O insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar com mais inteligência. O ensinamento atribuído a Henry Ford é um dos muitos que envolvem o mundo corporativo. Das lições teóricas à prática, a Nokia recomeça a comercialização de celulares no Brasil. A multinacional finlandesa foi uma das gigantes da telefonia mundial, com seu auge nos anos 1990 e 2000, quando permaneceu por mais de uma década como a maior fabricante do mundo. Fruto de produtos – grandes e pesados para as referências atuais – considerados confiáveis e de qualidade, aliado a uma forte atuação de marketing. A empresa entrou em declínio com o lançamento dos smartphones, com seus sistemas iOS e Android. Sem acompanhar o mercado, perdeu sua pompa e diminuiu. Praticamente sumiu. A retomada começou em 2011 com uma parceria estratégica com a Microsoft, que comprou a divisão de celulares da Nokia em 2016 – acordo abandonado em seguida. Dois anos depois, os aparelhos da marca voltaram a ser comercializados por meio de licenciamento com a HMD Global, também da Finlândia, que recebeu recentemente US$ 230 milhões de parceiros para expandir seus negócios mundialmente. No Brasil, as vendas retomaram em maio, com a Multilaser, parceira comercial e de montagem dos telefones.

O País é uma das prioridades da empresa e tem recebido parte desse aporte. “O Brasil é um mercado prioritário para a HMD, e uma das regiões que usaremos os investimentos para aumentar as nossas operações”, afirmou Junior Favaro, diretor da HMD Global no Brasil.

Mas esse otimismo é para o futuro. No presente, os aparelhos Nokia ainda não aparecem na relação dos mais usados por aqui. Dados da consultoria StatCounter, que mensura os acessos à internet feitos por modelos de aparelhos no Brasil, mostra um mercado liderado por Samsung (44,4%), Motorola (21,3%) e Apple (14,1%). Com 0,1% de market share, a Alcatel – adquirida pela Nokia em 2016, é a nona e última colocada entre as marcas nominalmente citadas no estudo. A HMD não revela resultados das vendas no País, mas afirma que os três modelos – Nokia 5.3, Nokia 2.3 e Nokia C2 – estão sendo “recebidos positivamente” pelos clientes.

Com esse feedback, a HMD já iniciou a montagem da estrutura no Brasil voltada para a área administrativa, com foco em marketing e negócios. “Esperamos aumentar nossa presença no País ao mesmo tempo que aumentarmos a experiência com os celulares Nokia”, disse Favaro. No campo de estratégia de vendas, a finlandesa vai fortalecer a presença em canais digitais como Mercado Livre e Amazon, além de varejistas como Magazine Luiza, Carrefour e Via Varejo. Uma das apostas recentes é a parceria com o marketplace Webfones para comercialização de smartphones e entrega da Rappi. Temos planos para continuar em expansão pelo País, sempre com o objetivo de democratizar o acesso à tecnologia. No Brasil, essa estratégia com foco no on-line tem sido crucial, por conta do momento em que chegamos ao mercado. Até agora, a estratégia funcionou muito bem e continuaremos nos concentrando em expandir nossa presença nos canais digitais, que representam hoje mais de 86% das nossas vendas. O plano ainda inclui a chegada, em breve, dos celulares Nokia na categoria feature phones – mais simples, com poucos recursos –, em que a companhia tem 20% da fatia global. “Nosso objetivo é democratizar a tecnologia, trazendo smartphones acessíveis que ficarão melhores com o passar do tempo”, afirmou. “Há espaço para o crescimento da Nokia. O consumidor está cada vez mais focado em custo-benefício. As empresas têm se movimentado para praticar preços compatíveis”, disse Felipe Moraes, gerente de CX e Operações da Komus, plataforma de seguros para celulares.

INFRAESTRUTURA Se a divisão de smartphone da Nokia está em franco recomeço, o setor de infraestrutura e redes de telecomunicações segue solidificado. No Brasil, atende as principais operadoras (Claro, Vivo, TIM e Oi) e as pequenas. “De cada duas conexões de internet feitas no Brasil, uma passa pelas redes da Nokia”, afirmou Wilson Cardoso, diretor de Soluções da Nokia para a América Latina. O parque industrial da companhia tem capacidade para produzir 4 mil estações de rádio base por mês, o dobro do vendido por todos os fornecedores hoje. Uma condição que lhe dá tranquilidade para o aumento de demanda advinda do 5G, a partir do ano que vem. “Esperamos continuar com presença forte junto às grandes operadoras, expandir com as de pequeno porte com as frequências regionais e avançar em redes privativas, em que somos líderes no 4G”, afirmou Cardoso. A expectativa é positiva para ampliar a receita da companhia, que atingiu 23,3 bilhões de euros em 2019, sendo 1,47 bilhão de euros na América Latina.