Já está precificada, nas análises da maioria dos economistas e das instituições financeiras, a possibilidade — crescente a cada dia — de um PIB brasileiro próximo de zero. Talvez até negativo. Nessa toada, o País volta a flertar com a recessão que já castigou a economia recentemente. O cenário de paralisia está posto em meio aos riscos de quarentena generalizada da população e das empresas. Fábricas já vêm parando. O mesmo ocorre com o comércio, os serviços, os investimentos. O Brasil e o mundo tapam a respiração, à espera do fim da pandemia. E ela ainda não tem data para acabar. Os mais otimistas falam numa virada completa da curva somente a partir de agosto. E aí o ano estará praticamente perdido. Não se religa engrenagens de um momento para o outro. Por aqui, ainda se acumulam a apatia política, os atrasos nas reformas estruturais e (não menos importante) as eleições que tendem a desvirtuar prioridades do Executivo e do Legislativo. São fatores, todos negativos, que pesam na balança de expectativas do mercado. O distanciamento social em escala gigantesca e o que ele acarreta estão a exigir das autoridades econômicas um socorro financeiro na mesma proporção. É economia de guerra e a decretação de calamidade abre espaço legal para que despesas extraordinárias do setor público sejam acionadas em nome da coletividade. O Banco Central já entrou em ação com medidas de corte nos juros e leilões cambiais que, ao menos, atenuam os impactos da pandemia. As medidas propostas pelo ministro da economia, Paulo Guedes, que somadas alcançam a cifra de R$ 147 bilhões, foram inicialmente classificadas como tímidas. Por uma parte, devido à ausência quase completa de dinheiro novo. Foram feitos remanejamentos orçamentários na maioria. Outra crítica contundente foi quanto à ausência de verbas específicas para atender ao impacto no sistema de saúde. Serão necessários mais leitos e máquinas de oxigenação de UTIs, ampliação de unidades e infraestruturas de remédios, não previstos na dotação inicial. Também ficaram de fora os chamados trabalhadores informais, que vivem de bico e de serviços temporários em áreas que praticamente pararam. Esse contingente de pessoas corre o risco de passar meses com ausência absoluta de recursos para ter até o que comer. Vouchers extraordinários estão sendo cogitados, mas ainda será muito pouco diante da avalanche de necessidades que se apresenta para esse público de desassistidos. O drama do desemprego aliado à hecatombe do coronavírus castigará principalmente a parcela da População Economicamente Ativa (PEA) que vive com menos de um salário mínimo por mês e representa mais da metade do universo da força produtiva do País. A ela deverão ser orientados os maiores esforços. Do contrário, a recessão terá um impacto irreversível e de longo prazo por essas bandas.