Com milhões de brasileiros em quarentena por causa da pandemia de coronavírus, até a recente flexibilização na maioria dos estados do País, o trabalho e as refeições tornaram-se um hábito mais domiciliar. Essa mudança de cultura atingiu também o lazer e o entretenimento, consumidos agora na sala, na cozinha, no quarto e no escritório de casa e não mais em teatros, cinemas e espaços de shows. Essa alteração nos costumes refletiu também no consumo do brasileiro. Segundo dados da consultoria GFK, de janeiro a agosto o mercado nacional de computadores tradicionais cresceu 32,7%, enquanto o de máquinas para games aumentou 62,4% em relação ao mesmo período de 2019. Um recorde. Significa que as pessoas investiram em equipamentos eletrônicos para melhorar seu desempenho laboral e, principalmente, em conforto e condições mais favoráveis para passar o tempo com jogos. Durante a pandemia, o brasileiro gastou, em média, 60% mais tempo dedicado a games, de acordo com estudo do Instituto Locomotiva.

Nesse nicho, destaque para a Acer, que em agosto alcançou 75% do market share para o varejo gamer – no ano passado, a média foi de 47% na fatia desse mercado – e abocanhou a liderança em notebooks gamers no Brasil. A companhia taiwanesa focou seus negócios nesse setor e investe forte em novas linhas de produtos, de computadores a monitores, de roupas a bebida. Sim, bebida! A Acer produziu uma fórmula e montou uma fábrica no continente asiático de um energy drink, chamado Predator Shot. Criou asas para concorrer diretamente com a Red Bull. “É um conceito de bebida saudável, que ajuda a ficar mais tempo concentrado”, afirmou à DINHEIRO Germano Couy, diretor-geral da Acer na América Latina.

O produto foi lançado recentemente em Taiwan e também já está sendo comercializado na Polônia. Não há previsão para chegar ao Brasil. Mas, diante dos números da empresa no mercado nacional, são boas as chances de o energy drink estar nas prateleiras brasileiras nos próximos meses. A companhia revela que a fórmula é recheada de vitaminas e minerais, incluindo vitamina B e luteína, conhecida especialmente por beneficiar a saúde dos olhos. A expectativa de vendas e de representatividade do Predator Shot no faturamento da Acer é mantida sob total sigilo.

MARCA Acer apoia e patrocina diversos projetos, entre eles a equipe brasileira de e-sports Black Dragons, focada em jogos nos
quais a visão do personagem do game é a mesma da do jogador. (Crédito:Lucas Garcia)

É mais um produto que puxa a cadeia de acessórios do setor gamer da empresa, que já trabalha com vestuário específico para jogadores profissionais e amadores – como jaquetas, camisetas e bonés. São itens que compõem o ecossistema e ajudam a fortalecer a marca, assim como os patrocínios e um conjunto de ações de marketing embutidas no negócio gamer. A Acer é parceira global do campeonato de Rainbow Six, jogo classificado na faixa hard core que exige gráfico e processamento avançados, e apoia o Brasileirão do mesmo game. Além disso, patrocina e apoia, com recursos financeiros e equipamentos, jogadores profissionais, times, projetos e influenciadores desde 2016.

CRESCIMENTO A companhia taiwanesa já vinha com posicionamento forte no segmento gamer nos últimos anos. A quarentena provocada pela Covid-19 ampliou o bom momento da empresa no cenário nacional. A Acer e as concorrentes que estão à sua frente globalmente (Lenovo, HP e Dell) em vendas de computadores sofreram de alguma forma com o desabastecimento de suprimentos. Enquanto as rivais focaram em outros segmentos, como fornecimento para indústria e na vertente de educação, a Acer acelerou nas linhas gamer, com marketing e entrega. “Crescemos mais de 30% no setor de games no Brasil neste ano”, disse Germano Couy. Bons resultados obtidos também em outros países americanos. Em agosto, além do Brasil, a Acer foi a marca mais vendida de game na Argentina, no Canadá, na Colômbia e nos Estados Unidos.

A estratégia foi concentrar esforços nos produtos de alto valor agregado. No Brasil, os notebooks Acer custam entre R$ 5.500 e R$ 25 mil, sendo 90% das máquinas vendidas por até R$ 8 mil. A procura por esse tipo de equipamento leva em consideração a versatilidade. O alto desempenho é usado principalmente para rodar jogos e, de forma complementar, serve para melhor performance em estações de trabalho, estudo, vídeos e streaming. O crescimento não é apenas em notebooks, que é a mais importante fonte de receita da companhia e representou ano passado 60% das vendas totais no mundo. É também em monitores e projetores, responsáveis por 13% da receita global da empresa. No mercado nacional, as vendas da Acer cresceram 60% em telas neste ano.

Por isso, a companhia visa ampliar a capacidade produtiva de algumas verticais. A de games continuará sendo o foco. Uma das novidades que deve desembarcar no Brasil em novembro é o monitor com câmera. Plugada ao notebook, dará amplitude e realismo aos jogadores. Segundo a empresa, é inédito no mercado local. É importado, mas o plano é fabricá-lo por aqui. Outro segmento na mira da Acer é o de educação. “Acreditamos que o Brasil tem potencial para novo modal de aulas on-line e deve acompanhar a tendência de outros países que usam muito computador em sala de aula”, afirmou o executivo.

