Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar abandonou as perdas vistas mais cedo e fechou em alta contra o real nesta quarta-feira, quando a desvalorização recente da divisa atraiu uma onda de compras, enquanto investidores continuavam à espera de dados norte-americanos e de decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos.

A moeda norte-americana à vista fechou em alta de 0,70%, a 5,0704 reais na venda, e chegou a tocar 5,0870 reais na máxima do dia, alta de mais de 1%.

Mas, nos primeiros minutos de pregão, o dólar spot havia apresentado queda contra o real, chegando a tocar 5,0188 reais na venda na mínima do dia, queda de aproximadamente 0,32%.

“O IPCA mais forte que o esperado ajudou a moeda buscar mínimas (…), porém, logo nas primeiras horas de pregão, ela inverteu sinal e começou a subir com compras por partes de tesourarias bancárias e importadores, atraídos pelo preço ‘barato’ do dólar”, disse em nota Guilherme Esquelbek, da Correparti Corretora, sobre o movimento desta quarta-feira.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informou pela manhã que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,83% em maio, resultado mais forte para o mês desde 1996 (1,22%), ficando acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,71%. Com isso, o índice acumulado em 12 meses disparou a 8,06%, de 6,76% em abril. A expectativa era de alta de 7,93%.

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, chamou a atenção em post no Twitter para o impacto que os dados podem ter na postura do Banco Central, cujo Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 15 e 16 de junho: “com a inflação em 8,06% em 12 meses, o BC vai precisar ser mais firme para ancorar as expectativas”.

Segundo ela, a autarquia deve, além de confirmar uma alta de 0,75 ponto percentual na taxa Selic em seu próximo encontro, “contratar” mais uma alta da mesma magnitude para o seguinte, e provavelmente deixar de usar a expressão “ajuste parcial”.

O termo “normalização parcial”, adotado pelo Banco Central, indica a intenção de ainda se manter um estímulo à economia, com os juros mais altos mas abaixo do patamar considerado neutro.

A perspectiva de uma política monetária mais dura no país é um dos fatores que colaborou para a desvalorização recente da moeda norte-americana para perto dos 5 reais, segundo especialistas. Na terça-feira, o dólar à vista fechou em 5,0352 reais na venda, em seu menor patamar de encerramento desde 10 de junho de 2020 (4,9398 reais).

“Bastou ajustar o juro à realidade brasileira –e serão necessárias novas elevações– para o dólar perder suporte e ajustar seu preço (…)”, disse em nota Sidnei Moura Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora. Para ele, a moeda norte-americana teria espaço para ir a patamares bem abaixo dos 5 reais caso a Selic fosse elevada e se colocasse acima da inflação.

Enquanto isso, no cenário internacional, os investidores estavam à espera da divulgação de dados norte-americanos sobre a inflação, em meio a expectativas sobre a reunião de política monetária do Federal Reserve, que se encerra na quarta-feira que vem. Os agentes dos mercados ficarão de olho em qualquer sinal de superaquecimento da maior economia do mundo.

Embora várias autoridades do banco central norte-americano tenham afirmado repetidas vezes que enxergam as pressões inflacionárias nos Estados Unidos como temporárias, outras já começaram a reconhecer que estão mais próximas de um debate sobre quando retirar parte de seu nível de apoio à economia.

Uma manutenção da postura expansionista do Federal Reserve tende a beneficiar ativos de países emergentes, uma vez que os investidores estrangeiros vão buscar rendimentos mais altos fora dos Estados Unidos.

O principal contrato de dólar futuro, negociado na B3, avançava 0,63%, a 5,080 reais.

(Por Luana Maria Benedito; edição de Isabel Versiani)

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