A Disney fez um estardalhaço mundial, em 2017, quando anunciou a criação de uma plataforma própria de streaming. Por enquanto apelidada de Disneyflix, o serviço, que será focado nas produções internas para TV e cinema, entrará no ar em 2019, no país americano. Agora, a empresa criada por Walt Disney está próxima de dar uma passo ainda maior no mundo digital. Assim que os acionistas da 21st Century Fox aprovarem a aquisição dos ativos da área de entretenimento da companhia, por US$ 71,3 bilhões, a Disney terá criado um império que buscará barrar os avanços de gigantes de serviços online como Netflix e Amazon. “A combinação da coleção de negócios e franquias da Disney e da Fox nos permitirá criar um conteúdo de alta qualidade e mais atraente, além de expandir nossas ofertas diretas e presença internacional”, afirmou Robert Iger, CEO da The Walt Disney Company, na última divulgação de resultados.

Para se ter uma ideia do que a junção das empresas significa para o mercado de entretenimento, Disney e Fox devem passar a controlar cerca de 40% da bilheteria de cinema dos Estados Unidos. “Como uma das principais marcas do entretenimento, a Disney é quem dispõe de mais recursos de conteúdo, como Marvel, Pixar e Star Wars. Essas franquias são mundos paralelos, que podem ser aproveitadas em diversas áreas”, diz Zach Fuller, analista da consultoria britânica Midia Research, sobre a capacidade de trabalhar os icônicos personagens também para diversas linhas de produtos.

Nova força: a equipe de super-heróis dos X-Men (à esq.) passa a fazer parte do universo Disney, comandado por Robert Iger (à dir.), que selou o acordo com Rupert Murdoch, da Fox

Com a aquisição, a Disney consegue o fôlego necessário para acelerar seu processo de transformação digital. Juntas, as empresas assumiriam o controle majoritário do Hulu, com 60% das ações do serviço de streaming que mais ameaça o poderio da Netflix atualmente (não há informações sobre a chegada dele ao Brasil). Com a criação do streaming próprio em 2019, a empresa irá retirar todo o conteúdo presente hoje na Netflix, com exceção apenas para o catálogo de filmes e séries de super-heróis da Marvel, e não abastecerá mais a plataforma rival.

Segundo analistas, as novas tendências de consumo reduziram o número de assinantes de TV nos Estados Unidos, que migraram para serviços sob demanda nos últimos anos, em razão de um custo-benefício mais atrativo. “Mas há muitas áreas de entretenimento muito importantes, como esportes e notícias, em que as plataformas de vídeo sob demanda ainda têm um desafio significativo. Estas áreas parecem oportunas para os negócios da Disney”, afirma Fuller. Para desbravar essas novas possibilidades, a Disney lançou, em abril, o ESPN+. Primeira iniciativa de streaming da empresa, a tendência é que o serviço disponibilize cerca de 10 mil eventos esportivos ao vivo, além de programas exclusivos e documentários, como a série vencedora do Oscar em 2017 sobre ex-jogador de futebol americano O. J. Simpson, que assassinou a ex-mulher em 1994. “Olhando para as ações que a Disney tem realizado nos Estados Unidos, esse seria um movimento mais de encontro às tendências de consumo”, diz Ian Whittaker, analista da britânica Liberum.

O Departamento de Justiça (DoJ) americano avalizou a união entre Disney e Fox, considerada a segunda maior fusão de empresas de entretenimento, atrás de Aol e Time Warner (leia o quadro abaixo). A condição imposta pelo DoJ é a venda 22 emissoras esportivas regionais – já que a aquisição criará um monopólio do mercado de transmissão de jogos e de direitos de transmissão, com as franquias ESPN e Fox Sports. Com o acordo, a Disney ainda assumirá as dívidas da Fox, avaliadas em US$ 13,8 bilhões. Os acionistas da Fox votariam pela aprovação do negócio na sexta-feira 27. Caso receba o sinal verde, a rede de Rupert Murdoch teria dinheiro em caixa para aumentar a proposta pelo grupo de TV por satélite Sky. A última oferta foi de
US$ 32,5 bilhões, feita em 11 de julho.