A varredora de ruas Maurília Borges Guedes, salário de R$ 330, e o coletor de lixo Franciválber da Silva Pereira, renda mensal de R$ 393, começaram a um mês a investir na Bolsa de Paris. Gente como eles, o motorista de caminhão de lixo Ricardo Rodrigues Guedes e outros 1.400 funcionários da empresa de coleta Vega ganharam um empurrão da companhia e entraram em um fundo no banco Crédit Agricole, que investe somente em ações da Suez Lyonnaise des Eaux, a multinacional francesa que controla a empresa. Com financiamento do próprio grupo, que permite o pagamento em dez meses, com desconto no salário, garis, motoristas e demais funcionários tornaram-se acionistas da multinacional para a qual trabalham. A adesão à campanha foi grande: 15% dos funcionários da empresa de coleta de lixo entraram no programa.

Tomar a decisão de aderir exigiu dos garis uma consciência de investimento de longo prazo que muito investidor mais abonado não conseguiu desenvolver. Pelas regras da campanha, o funcionário só pode receber o dinheiro de volta cinco anos após o investimento. Antes desse prazo, só se sair da empresa. ?Eu tenho filhos e é bom fazer alguma poupança para eles?, explica Maurília, que vai pagar dez parcelas R$ 11,50 por sua parte no bolo. Investimento total: R$ 115. Como forma de dar segurança, a empresa garante que, em caso de baixa nas ações o funcionário receberá de volta no mínimo o valor inicial corrigido em euros ? a novíssima moeda da Europa unificada. E se houver ganho de capital, o empregado-investidor receberá um bônus igual a 4,45 vezes a valorização dos papéis.

O projeto custou à Vega R$ 350 mil, gastos em divulgação e em detalhes operacionais, como os contratos de câmbio dos reais de cada um dos empregados para o euro. Cada operação de câmbio custa de US$ 10 a US$ 50, o que muitas vezes era mais do que o valor investido pelo funcionário. O presidente da Vega, Carlos Villa, diz que o programa vale cada centavo gasto. ?Quando o gari é um acionista, ele se preocupa em não faltar, em cuidar do equipamento, em aumentar a produtividade?, afirma.