Durante a Operação Arcanjo, no Complexo do Alemão, no Rio, o Exército lançou mão de um arsenal pouco conhecido de ações: desde operações de informações a ações psicológicas, guerra eletrônica cibernética e atividades de contrainteligência. É o que consta de dois trabalhos de militares sobre a operação, ocorrida de 2011 a 2012 no Alemão, durante 583 dias.

A guerra de informações e cibernética contou com ações em redes sociais para desorientar os traficantes de drogas. Para ela, até o Centro de Informações do Exército (CIE) foi mobilizado.

Seus agentes cuidaram do disque-denúncia, colhendo informações sobre os bandidos e analisando os dados obtidos com as patrulhas. O modelo é descrito pelo major Georgingtown Haullinson Farias e pelo coronel Carlos Alberto de Lima em seus estudos sobre a atuação no Alemão.

Segundo eles, “militares especializados no atendimento a denúncias” permitiram que o serviço fornecesse à área operacional informações precisas e seguras.

O fluxo de informação para o disque-denúncia só começou a cair, segundo o coronel, quando o sexto contingente entrou no Alemão, e já estava sendo anunciada a substituição das Forças Armadas pela polícia.

“No Alemão era uma facção só. Na Maré eram quatro facções e nenhuma delas queria perder espaço. Os chefes saíram, mas deixaram os soldados lá dentro”, disse o chefe de operações conjuntas do Ministério da Defesa, general César Augusto Nardi de Souza.

Durante a ocupação, os números de criminalidade caíram no Alemão e na Maré e alguns serviços públicos foram estabelecidos. Pesquisa feita pela ONG Redes da Maré com mil moradores de 18 a 69 anos, e divulgada em 2017, mostrou que, para 73,4% da população da região, a atuação da força de pacificação era ótima, boa ou regular. Só 25,4% desaprovavam a atuação dos militares.

Resistência

Para Edson Diniz, da Redes da Maré, a presença das Forças Armadas deixou um legado pequeno para a comunidade. “A pesquisa mostra que a percepção que ficou do legado foi ruim.” Segundo ele, houve uma tensão crescente dos militares com os jovens da Maré. “Esse segmento foi muito afetado pelo Exército.”

Segundo Diniz, a presença da tropa trouxe expectativa de que as coisas podiam melhorar. “E quando sai da Maré a um custo altíssimo – R$ 1 milhão por dia -, o legado que deixou foi nada. Hoje a Maré voltou a ter problema com os grupos armados e com a polícia – que voltou a entrar com muita violência.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.