A Associação Brasileira dos Investidores (Abradin) protocolou uma reclamação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra o que considera um caso de insider trading (informação privilegiada) envolvendo instrumentos financeiros relacionados a ações da Petrobras horas antes do anúncio da demissão de Roberto Castello Branco da presidência da estatal. Um único investidor teria lucrado mais de R$ 16 milhões com essas operações.

A Abradin argumenta que existem indícios de que as operações tenham sido feitas por alguém com acesso privilegiado às informações da estatal. As movimentações foram realizadas no dia 18 de fevereiro e envolveram mais de 4 milhões de opções de compras de contratos de opção de venda de ações preferenciais da Petrobras.

A movimentação aconteceu logo em seguida a uma reunião com o presidente da República, Jair Bolsonaro, que optou pela demissão de Castello Branco.

+ Suspeita de insider da Petrobras já estava no radar da B3
+ Nova alta do petróleo reforça mudança na Petrobras, diz Bolsonaro
+ Guedes: Troca na Petrobras foi ‘satisfação política’ de Bolsonaro a caminhoneiros

Segundo o documento assinado pelo presidente da entidade, Aurélio Valporto, essa série de opções de venda envolveram os papeis da PETRN265, feitas a um valor unitário de R$ 0,04, totalizando um volume financeiro de R$ 160 mil. As ordens teriam partido da corretora Tullet Prebon e a série teria vencimento no dia 22 de fevereiro.

Ainda no dia 18, Bolsonaro reclamou, durante uma live, do preço do combustível e seus reajustes promovidos pela Petrobras. No dia seguinte, após o fechamento do mercado, ele anunciou a demissão de Castello Branco.

“Esta série de opções venceria no dia 22 de fevereiro, segunda-feira, portanto, quem abrisse posição no final do pregão do dia 18 somente teria o pregão do dia 19, uma sexta-feira, para desfazer-se da posição, uma vez que no pregão do dia do vencimento não é possível negociar as opções, apenas exercê-la ou deixar ‘virar pó’ [perder 100% do dinheiro investido, no caso do comprado] e apenas durante duas horas de pregão, das 11h às 13h”, diz a Abradin.

Na sexta, as ações preferenciais caíram 6,63% e desabaram na segunda-feira, quando desvalorizaram 26,7%, gerando para a estatal um prejuízo de R$ 102,5 bilhões em valor de mercado.

Você pode conferir a íntegra do processo aberto pela Abradin clicando aqui.

O investidor que realizou a operação ganhou uma grande quantia e o raciocínio da Abradin é descrito da seguinte forma: no dia 22 de fevereiro, dia de vencimento das opções, a ação da Petrobrás chegou a ser cotada a R$ 22,40 e o investidor comprou as opções de vender a R$ 26,50 por apenas R$ 0,04 no dia 18 de fevereiro. Caso tenha mantido sua posição até o exercício no dia 22, ele compraria as ações por até R$ 22,40 e as venderia por R$ 26,50, auferindo um ganho de R$ 4,10 por papel. Se descontarmos os R$ 0,04 gastos na compra do prêmio da opção, o ganho potencial foi de até R$ 4,06 por cada opção. Para o lote total de 4 milhões de opções que ele obteve inicialmente, o ganho potencial da operação descrita atinge R$ 16.240.000,00.

Agora, a CVM deve abrir uma investigação para apurar as possíveis irregularidades e definir qual medida será tomada no caso.

Atualização – na sexta-feira (5) a CVM confirmou o protocolo da reclamação, ao responder o pedido de esclarecimento pela reportagem da Dinheiro online, emitindo a seguinte nota: “O assunto objeto de seu questionamento está sendo analisado no Processo Administrativo CVM n° 19957.001646/2021-76. A Autarquia não comenta casos específicos”.