O presidente russo, Vladimir Putin, recebe o premiê japonês, Shinzo Abe, nesta terça-feira (22), para negociações que se anunciam como difíceis sobre as ilhas Curilas, disputadas por ambos os países.

As quatro ilhas vulcânicas – Curilas do Sul, para os russos, e Territórios do Norte, para o Japão – foram anexadas pela então União Soviética ao fim da Segunda Guerra Mundial, mas Tóquio reivindica sua soberania desde esta época.

A disputa territorial impediu, até agora, a assinatura de um tratado de paz entre os dois países, embora tenham restabelecido suas relações diplomáticas em 1956.

“As negociações com a Rússia foram um desafio durante mais de 70 anos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e este desafio nunca foi fácil”, declarou Abe na segunda-feira, antes de embarcar rumo a Moscou.

Essa também é a opinião do assessor do Kremlin Yuri Ushakov: “as negociações não serão fáceis”.

“O presidente russo disse, desde o início, que a conclusão de um tratado de paz com o Japão é um processo muito estendido no tempo”, disse ontem o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

“Temos a intenção de fazer todo o possível para reduzir e minimizar esse tempo ao máximo, mas se tem que entender que é simplesmente impossível reduzi-lo indefinidamente e resolver esta questão em um minuto”, insistiu.

As tensões entre Moscou e Tóquio sofreram uma escalada, após uma declaração de Shinzo Abe durante seu discurso de Ano Novo. O presidente mencionou a necessidade de ajudar – segundo ele – os moradores russos das Curilas do Sul “para que entendam e aceitem o fato de que a soberania de seus territórios iria mudar”.

Esta declaração causou mal-estar em Moscou, que convocou o embaixador do Japão. A Rússia acusa seu vizinho de “deformar” o conteúdo dos acordos entre Vladimir Putin e Shinzo Abe e de querer “impor seu próprio roteiro”.

Em sua entrevista coletiva anual, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou, porém, que Moscou e Tóquio estão “longe de serem sócios, não apenas nas relações internacionais, mas também no fato de encontrar vias construtivas para melhorar nossas relações”.

No Facebook, o opositor de esquerda Serguei Udaltsov afirmou que 11 manifestantes foram detidos nesta terça de manhã em uma manifestação, perto da embaixada do Japão, em Moscou, para denunciar uma possível cessão das ilhas. No domingo, centenas de russos protestaram contra essa possibilidade.

Segundo uma pesquisa do instituto Levada, 74% dos russos interrogados em dezembro se opõem à cessão das ilhas.

Para o analista Dimitri Trenin, entrevistado pelo periódico Vedemosti, a assinatura de um tratado de paz será possível apenas com o apoio “de uma ampla maioria da opinião na Rússia e no Japão”.

O Kremlin – avalia Trenin – deve demonstrar o interesse geral desse acordo, ou perder uma rara oportunidade de reforçar seus laços com Tóquio.

A posição das autoridades russas é firme. O Japão deve, antes de tudo, aceitar as consequências da Segunda Guerra Mundial e sequer contempla uma mudança de soberania.

A assinatura de um tratado de paz é “um trabalho muito meticuloso, muito complicado”, lembrou Peskov ontem, acrescentando que “ninguém renunciará a seus interesses nacionais”.