VISÃO Companhia de Taiwan criou uma fórmula própria e montou uma fábrica de energy drink, com vitaminas e a substância luteína, que beneficia a saúde dos olhos. (Crédito:Divulgação)

Investimentos que devem encorpar a receita e fazer as vendas totais no Brasil aumentarem no patamar de dois dígitos neste ano, segundo projeção interna. Em 2019, o crescimento foi de um dígito no mercado brasileiro. A alta foi na contramão dos resultados globais, que retraíram 3,3% em relação a 2018, passando de 242,3 bilhões de novos dólares taiwaneses (US$ 8,43 bilhões, na cotação de terça-feira, 20), dois anos atrás, para 234,3 bilhões de novos dólares taiwaneses
(US$ 8,15 bilhões), no ano passado. Em 2020, depois de um primeiro trimestre ruim, com queda de 10,7% em relação ao mesmo período de 2019, houve recuperação no segundo trimestre, com aumento de 19% em comparação com os mesmos meses do ano anterior e de 34% superior aos três primeiros meses deste ano.

Na quarta-feira (21), a Acer anunciou as novidades em sua conferência global à imprensa. A tendência de investimento no segmento gamer ficou clara na explanação do CEO da companhia, Jason Chen. Ele apresentou o SigridWave, um tradutor em tempo real baseado em Inteligência Artificial, que utiliza tecnologias de deep learning para superar barreiras linguísticas e facilitar a comunicação entre jogadores de todo o mundo. O tradutor foi projetado para lidar com a terminologia e a linguagem usadas pelo gamer dentro da Planet9, a plataforma de e-sports da marca, que também teve atualizações anunciadas, em especial a possibilidade de criar clubes de equipes e a implementação de um framework para organização de torneios. A alta aposta da marca nos jogos está colocada.

 

Brincadeira séria da Final Level

Amanda Alexandre

Felipe Neto, empresário e um dos youtubers mais famosos do mundo. Marc Lemann, investidor e empresário, filho de Jorge Paulo Lemann, um dos homens mais ricos do Brasil. Bernardinho, treinador bicampeão olímpico com a seleção brasileira masculina de vôlei. João Pedro Paes Leme, ex-diretor de esportes da TV Globo. Fernanda Lobão, executiva de inovação e marketing com passagens por Claro, Grupo Globo e Oi. Cesar Villares, administrador e investidor. Seis perfis que se completam e se associam no comando da Final Level, plataforma de entretenimento gamer on-line que tem se destacado na produção de conteúdo, gerenciamento de carreira de jogadores, promoção de negócios e marketing. Com foco no universo de jogos, eles não estão para brincadeira. A mira está voltada para um mercado que movimentou em 2019 US$ 160 bilhões, sendo US$ 6 bilhões na América Latina, segundo estudo da Newzoo. No Brasil, estima-se que 83,5 milhões de pessoas joguem on-line. Apesar do número expressivo, o País é apenas o 13º do mundo em consumo de games. Um grande mar a ser explorado. “O território de games é como um oceano azul para construir negócios”, afirmou Fernanda Lobão.

Em 2015, a executiva foi convidada para estruturar a unidade de venture building da Go4it, que tem como um dos principais ativos o Prêmio eSports Brasil, o Oscar dos esportes eletrônicos brasileiros. Em agosto de 2018, montou com “um time de peso” a Final Level.

A plataforma identificou o que faltava ao mercado gamer. Lançaram, então, a GameLand, uma mansão no Rio de Janeiro onde cinco jogadores e influenciadores com milhões de seguidores passaram a conviver numa espécie de Big Brother. Tudo transmitido pelo YouTube e outras plataformas digitais. A atração foi sucesso de audiência e de engajamento.

Hoje, são vários projetos nesse formato. Inclusive na Espanha. A Xanela Producciones criou sua própria Gameland e pagará royalties à Final Level. É a internacionalização da empresa. No mesmo molde que a produtora holandesa Endemol faz com o Big Brother ao vender o modelo a televisões do mundo todo. “Já estou provocando meu time para saber qual será a próxima inovação”, afirmou a executiva.

Sob o guarda-chuva da Final Level, também está a produção de conteúdo para redes sociais, como Instagram e TikTok, além de podcasts, esses voltados mais para o público adulto masculino, que é o maior consumidor dessa ferramenta. “Hoje, temos mais de 8 milhões de fãs únicos”, afirmou. Além dos 30 gamers gerenciados pela empresa que passam por gerenciamento de carreira. “Funcionamos como catapulta para eles”, disse Fernanda, que tem atraído apoio de empresas como AME Digital, Coca-Cola, iFood, Oi e Subway. “Temos a proposta de valor no conteúdo, para sermos a maior plataforma gamer
do Brasil”, disse a executiva.