A foto acima é emblemática. Sob olhares atentos de pessoas que mandaram e desmandaram na economia ao longo da história brasileira, devidamente conservados na galeria de rostos dos antigos ministros, encontraram-se os homens que têm a responsabilidade de manter o Brasil nos trilhos. De um lado, representando o governo que sai, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel. Pelo governo que chega ? e estrategicamente alinhado sob o retrato do ex-ministro Delfim Netto ? Antônio Palocci Filho, indicado por Luiz Inácio Lula da Silva para coordenar a equipe de transição. O encontro, na última segunda-feira, durou três horas. Ocorreu na área mais restrita do Ministério da Fazenda, o sexto andar do prédio, onde o Conselho Monetário Nacional (CMN) reúne-se mensalmente. Em pauta, o assunto que mobilizará a atenção da equipe econômica nas próximas semanas: a chegada dos técnicos do Fundo Monetário Internacional. Eles estão no País para negociar a primeira revisão do acordo fechado em setembro, que garantiu aos cofres públicos um socorro de US$ 30,4 bilhões. ?A conversa foi excelente?, disse Malan, ao despedir-se de Palocci. ?A primeira de uma série.?

O bom relacionamento de Malan e Palocci não vem de agora. O ministro confidencia a interlocutores próximos considerar que o prefeito de Ribeirão Preto é um dos melhores quadros do PT. Apesar de todo o apreço, Malan foi obrigado a deixar o conselheiro de Lula esperando. Conforme combinado, Palocci chegou à sede do Ministério da Fazenda por volta das 17 horas, sem fazer alarde. Subiu direto, mas não pôde ser atendido porque Malan estava às voltas com representantes do governo de Minas Gerais, discutindo a questão da dívida do Estado. A saída foi escalar o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel. Tido como um dos melhores anfitriões da Esplanada, o secretário da Receita aproveitou para comentar a arrecadação. Até outubro, o Leão abocanhou R$ 199,45 bilhões, 22% a mais do que no mesmo período de 2001.

 

Uma hora e quarenta e cinco minutos depois, Pedro Malan subiu de seu gabinete à sala de Everardo, no sétimo andar, para buscar Palocci, que saiu da conversa convencido de que o Fundo não fará novas exigências para liberar a parcela de US$ 3 bilhões do acordo prevista para o último trimestre. ?Será uma visita apenas de rotina?, disse. Na verdade, a visita avançará pouco além disso. O economista escolhido pelo Fundo para chefiar a equipe, o argentino Jorge Marquez-Ruarte, está vindo pela primeira vez ao País numa missão oficial. É tão verde em matéria de Brasil que na manhã da terça-feira 12 decidiu fazer um city-tour pelas ruas de Brasília. Vistou a Esplanada dos Ministérios e a Catedral de Oscar Niemeyer. Ruarte foi designado pessoalmente por Horst Köhler, o diretor-gerente do FMI, para a tarefa. Sem vínculos com a atual equipe econômica, terá condições de fazer um diagnóstico mais preciso da situação econômica brasileira. Na semana que passou, o economista argentino priorizou encontros com o time atual ? esteve com Malan e Everardo na terça e com Armínio Fraga, do Banco Central, na quarta. Na próxima semana, terá conversas reservadas com Palocci e outros economistas do PT, como Aloizio Mercadante. Mas as decisões cruciais, das quais dependem a liberação dos US$ 24 bilhões a serem sacados no próximo governo, ficarão para dezembro. Isso porque o próprio Köhler virá ao Brasil, entre os dias 8 e 14, quando se encontrará com Lula. É nesse encontro que talvez sejam fixadas novas metas de desempenho para o País. Mas os economistas da cúpula do PT apostam que, com os bons números da balança comercial e a estabilidade do dólar, novos sacrifícios fiscais não serão necessários. Segundo o acordo, o setor público terá de economizar 3,75% do Produto Interno Bruto em 2003 e assim será.