Se houve um tempo em que uma carta de cervejas e coquetéis sem álcool seria recebida a narizes tortos, esses dias ficaram para trás.  Evitar o álcool está se tornando uma tendência cada vez mais forte entre esses jovens. Um terço das pessoas entre 18 e 25 anos hoje não ingere bebidas alcoólicas, de acordo com relatório da plataforma global Innova Market Insights. Por trás, com essa nova leva de consumidores, ascende uma cultura mais consciente sobre os efeitos do álcool no organismo e, principalmente, que busca a preservação do corpo e da mente. Segundo a consultoria de tendências IWSR, as vendas de produtos sem álcool e com baixo teor alcoólico em dez países (incluindo o Brasil) saltaram de US$ 7,8 bilhões para US$ 10 bilhões nos últimos quatro anos e ainda devem crescer 2,5 vezes até 2025.

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Atentas a esse movimento, no mercado de cervejas, as marcas líderes já destinam 30% de seu orçamento de marketing para as bebidas sem álcool. Por aqui, a Heineken apresentou recentemente sua nova campanha para promover a Heineken 0.0, cujo roteiro busca justamente um alinhamento de valores com esse novo grupo de potenciais consumidores. A companhia viu as vendas da sua versão 0.0 saltarem 20% no último ano, com um desempenho particularmente forte no Brasil. Desde o lançamento do grupo holandês, a oferta para o segmento sem álcool cresceu 75% no País. É o caso do lançamento mais recente: a Bud Zero, uma versão sem álcool da Budweiser apresentada pela Ambev durante o festival Lollapalooza 2022. O próprio grupo AB Inbev projeta que os rótulos sem e com baixo teor de álcool devem representar pelo menos 20% das suas vendas globais até 2025. No ano passado, o consumo de cervejas sem álcool no mercado nacional alcançou 260 milhões de litros, segundo a plataforma Euromonitor, um salto de 86% nas vendas em dois anos.

Ainda pela pesquisa da Innova Market Insights, 4% de todas as cervejas e destilados lançados globalmente em 2021 eram produtos da linha sem álcool. Nos últimos cinco anos, o ritmo médio de lançamentos para este segmento garantiu 20% de expansão do portfólio. Até mesmo a Freixenet lançou seus rótulos desalcoolizados. O espumante Freixenet Zero Álcool, por exemplo, bebida produzida na Espanha à base de uva Moscatel, tem a garrafa vendida no Brasil por preços que variam de R$ 70 a R$ 90 em média. A empreitada – por mais estranha que possa parecer no mundo dos vinhos – foi muito bem-sucedida e deve seguir como uma das apostas do grupo Henkell-Freixenet para este ano no País. O motivo é o sucesso comercial da linha, que viu, por exemplo, as vendas do Henkell Zero Álcool (cuja garrafa sai entre R$ 60 e R$ 90) cresceram mais de seis vezes em um ano, saindo de 12 mil garrafas em 2020 para 80 mil garrafas em 2021.

No setor de bares e restaurantes, a tendência está no radar de mixologistas e bartenders há alguns anos, que passaram a enriquecer as opções sem álcool do cardápio. A vantagem é que os clientes podem beber em volume sem o risco da intoxicação alcoólica – o que engorda o caixa e agrada os estabelecimentos. Antes da pandemia, os bares especializados em bebidas sem álcool vinham como forte aposta no mercado, o que deve ser retomado com a volta das atividades. O recado está dado: a bebida com baixo teor alcoólico ou sem álcool não é mais uma substituta, mas a primeira opção desses jovens consumidores. Com uma avenida de crescimento expressiva pela frente, uma vez que as vendas deste segmento devem injetar mais US$ 15 bilhões na indústria nos próximos quatro anos, a hora para as empresas é apostar em uma estratégia mais agressiva.