Por um tempo, o CEO da operação brasileira da Accenture, uma das Top 10 empresas de consultoria empresariais no mundo, pensou que poderia ser baterista, já que é um apaixonado por shows de rock. Mas Leonardo Framil, 52 anos, natural do Rio de Janeiro, encontra seu ritmo mesmo é no dia a dia da gestão, outsourcing e tudo o que diz respeito a tornar uma companhia eficiente tecnologicamente — já que desde 2013 a Accenture percebeu que toda empresa, na verdade, é uma empresa digital. “Antes de vender essa ideia, nos transformamos internamente. Fomos nosso melhor case. E quando 70% de nossa receita já vinha do Digital, Cloud e Security, a pandemia chegou”, disse o executivo, que está há 30 anos na Accenture e todo dia aperta o botãozinho na máquina de latinhas de energético na empresa, sem revelar quantas vezes faz isso em seu expediente.

Seguindo a direção da matriz irlandesa, no lugar de “parar e pensar” a pandemia, saíram fazendo aquisições, um passo que se mostrou acertado no momento emergencial. Foram quatro: a Organize Cloud Labs, que trouxe mais inputs em estratégia, migração, implementação e gerenciamento de Cloud; a Real Protect, somando mais segurança customizada e integrada; a Pollux, especialista em criação e implementação de linha de montagem com robôs e softwares especializados; e a Experity, que tinha na bagagem agilidade em comércio, marketing e dados na nuvem. Está clara a ideia do digital, não? É um movimento para quem pode, tem o cacife de prestar serviço para 18 das 20 maiores empresas do Brasil. Só no Cloud First, foi um investimento global de US$ 3 bilhões em três anos, o que fez pular o negócio da Accenture na área de US$ 12 bilhões para US$ 18 bilhões, aumento de 44%.

AQUISIÇÕES “Dentro dos números expressivos de investimento da Accenture globalmente estão, por exemplo, US$ 4,2 bilhões no último ano fiscal em mais de 40 aquisições ao redor do mundo (incluindo as do Brasil), US$ 1,1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias como blockchain, robótica, 5G, computação quântica; e US$ 900 milhões em aprendizado e desenvolvimento profissional.

EMPRESAS, SE LIGUEM! O CEO da Accenture Brasil, Leonardo Framil, vislumbra o momento atual da empresa, em que mais de 70% de sua receita vem dos serviços com Cloud, análise de dados e afins. (Crédito:Castellano)

Os números em consultoria empresarial são realmente astronômicos, basta ver as receitas de dois dígitos de bilhões das quatro principais no planeta: a McKinsey & Company, Boston Consulting Group, Bain & Company e Deloitte — a Accenture estaria em sétimo segundo pesquisa da Statista para 2021, com US$ 50,5 bilhões em 2021. Mas na lista anual das 50 melhores empresas americanas da Forbes com empresários, parceiros e consultorias de executivos, a Accenture estaria em primeiro em transformação digital, tecnologia, análise de dados e outras 19 de 32 categorias pesquisadas, com ascendências mais pontuais.

Essa é uma das atividades curiosas que a Accenture tem de fazer com alguns clientes: explicar o que fazem. “Não é difícil, é prazeroso mostrar como nos reinventamos para ajudá-los, de como suprimos desde demandas simples às mais complexas”. Um aspecto que ajuda a explicar é que a Accenture não tem em seu core oferecer infra-estrutura, como Cloud — para isso eles têm relacionamentos de nível 1 com os principais players de tecnologia global. “Oferecemos insights, análise de performance, potencial criação de valor, uso de plataformas como o myNav que permite acesso, design e simulações de Cloud, determinando o que é a melhor para o cliente.” Mas alguma empresa ainda tem dúvidas quanto a usar ou não Cloud? Segundo estudo da Accenture, sim. “Identificamos que no Brasil apenas 1% das empresas têm mais de 75% dos negócios na nuvem, enquanto mais de 80% têm menos de metade dos negócios nela.” Além disso, afirmou o executivo, 78% dos entrevistados estão na trajetória para adotar o uso da nuvem nos negócios, “mas ainda há um longo caminho para Cloud contínuo.”

A Accenture saltou em menos 10 anos de US$ 54 bilhões de valor de mercado para US$ 201 bilhões, graças à mudança para cultura full digital. “Aceitamos o desafio da transformação digital. E devolvemos US$ 5,9 bilhões aos acionistas”, disse o CEO. Só no Brasil, iniciou 2021 com 14,4 mil colaboradores e entrou 2022 com 17 mil, o que é perto de 50% da força de trabalho da América Latina. No imediatismo da pandemia, estavam com todas as ferramentas digitais a mão para prover soluções, numa indústria com receita de US$ 263 bilhões em 2021, segundo a IBISWorld. “Chegamos a um estágio em que precisamos aprender com o futuro, não mais com o passado.”