Duas autoridades do Fundo Monetário Internacional (FMI) concederam entrevista coletiva em Washington nesta sexta-feira, um dia após o Fundo chegar a um acordo com a Argentina sobre um pacote de ajuda de US$ 50 bilhões ao país. De acordo com o diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, Alejandro Werner, e o chefe da missão para Argentina do Fundo, Roberto Cardarelli, o acordo será submetido à aprovação do conselho executivo do FMI, em 20 de junho.

O FMI sustenta que o pacote de ajuda dará mais confiança ao mercado e mais tempo ao governo do presidente Mauricio Macri para realizar ajustes necessários. Os dirigentes também enfatizaram em vários momentos que a intenção da iniciativa é promover um ajuste, mas sem abrir mão de garantias na área social.

O governo Macri e o Fundo “coincidiram plenamente” com a necessidade de se reequilibrar a posição fiscal argentina e reduzir o déficit do governo federal, além de se restabelecer o equilíbrio do déficit primário, disse o FMI. Além disso, a Argentina pretende reduzir sua necessidade de endividamento, buscando acesso a recursos em melhores condições. Outro pilar citado pelo Fundo no acordo foi um compromisso para se manter um piso nos gastos com assistência social, com itens como medidas para que as mulheres tenham iguais condições no mercado de trabalho, por exemplo. Com isso, o pacote de ajuste será mais sustentável no médio e no longo prazo, na avaliação do Fundo.

Questionado sobre se o resultado do pacote atual poderia ser similar ao quadro de 2001, quando a Argentina enfrentou uma dura crise, o Fundo argumentou que a situação agora é bem distinta, com câmbio flexível, ajustes econômicos nos últimos anos e uma agenda de reformas que já mostra sinais de apoiar o investimento privado.

Cardarelli afirmou que o quadro de estresse nos mercados argentinos em março e abril “deixou patente” a necessidade de uma estratégia de ajuste. Segundo ele, a administração Macri foi “muito oportuna” em seu rápido pedido de ajuda ao FMI, antes que o quadro se deteriorasse mais. “Isso acelerará a melhora no país”, previu. O dirigente também lembrou que o governo reforçou a autonomia do banco central, para que ele possa atingir as metas de inflação, e manterá o câmbio flutuante. Para o Fundo, a meta do BC de 17% de inflação no país para 2019 é “crível” e o governo argentino também garantiu que as metais fiscais são realistas. O ritmo de redução no déficit primário é ainda consistente com uma recuperação econômica em 2019 no país, diz o Fundo. Com o acordo, o balanço do BC será imediatamente fortalecido, aponta.

“Acreditamos que o plano é factível e que há bastante consenso sobre algumas medidas necessárias para a estabilização macroeconômica do país”, disse Cardarelli. Questionado sobre o quadro político, o executivo do Fundo admitiu que há um “nível de tensão importante”, mas lembrou que nos últimos dois anos houve vários avanços, como a aprovação de impostos, reformas tributárias, um acordo importante entre o governo federal e as províncias, uma lei para favorecer a concorrência e uma nova legislação para o mercado mobiliário. Mesmo com a necessidade do apoio da oposição para aprovar as medidas no Congresso, Macri pode garantir as medidas que propiciarão esse ajuste, na opinião do FMI. Cardarelli citou ainda que ajustes no programa podem ser feitos, mais adiante.

Os dirigentes do FMI comentaram que mais detalhes sobre os planos devem ser anunciados pelo governo local, posteriormente.