O acordo fechado na Conferência do Clima (COP-26), em Glasgow, é pouco ambicioso diante da urgência de conter o aquecimento global e adia, mais uma vez, a solução para o clima. Essa é a avaliação de especialistas e organizações da sociedade civil sobre o resultado da conferência. Eventos climáticos extremos – como inundações, secas e incêndios – serão cada vez mais comuns, alertam cientistas.

O objetivo era discutir ações para conter o aquecimento global a 1,5ºC, com base nas metas do Acordo de Paris, pacto assinado em 2015. Foram estabelecidas na COP regras para o mercado de carbono, promessas de reduzir o desmate e emissões de metano e houve avanços ao mencionar no texto final, pela primeira vez em um documento, os combustíveis fósseis.

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Mas as expectativas de elevar verbas de países ricos para que nações pobres se adaptem às mudanças climáticas foram frustradas. “É pouco ambicioso. Foi uma COP muito voltada para o artigo 6 (regulação do mercado de carbono), como se ele fosse resolver todos nossos problemas”, diz Maureen Santos, professora de Relações Internacionais da PUC-RJ.

“A salvação do clima foi adiada mais uma vez, para 2022, quando o mundo volta a se reunir em Sharm el Sheikh, no Egito”, avaliou, em nota, o Observatório do Clima.

“O prazo para mantermos o aquecimento global em limites seguros para a humanidade está se encerrando. Os resultados desta COP foram decepcionantes e não podemos mais ficar esperando a próxima”, disse Maurício Voivodic, diretor executivo da WWF-Brasil.

A ativista sueca Greta Thunberg, de 18 anos, também criticou os resultados. “Um breve resumo da COP: Blá, blá, blá”, escreveu no Twitter.

Já Roberto Waack, o fundador da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, vê o resultado final como positivo, apesar da ausência de um compromisso mais forte sobre financiamento. A Concertação é uma rede de pessoas, instituições e empresas para buscar soluções para a conservação e o desenvolvimento sustentável.

Ele credita ao Itamaraty o desempenho das negociações brasileiras e os compromissos assumidos pelo País. “Sem o (o ex-ministro do Meio Ambiente) Ricardo Salles, os negociadores ficaram mais à vontade e livres para fazer seu trabalho.” Mas o descompasso entre a imagem que o Brasil vendeu e a realidade com os sucessivos recordes de desmate na Amazônia cobra seu preço. “O Brasil só fica de pé se a floresta ficar de pé. Caso contrário, vamos permanecer de joelhos.”

Sobre o mercado de carbono, a avaliação é de que o modelo abre oportunidades para o Brasil. “O País tem posição privilegiada, com um dos maiores potenciais de venda de créditos de carbono no mundo”, diz Marina Gross, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.