A recente corrida por aplicações na Bolsa criou um novo fenômeno. Embora o mercado tenha caído um pouco nos últimos dias, um grupo de ações acelerou tanto desde o início do ano que bateu recordes de rentabilidade. Enquanto o índice Bovespa ? que mede o desempenho médio dos papéis ? subiu cerca de 40%, algumas empresas alcançaram quase 200%. Além de refletir uma mudança de ânimo em relação à economia em geral, a alta traz outra revelação: a saúde financeira de alguns dos maiores grupos brasileiros melhorou muito. ?Estão bem mais saudáveis do que em 2002 e, talvez, na melhor forma dos últimos cinco anos?, diz Thomas Awad, estrategista da Corretora Itaú.

A campeã de rendimentos em 2003 se enquadra bem nessa descrição. Há um ano, foi criada a Braskem, uma associação de seis grandes empresas químicas, sob o comando do grupo Odebrecht. Como nasceu com pesadas dívidas, as ações foram negociadas a preços de ocasião e muitos previram dias conturbados pela frente. ?Eles estavam errados?, disse o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich. ?Todos os nossos indicadores melhoraram e agora estamos entrando num momento de alta no ciclo do nosso negócio.?

Quem comprou os papéis da Braskem em janeiro ganhou 197%. ?É a oitava maior alta desde 1994?, diz Einar Rivero, da Economática, autor do estudo sobre as empresas que fazem parte do Ibovespa. ?Só perde para as ações que dispararam em 1999 para acompanhar a alta do dólar.? Porque a Braskem subiu tanto? Os números contam parte da história. No primeiro semestre, a empresa lucrou R$ 468 milhões, contra prejuízo de R$ 480 milhões no mesmo período em 2002. Seu endividamento foi reduzido em US$ 600 milhões. Parte dos ganhos se deve à queda do dólar, mas também à economia de escala com a fusão e a renegociações de preços.

Altas recordes de 2003 são uma imagem invertida de 2002.
No período eleitoral, investidores e bancos estrangeiros cortaram as linhas de crédito para o País. Mesmo companhias com boa fama no mercado ficaram asfixiadas por falta de recursos para rolar suas dívidas em dólar. Foi o que aconteceu com várias empresas do setor siderúrgico. Normalizada a situação, os papéis das companhias voltaram a se valorizar. ?Hoje, as siderúrgicas são as estrelas da Bolsa?, diz Awad, do Itaú.

É o caso da Usiminas/Cosipa, com uma alta de 177%. Sua cotação disparou sem nenhum anúncio bombástico. ?Estamos colhendo os frutos de uma década de investimentos?, disse Rinaldo Campos Soares, presidente da empresa. A Usiminas/Cosipa aplicou US$ 3,3 bilhões no aumento e melhoria da produção. Em 2003, a prioridade foi reduzir dívidas. A Usiminas abateu US$ 300 milhões, reduzindo os débitos para US$ 1 bilhão. ?A alta das ações é sinal que o mercado reconheceu nossa capacidade de gerar resultados?, diz Soares.

A volta por cima também é a marca do fabricante de papel Klabin. No ano passado, deixou de pagar parte de sua dívida de R$ 3,2 bilhões. Foi o resultado da alta do dólar e da retração do crédito. Desde então, o grupo vendeu três empresas por US$ 850 milhões e abateu suas dívidas. ?Tem quem diga agora que estamos até pouco endividados?, brinca Ronald Seckelmann, diretor-financeiro da Klabin, satisfeito com a segunda maior alta do ano, de 196%