Na semana passada, a América Latina deu novamente mostras de que a síndrome das “republiquetas de bananas” não está totalmente superada na região. O presidente do Equador, Rafael Correa, teve que se esconder em um hospital e ser resgatado pelo Exército para poder voltar ao palácio presidencial. 

 

Fez isso depois de ser atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo, lançada por policiais que protestaram contra cortes de bônus e benefícios. A revolta dos policiais é apenas um sinal do descontentamento de parte da população com o governo “bolivariano” de Correa. É um estilo que tem inspiração em Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que conquistou a boa vontade dos vizinhos ao oferecer petróleo a preços e condições subsidiadas. Eleito para o segundo mandato no ano passado, Correa chegou a ter 70% de popularidade no primeiro governo, com um discurso de resgate da soberania nacional com moratória da dívida externa e renegociação de contratos. 

 

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Choro de um presidente: Rafael Correa foi atingido por bombas de gás lacrimogêneo, 
lançadas por policiais descontentes com cortes nos benefícios

 

Mas escândalos envolvendo favorecimento de amigos e familiares com contratos públicos já derrubaram sua aprovação para menos de 40% logo no início do segundo mandato. O venezuelano Hugo Chávez é o expoente maior do bolivarianismo – referência a Simon Bolívar, herói da libertação da América espanhola – mas também está percebendo seus limites.

 

Na Venezuela, Chávez voltou a sentir o que é ter oposição. Em 2005, os partidos não chavistas boicotaram a eleição e, ao contrário do que esperava, fortaleceram o presidente, que aprovou tudo o que queria no parlamento. No sábado 25, os opositores conseguiram se rearticular e conquistar nas eleições parlamentares 65 das 163 cadeiras da Assembleia. Foi o melhor resultado desde que Chávez chegou ao poder, em 1999, e representa uma chance real de desafiar o presidente na eleição de 2012. 

 

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Musa na oposição: Maria Corina Machado, criadora de uma ONG que defende a democracia, 
foi eleita ao Parlamento para fazer frente a Chávez

 

Entre os eleitos, uma musa. Maria Corina Machado, que ficou famosa na Venezuela como criadora da ONG Sumate, criada em 2000 para defender a democracia. A rearticulação da oposição na Venezuela, com a eleição de um terço do Parlamento, é apenas um dos indicadores de que o poder de Chávez já não é hoje o mesmo do passado. 

 

O mais forte indicador de seu enfraquecimento é a situação da economia. Apesar dos bons preços do petróleo e da elevada receita obtida com as exportações, o país deixou de reinvestir na PDVSA, que está sucateada e reduziu sua produção em mais de 30% nos últimos anos. O bom momento da economia latino-americana, que este ano deve crescer acima da média mundial, também não incluiu a Venezuela. O país, que no ano passado sofreu com uma queda de 3,3% no PIB, deve ter nova contração este ano, estimada pelo FMI em 2,6%. Já a inflação, que ficou em 27% em 2009, deve fechar em 29% este ano.