SÃO PAULO (Reuters) – O setor de produção de milho do Brasil espera que o Ministério da Agricultura conduza de forma “hábil” a suspensão das tarifas de importação do cereal, anunciada pelo governo na segunda-feira, em tentativa de conter os altos preços internos dos grãos.

Em nota publicada nesta terça-feira, a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) defendeu o livre comércio tanto para exportações quanto para importações da commodity, citando a firme demanda pelo cereal nos mercados doméstico e internacional.

Além do avanço das exportações, o milho tem registrado amplo uso interno nas indústrias de ração animal e etanol, pontuou a entidade, que vê o cenário como prova da “competência do produtor brasileiro”.

O Ministério da Agricultura anunciou na véspera uma suspensão até o final do ano das tarifas de importação de milho, soja, óleo e farelo da oleaginosa provenientes de países de fora do Mercosul, diante das elevadas cotações dos produtos.

Segundo comunicado da pasta, a reedição da medida –que já havia vigorado no início deste ano– reflete a quebra das expectativas de que os preços externos das commodities e a safra recorde de grãos em 2020/21 reequilibrariam oferta e demanda.

“As cotações internacionais tiveram comportamento de alta”, disse o ministério. “Além do cenário de preços não ter se confirmado… os preços internos seguiram em alta em virtude da forte demanda externa e da manutenção da desvalorização do real frente ao dólar.”

Na nota da Abramilho, o presidente da entidade, Cesario Ramalho, afirmou “ter certeza” de que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, saberá conduzir de forma hábil a questão tarifária junto ao governo, “como de praxe”.

O Brasil está terminando de colher a primeira safra do cereal em momento em que enfrenta estoques relativamente apertados, antes da chegada da colheita da segunda safra, a maior do país, em meados do ano.

Os preços internos têm tido sustentação também de preocupações com uma quebra da segunda safra do milho.

RISCOS POR SECA

A associação também ressaltou os riscos representados à segunda safra de milho 2020/21 pela seca vista em importantes áreas produtoras no centro-sul, afirmando que um cenário de baixo excedente exportável pode fazer com que a indústria local recorra às importações da commodity.

Segundo relatório elaborado pela Abramilho em conjunto com a consultoria Céleres, o aumento da área plantada para 15,2 milhões de hectares pode ser ofuscado caso a produtividade fique em torno de 4,8 toneladas por hectare, criando um panorama de baixo excedente para exportações.

“Caso este quadro se concretize, um rearranjo no consumo será necessário, seja via redução das exportações, do consumo interno ou até mesmo de ambos, fazendo com que especialmente as agroindústrias de carnes (suínos e frangos de corte) tenham que recorrer às importações de milho –insumo básico do segmento”, afirmou a entidade.

(Por Gabriel Araujo)

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