pagou mais de 3 bilhões de dólares à SpaceX para projetar, construir, testar e operar sua cápsula e fazer seis viagens espaciais de ida e volta.

O desenvolvimento enfrentou atrasos, explosões, problemas com paraquedas, mas a SpaceX superou a gigante Boeing, à qual a Nasa também pagou para fazer uma cápsula, a Starliner, que ainda não está pronta.

 

O investimento, decidido durante os mandatos de George W. Bush para o envio de carga e de Barack Obama para o envio de astronautas ao espaço, é considerado frutífero em comparação com as dezenas de bilhões que custaram os sistemas anteriores desenvolvidos pela Nasa.

“Um êxito monumental”, disse também na antessala do lançamento frustrado Jim Bridenstine, administrador da Nasa, elogiando a criatividade e a perseverança da SpaceX, à qual agora confia seu recurso mais precioso: seus astronautas.

A Crew Dragon é uma cápsula como a Apolo, mas do século XXI. Telas táteis substituíram botões e joysticks. O interior é predominantemente branco, com iluminação mais sutil.

“Com certeza todos os pilotos do mundo terão mais confiança se você der a eles um joystick do que um iPad!”, brincou Thomas Pesquet, o astronauta francês que poderá ser o primeiro europeu a viajar a bordo da Dragon em 2021.

O design da nova nave não tem nada a ver com os enormes ônibus espaciais que funcionaram entre 1981 e 2011.

 

Diferentemente daqueles, um dos quais – o Challenger – explodiu em 1986 após o lançamento, a Crew Dragon pode se separar do foguete em caso de emergência.

A cápsula deve chegar à estação orbital, a 400 km da Terra, onde provavelmente permanecerá acoplada até agosto.

Se cumprir a missão, os americanos deixarão de depender dos russos para chegar ao espaço, como tem sido desde 2011, pois os Soyuz russos são os únicos veículos espaciais que fazem este trajeto, decolando do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão.

As rotas a partir da Flórida voltariam a ser regulares, com quatro astronautas a bordo.

E a SpaceX poderia organizar viagens espaciais para turistas com sua cápsula com um bilhete que provavelmente custará dezenas de milhões de dólares por assento.