A peregrinação de banco em banco para conseguir um crédito pode estar com os dias contados. Na segunda-feira (01) entrou em vigor a primeira fase do open banking no Brasil. Quando estiver concluído, no fim do ano, o novo marco legal das informações financeiras deve equilibrar o jogo entre bancos e clientes, até hoje desigual. Lançado em 2019 pelo Banco Central (BC), o open banking dará ao correntista poder sobre suas informações. Seu cadastro e seu histórico de transações poderão ser compartilhados com outras instituições financeiras por meio de sistemas digitais, mais rápidos e eficientes.

A mudança vai ampliar a oferta de serviços, melhorar a experiência do cliente e livrá-lo das assustadoras portas giratórias que sempre afastaram os brasileiros dos bancos. “Isso vai beneficiar tanto os clientes dos bancos quanto os excluídos do sistema bancário”, disse o diretor geral da Financial Data & Technology Association (FDATA) para América do Sul, Bruno Diniz.

O open banking terá quatro etapas. Na primeira, que se iniciou nesta semana, os bancos terão de compartilhar dados sobre canais de atendimento, produtos e taxas cobradas. Na segunda fase, em julho, os bancos poderão compartilhar os dados de cadastro e as transações dos clientes. Na terceira, em agosto, os clientes poderão pagar contas e fazer transferências por outros meios que não os aplicativos de seus bancos. Finalmente, em dezembro, essas facilidades serão estendidas a seguros, investimentos, contas-salário e operações de câmbio. No entanto, essa quarta fase ainda está em discussão. Para a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), o open banking vai incentivar a inovação e ampliar a ofertas de produtos e serviços para os clientes. “A expectativa do setor bancário é bastante positiva”, disse o presidente da Febraban, Isaac Sidney.” open banking vai beneficiar tanto os clientes dos bancos quanto os excluídos do sistema bancário”

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“Open banking vai beneficiar tanto os clientes dos bancos quanto os excluídos do sistema bancário” Bruno Diniz, diretor geral FDATA.

O aumento da concorrência no sistema financeiro foi iniciado pelo BC em 2013. Mudanças no mercado de adquirência iniciaram a chamada “guerra das maquininhas” e democratizaram o sistema de pagamentos. Em seguida, a criação dos arranjos de pagamentos permitiu o surgimento de milhares de fintechs. O passo mais recente foi o estabelecimento do Pix, sistema de pagamentos instantâneo. Essas mudanças permitem trazer pessoas que estavam à margem dos bancos. “O pagamento digital do auxílio emergencial colocou 40 milhões de desbancarizados no sistema financeiro. Isso é equivalente ao número de clientes dos maiores bancos do mercado brasileiro, o que é impressionante”, disse o sócio dos serviços financeiros da KPMG, Claudio Sertório.

EXPERIÊNCIA Nada disso representa risco para os bancos. Eles sempre investiram muito em tecnologia, passaram por diversas crises e têm capital financeiro e humano para desenvolver sistemas ou adquirir fintechs promissoras. “A experiência do cliente é importante, mas os custos, a qualidade dos serviços e a segurança também são”, disse Sertório. O aumento da concorrência, no entanto, não deve derrubar o spread bancário no curto prazo, avalia Sertório. ‘O custo do dinheiro vai além da competição e da taxa Selic, depende de várias taxas cobradas das instituições financeiras”, disse ele.