O papa Francisco terá uma agenda lotada para sua visita histórica ao Iraque a partir de sexta-feira (5), que inclui alguns dos locais mais emblemáticos do país.

– Bagdá, a fortaleza –

Na sexta-feira, o papa fará um discurso na Catedral de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro central de Karrada, em Bagdá.

Em 31 de outubro de 2010, os jihadistas da Al-Qaeda realizaram neste local o pior sequestro contra cristãos do Iraque: 44 fiéis, dois padres e sete membros das forças de segurança morreram no ataque.

Os vitrais foram substituídos por placas de vidro com os nomes das vítimas e acima do altar pode-se ler: “Onde está sua vitória, morte?”

Hoje, há cada vez menos fiéis, e as portas são protegidas por grandes blocos de concreto.

Para a visita do papa, esses blocos foram pintados com a bandeira do Iraque e retratos do pontífice.

– Nayaf, a cidade santa –

O papa argentino, em um novo movimento de reaproximação com o Islã, visitará Najaf, 150 quilômetros ao sul de Bagdá.

A cidade de 1.230 anos é um dos locais xiitas mais importantes, pois abriga o mausoléu com cúpula dourada do imã Ali, genro do profeta Maomé e figura fundadora do Islã xiita.

Sob controle otomano até 1915, e depois sob domínio britânico, apesar das revoltas clericais, a cidade só foi capaz de celebrar suas peregrinações depois da invasão dos Estados Unidos em 2003.

Antes, o presidente Saddam Hussein proibia as concentrações.

No sábado, um encontro excepcional acontecerá em Najaf: o chefe de 1,3 bilhão de católicos, o papa Francisco, de 84 anos, será recebido pelo grande aiatolá Ali Sistani, a máxima autoridade religiosa da maioria dos xiitas do Iraque e de numerosos xiitas no mundo.

Este líder religioso de 90 anos, de aparência frágil e longa barba branca, não tem sido visto em público e recebe muito poucos dignitários em sua casa.

Tudo isso torna esta “visita pessoal” ainda mais solene e excepcional.

– Peregrinação de Abraão –

Será o momento mais espiritual da visita e a principal razão pela qual o papa Francisco insistiu em visitar o Iraque: Ur, a cidade natal do patriarca Abraão segundo a Bíblia, é conhecida como “Ur dos Caldeus” no livro sagrado.

Nesta cidade, localizada na província meridional de Zi Qar, o papa rezará no sábado com muçulmanos, yazidis e sabeus, dois monoteísmos que surgiram antes do cristianismo.

O local, atualmente em ruínas, foi fundado no sexto milênio a.C e se tornou uma das cidades mais importantes da Mesopotâmia Suméria.

Seu principal monumento é o “zigurate”, uma estrutura piramidal de vários níveis, descoberta no final da década de 1930.

– Mossul e Qaraqosh, depois do EI –

A província de Nínive (norte) é o berço dos cristãos do Iraque. A capital desta província, Mossul, esteve durante três anos, até 2017, sob o jugo do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

Em Mossul, o papa Francisco visitará a Igreja Al Tahira no domingo. Os primeiros escritos que a mencionam são do século XVII, mas de acordo com vários historiadores, o templo poderia ter sido construído mil anos antes.

Nos combates para expulsar os jihadistas em 2017, o telhado desabou, mas o portal com colunatas e as entradas laterais ainda estão de pé.

Atualmente, a Unesco está reformando, assim como outras igrejas e mesquitas do centro histórico da cidade.

No mesmo dia, o pontífice visitará Qaraqosh, cerca de 30 km mais ao sul. Esta cidade, cuja existência remonta a antes do Cristianismo, é habitada por uma maioria cristã, que fala uma forma moderna de aramaico.

Destruída em grande parte pelo EI, a cidade está hoje sob tensão devido à presença de vários grupos armados, ligados ao Estado.

– Erbil, o refúgio –

Erbil, capital do Curdistão iraquiano, no norte, será talvez uma das etapas mais agradáveis de sua viagem.

No domingo, ele presidirá uma missa ao ar livre em um estádio, na qual já se inscreveram milhares de fiéis.

Embora Erbil seja um feudo curdo, a cidade abriu suas portas para centenas de milhares de cristãos, yazidis e muçulmanos, fugindo do EI.

Nesta cidade, fundada há mais de 4.000 anos, encontra-se uma imponente cidadela, tombada pelo patrimônio mundial da Unesco desde 2014.