Os empresários decidiram voltar à sala de aula para reaprender a exportar seus produtos. De norte a sul do País, os exportadores estão lotando cursos oferecidos por entidades como o Banco do Brasil e Aduaneiras. De lápis e caderno na mão, querem saber da liturgia da documentação às técnicas para obter financiamento nos bancos. Um interesse que pode ser medido pelo aumento do número de cursos oferecidos pela Aduaneiras, entidade especializada em cursos e publicações na área de comércio exterior. Em 1994, 2.784 pessoas participaram de seus 114 cursos. No ano passado, o número dobrou: 5.661 pessoas procuraram 294 cursos. Os empresários pagaram até R$ 240 para aprender estratégias de negociação, detalhes sobre acordos comerciais, marketing de produtos, logística de distribuição e cálculos de custos da exportação. ?Os exportadores querem se atualizar?, diz Valéria Valente, gerente de eventos da Aduaneiras.

O Banco do Brasil, líder no financiamento do comércio exterior, cobra dos exportadores entre R$ 120 e R$ 130. Em um ano, o BB ofereceu 186 cursos de comércio exterior para 3.500 empresários e executivos. ?Temos desde empresas que nunca exportaram até veteranas, que precisam treinar funcionários?, diz Delmar Nicolau Schmidt, gerente-executivo da área internacional do Banco do Brasil.

Um dos alunos do BB é a Seara, tradicional exportadora de congelados. No ano passado, os funcionários da área de exportação da empresa aprenderam durante dois dias os detalhes burocráticos da documentação necessária para a exportação. Notas fiscais, faturas, certificados sanitários, cada documento foi esmiuçado pelos professores. O detalhamento faz sentido. Informações desencontradas na papelada fazem com que o produto tenha a liberação adiada no país de destino, atrasando o pagamento ao exportador. Na Seara, o problema foi resolvido com o treinamento. ?Agora, todas as áreas conhecem todo o processo de exportação e podem solucionar problemas rapidamente?, diz Márcio Mesquita, gerente da área financeira da Seara, que exportou 3 mil toneladas de produtos para a Rússia no ano passado.

Na sala de aula, os exportadores aprendem até mesmo técnicas para obter dinheiro mais rápido dos bancos para financiar suas vendas. Essa foi uma das disciplinas procuradas no ano passado pelos executivos da Clo Zirone, uma empresa mineira que se especializou na fabricação de perfuradores hidráulicos para fundações na América Latina. No curso, o gerente-financeiro Wesley de Abreu e a chefe da área de comércio exterior Angelica dos Anjos aprenderam todos os detalhes burocráticos das quatro principais linhas de crédito disponíveis no mercado para a exportação.

Durante a exposição, os professores alertaram os alunos-exportadores quais são os cuidados básicos para evitar que o importador deixe de pagar o financiamento obtido na compra de um produto. Lições que a empresa vai transformando em lucros. Suas exportações saltaram de US$ 600 mil em 1998 para US$ 950 mil no ano passado. Este ano, a empresa já vendeu US$ 850 mil para o exterior, mais da metade da meta anual de US$ 1,2 milhão.