A pandemia impactou a aviação comercial de forma dramática, com 2020 entrando para a história como o pior ano do setor. O mesmo não se pode dizer do mundo dos jatos privados. O segmento ganhou impulso com cancelamento de voos das grandes companhias aéreas e a preocupação com o distanciamento social. No mercado do turismo de luxo, roteiros exclusivos que já eram operados antes da pandemia foram relançados recentemente com transporte por aeronaves adaptadas ou completamente novas. É o caso dos roteiros de volta ao mundo criados pela rede hoteleira de luxo Four Seasons. As viagens, ultraexclusivas, começaram a ser operadas em 2015, a bordo de um Airbus completamente personalizado, e estão sendo relançadas neste ano com a chegada de uma nova aeronave, um A321 neo-LR adaptado para apenas 48 assentos. Além de considerar ideias sugeridas por clientes de viagens anteriores, a configuração da cabine segue os protocolos sanitários definidos para conter a propagação do coronavírus.

Os cuidados a bordo para prevenção da Covid-19 incluem um sistema de filtragem de ar da cabine com padrão hospitalar: a cada três minutos, o ar é renovado, com remoção de 99,9% das partículas, vírus e bactérias presentes. As medidas também incorporam a distribuição de kits de higiene pessoal a passageiros e tripulantes. Com um médico a bordo, as avaliações de saúde dos passageiros serão constantes em todos os itinerários.

Com espaço individual de 2 metros em cada poltrona, o Four Seasons Private Jet tem a cabine mais alta e larga de sua categoria. As refeições servidas durante o voo serão preparadas por um chef executivo, com base nas preferências e restrições alimentares dos passageiros. Aulas de cultura, arte e gastronomia também fazem parte da programação a bordo. Embora os efeitos da pressurização prejudiquem o prazer de degustar bons vinhos, a aeronave é equipada com uma adega repleta de rótulos premium e uma mesa com balde de espumantes.

Para complementar a exclusividade, até os roteiros são flexíveis, com a possibilidade de redirecionar o jato caso problemas com o coronavírus mudem as circunstâncias nos destinos. Antes de chegar a cada local de parada, os passageiros vão poder organizar suas atividades em solo com a ajuda de um concierge. Cada trecho da viagem tem uma série de excursões já planejadas e várias possibilidades de customização de passeios de acordo com interesses individuais. É possível, por exemplo, acompanhar o cultivo de café em uma fazenda na Colômbia, embarcar em um cruzeiro particular nas Ilhas Galápagos, visitar a linha de produção do Boeing 787 na fábrica, em Seattle, ou ter uma aula de manejo de katana, a espada dos samurais, em Quioto, no Japão.

Foram lançados quatro programas com duração entre duas e três semanas. Um deles vai partir de Atenas, na Grécia, em dezembro deste ano, em direção à África, com excursões seguindo os passos dos gorilas na selva em em Ruanda. Na mesma jornada, um passeio de balão vai sobrevoar a vegetação do Serengueti, na Tanzânia. Outra viagem, com partida em março, vai ligar o Havaí a Londres e passar por Bora Bora, no Tahiti, com mergulho para observação de arraias e tubarões-da-lagoa. Na Austrália, um passeio privado desvenda os bastidores da Ópera de Sydney e, na Índia, uma parada de um dia no Taj Mahal promete desvendar suas linhas arquitetônicas.

CORAIS E PIRÂMIDES O último roteiro parte de Miami rumo ao México. Parece uma viagem curta? Não se entre um ponto e outro o avião pousar na Ilha de Páscoa, que poderá ser percorrida a cavalo, e de lá partir para a Austrália, onde a Grande Barreira de Corais será explorada em aulas de mergulho. Ainda no msmo trajeto estão as Pirâmides de Gizé, no Egito, que serão visitadas na companhia de guias especializados.

Combinar aventura e distanciamento social em roteiros de sonho tem um preço. Neste caso, a partir de US$ 104,5 mil por pessoa, ou cerca de R$ 560 mil. Para quem pode pagar, as viagens em jatos privados parecem a solução perfeita para conhecer o mundo pós-Covid.