Foi por uma circunstância tão inesperada quanto indesejável que o economista Pedro de Godoy Bueno, hoje com 29 anos, assumiu a liderança do grupo de empresas que era controlado por seu pai, o médico e empresário Edson de Godoy Bueno, falecido em 2017. Edson tinha 73 anos e havia construído um império no setor de saúde. Fundador da Amil, plano de assistência médica vendido ao grupo norte-americano UnitedHealth por US$ 4,9 bilhões em 2012, Edson se tornara controlador da Dasa, empresa que integra mais de 30 marcas de laboratórios com cerca de 700 unidades de atendimento, e da rede de hospitais Ímpar, com 1.800 leitos em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Ele morreu enquanto disputava uma partida de tênis, em Búzios (RJ).

Seu filho Pedro foi alçado ao comando dos negócios, ainda muito jovem, como reconhece. “O fato de eu não saber muita coisa se tornou uma vantagem competitiva”, afirma o herdeiro que, desde então, tem comprovado ser capaz de levar adiante muito mais que a visão empreendedora de seu pai. Ele se autodefine como “guardião do propósito, da visão e da cultura da companhia”. Essa, contudo, é uma leitura bastante modesta de si mesmo, que prefere atribuir os êxitos de sua gestão à capacidade de escolher as pessoas certas e dar a elas autonomia para decidir. “No mundo de hoje é muito difícil ter todas as respostas porque tudo muda muito rápido, então acredito que o líder deve sabe fazer as perguntas e ouvir verdadeiramente”, afirma. “Além disso, tive a oportunidade de aprender a sonhar com o meu pai. Isso é maravilhoso porque me permite ousar com ideias que podem parecer impossíveis, sem medo de falhar”.

Pedro acredita ter facilidade para tomar decisões de risco, o que geralmente faz de forma intuitiva. Como “guardião”, seu compromisso é ser um agente transformador. Quer uma medicina mais inteligente, preditiva e personalizada. Para isso, conduz uma profunda reorganização no modelo de negócio, em busca de soluções que integrem os diversos elos da cadeia de saúde. “Falo de médicos, hospitais e operadoras que, juntos, devem promover uma mudança no setor, empoderando o médico e colocando o paciente no centro das decisões”. O que ele pretende é gerar saúde — e não apenas tratar quando já é tarde demais do ponto de vista da qualidade de vida do paciente.

“As ferramentas tecnológicas nos permitem agilizar o diagnóstico, melhorar o tratamento, reduzir custos e aproximar médicos de pacientes para um melhor desfecho clínico a nossos mais de 20 milhões de pacientes/ano”

“A identificação precoce de doenças ou de fatores de risco é fundamental para que possamos intervir no momento certo”, diz ele. Suas empresas já empregam até recursos de Inteligência Artificial. “É uma das áreas nas quais temos investido fortemente, dentro de uma ampla estratégia de aplicar a inovação para exercer nosso propósito”, afirma. Um exemplo é a parceria com o CCDS (Center for Clinical Data Science), da Universidade Harvard, para o desenvolvimento de algoritmos para previsão de problemas de saúde. “Ferramentas tecnológicas permitem agilizar o diagnóstico, melhorar o tratamento, reduzir custos e aproximar médicos de pacientes para um melhor desfecho clínico aos nossos mais de 20 milhões de pacientes por ano”. Pedro entende que esse modelo tornará o custo mais baixo para o cliente, viabilizando a entrada de milhões de pessoas para o setor privado e desonerando o sistema público de saúde. O executivo afirma investir R$ 2,5 bilhões em inovação, tecnologia, equipamentos, expansão de unidades e integração de novas marcas de laboratórios.

Seu próximo desafio é fazer com que a já anunciada fusão das empresas Dasa e Ímpar consiga de fato acelerar a criação de um ecossistema de saúde onde o paciente seja protagonista. “Dasa e Ímpar têm ilhas de excelência que agora serão compartilhadas. Com a operação, será mais fácil e ágil identificar e viabilizar novas oportunidades. Quando falamos em saúde, temos que ter uma visão de longo prazo. O sistema precisa ser repensado e estamos nos organizando na frente do mercado para contribuir”, conclui.