Apenas 0,8% de quase 17 milhões de websites no Brasil são acessíveis para pessoas com alguma deficiência, segundo dados da BigCorp Data produzidos para o Movimento Web para Todos. Isso significa um contingente de 45 milhões de pessoas. Uma Argentina. Para enfrentar esse universo de exclusão digital, a startup de origem israelense EqualWeb chegou ao país. “A tecnologia dá escala e velocidade na resolução de grandes e complexos problemas da sociedade”, afirmou à DINHEIRO Jaques Haber, sócio e head de Impacto da empresa no Brasil, cujo propósito é “democratizar o acesso às informações, possibilidades e oportunidades que a web oferece”.

A EqualWeb trabalha com um portfólio de 31 soluções – que vão de Comando de Voz (ferramenta para pessoas com limitação motora, ausência de braço ou mãos, paralisia ou deficiência visual) até Descrição de Imagem (essencial a pessoas com deficiência visual). No desenvolvimento das ferramentas, a empresa utiliza inteligência artificial e machine learning, tornando a adaptação dos sites mais barata, simples e rápida. Os pacotes variam de R$ 590 a R$ 5.999. As operações começaram efetivamente há seis meses e a startup já opera com lucro. “Fecharemos o primeiro ano de operação com receita um pouco superior a R$ 1 milhão”, disse Haber, que é casado com uma cadeirante. “Em 2022 queremos quadruplicar esse resultado.”

Além dele, há outros três sócios, todos com 25% de participação cada – Edmundo Fornasari (head Institucional), Marcelo Herskovitz (head de Marketing) e Ricardo Hechtman (head de Inovação). Do ponto de vista de ausência de acessibilidade, o universo digital brasileiro é uma espécie de Oceano Azul de oportunidades. A questão está contemplada no Estatuto da Pessoa com Deficiência, lei de 2015 que, em seu artigo 63, diz que é “obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo”. Isso tem impulsionado o mundo corporativo a se adequar também digitalmente. Hoje, a EqualWeb já tem clientes do porte de Basf, Coca-Cola e Motorola.

PROTAGONISMO Ainda assim, não é todo o mundo corporativo que dá atenção adequada ao tema. “Muitas empresas nem sequer enxergam a inclusão digital como algo relevante”, afirmou Haber. “Isso se evidencia quando não há interlocutores designados para implementar estratégias inclusivas.” Para ele, ainda que as metas ESG estejam atraindo a atenção das grandes companhias, a acessibilidade digital, pelo menos por ora, não é entendida como parte desta agenda. Isso não assusta o time da EqualWeb. O próprio Haber atua há 22 anos como empreendedor e consultor na área de inclusão e lembra que o tema não estava na agenda do mundo corporativo. “Hoje existem heads de DE&I (diversidade, equidade e inclusão).” Para ele, o mesmo paralelo vai se aplicar em relação à acessibilidade digital. A EqualWeb quer ser mais que pioneira. Busca o protagonismo dessa agenda.

ENTREVISTA: Jaques Haber sócio e head de Impacto

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Como evitar no universo digital a visão capacitista e não de acessibilidade, muito comum no mundo não virtual?
O capacitismo nada mais é do que um preconceito similar a tantos outros, como o racismo, a homofobia, a misoginia ou a xenofobia, e evidencia nossa dificuldade em tratar como iguais pessoas com alguma deficiência.

Atrapalha a agenda?
O capacitismo deixa em segundo plano o debate essencial: tornar o mundo mais inclusivo. Sobre ofertar igualdade de oportunidades numa sociedade com grande diversidade de pessoas. Isso vale igualmente para o universo digital.

Quais as soluções de vocês que são mais demandadas?
O Brasil tem hoje 35,5 milhões de pessoas com deficiência visual. É um grupo que demanda uma atenção prioritária.

Do Brasil de hoje, qual sua percepção mais forte?
Um momento de otimismo, de muitas oportunidades, mas muito a se fazer também.

Do Brasil de amanhã, o que você espera?
A superação das enormes desigualdades. Espero também que venha a ser protagonista mundial de inclusão e acessibilidade.

Houve algum momento em que pensou desistir?
Desistência não faz parte da minha vida. Aprendi com a minha mulher, Andrea Schwarz, que passou a usar a cadeira de rodas aos 22 anos, que a vida pode nos oferecer obstáculos, mas há sempre formas de superação.

Disrupção é…
Trazer soluções para um mundo inclusivo e acessível.

Qual legado a EqualWeb quer buscar e deixar?
Ajudar o Brasil a ocupar as primeiras posições globais de acessibilidade digital.

A palavra que vai definir 2022 será…
Superação.