A Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) divulgou nesta segunda-feira, 29, uma carta aberta em defesa do Censo Demográfico e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que relata preocupação em relação à sucessão na direção do instituto. Na semana passada, a atual presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, pediu exoneração do cargo, um dia após o Congresso Nacional aprovar um corte orçamentário de mais de 90% na verba para a realização do Censo Demográfico neste ano.

“No momento em que a presidente do IBGE solicita sua exoneração, é fundamental que o cargo seja ocupado por pessoa com conhecimento sobre os temas de alta complexidade que são as funções do IBGE e que seja capaz de articular o vasto conhecimento acumulado pelo pessoal técnico altamente capacitado da instituição. Não seria aceitável que, nesse momento crítico, a presidência do IBGE fosse relegada a alguém que não tenha o conhecimento necessário para conduzir as atividades essenciais realizadas pela instituição, com destaque para o próprio Censo Demográfico”, ressaltou a Abep, na carta aberta.

Quando ainda era preparado, o censo foi orçado pela equipe técnica do IBGE em mais de R$ 3 bilhões, mas Susana anunciou em 2019 que faria o levantamento com R$ 2,3 bilhões. Em meio às restrições orçamentárias, o órgão decidiu que o questionário básico do Censo seria reduzido de 37 perguntas previstas na versão piloto para 26.

O questionário mais completo, que é aplicado numa amostra que equivale a 10% dos domicílios, encolheu de 112 para 77 perguntas. Com o adiamento de 2020 para 2021, o governo federal enxugou ainda mais o valor destinado ao censo no orçamento deste ano enviado ao congresso, para R$ 2 bilhões.

Após a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) na Comissão Mista de Orçamento (CMO), a verba foi reduzida para apenas R$ 71,7 milhões, inviabilizando o levantamento censitário, que envolve mais de 200 mil trabalhadores temporários e visitas aos cerca de 71 milhões de domicílios do País.

Realizado a cada dez anos, o Censo Demográfico deveria ter ido a campo em 2020, mas foi adiado para este ano em função da pandemia do novo coronavírus.

“Esta operação censitária necessita de recursos que sejam adequados para a sua realização com segurança sanitária, de acordo com a complexidade operacional em um país continental e diverso como o Brasil e dentro do cronograma que o momento exige. Os cortes no orçamento do Censo representam um enorme risco a um levantamento consistente e exaustivo pelo território nacional. Sua inviabilização operacional seria uma afronta à população brasileira, à democracia, aos gestores públicos, aos técnicos do IBGE, aos analistas de mercado e aos centros de pesquisa e universidades. Os cortes que vêm sendo impingidos no Censo devem ser revertidos, restabelecendo-se os valores inicialmente previstos para sua realização plena”, defendeu a Abep.