Um ambiente macroeconômico favorável, com juros baixos e inflação controlada, é necessário, mas não suficiente para garantir o desenvolvimento da indústria de transformação brasileira, que voltou a níveis de 30 anos atrás, disse nesta segunda-feira, 11, o diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini.

Além da estabilidade macroeconômica e medidas microeconômicas que reduzam as ineficiências do Brasil, é preciso uma reforma política e do Estado, defendeu o diretor da Abimaq. “Ineficiências sistêmicas levaram a uma forte destruição da indústria no Brasil”, disse o diretor da Abimaq, citando que aumentou a diferença tecnológica entre a indústria brasileira e a do exterior. É preciso uma política de Estado para recriar a indústria, ressaltou durante palestra no 14º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Bernardini observou que o Estado brasileiro se tornou disfuncional, tanto do ponto de vista político como administrativo. Entre os diversos problemas, o executivo mencionou que há excesso de partidos políticos, instituições conflitantes e politizadas, judicialização excessiva no País e burocracia pública ineficiente.

“Há 30 anos que a indústria brasileira não sai do lugar”, afirmou Bernardini. “Se houver consenso que o desenvolvimento precisa do setor industrial, o Brasil está fazendo errado há três décadas”, disse ele, ressaltando que o País passou por forte processo de desindustrialização nos últimos 30 anos. A participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 36% em 1985 para 10,8% em 2016.

A desindustrialização do Brasil ocorreu de forma rápida, destacou Bernardini. Ao mesmo tempo, o setor industrial da Coreia do Sul e outros países teve comportamento oposto e a participação da indústria de transformação no PIB aumentou. “Perdemos capacidade de competir nos mercados internacionais”, afirmou Bernardini. Além de perder espaço no exterior, a indústria brasileira perdeu espaço no mercado interno, por causa de concorrentes externos mais competitivos.

“A perda de nossa competitividade decorreu basicamente da manufatura brasileira deixar de ter preços competitivos”, disse o diretor. “A consolidação da China, como ‘fábrica mundial’ coincidiu com a perda de competitividade da manufatura brasileira.”

Ao comentar as causas da desindustrialização, o diretor da Abimaq ressaltou que a taxa de câmbio foi mantida apreciada ao longo dos últimos anos, reduzindo margens e competitividade da indústria brasileira. Outro fator foi a taxa elevada de juros, que desestimula investimentos e aumenta os custos de produção.