O Seridó Online provavelmente nunca entrará para o ranking dos maiores provedores. Mas também não faz questão. A empresa integra a lista dos milhares de pequenos e médios provedores que atendem o interior do País e que, apesar do número reduzido de clientes, conseguem manter a saúde financeira. Além de ser um bom negócio, a manutenção de um provedor no interior do Brasil traz um toque social: não fosse por essas empresas, a Internet estaria limitada às capitais, aumentando ainda mais a chamada exclusão digital. Pelos cálculos da Abranet, associação nacional de provedores, existem no Brasil cerca de 1.150 empresas que fornecem acesso à Internet em cidades localizadas fora dos grandes eixos metropolitanos. É um nicho formado por regiões que não despertaram o interesse dos grandes provedores. Caso de Caicó, cidade com 50 mil habitantes localizada a 280 km da capital Natal, Rio Grande do Norte. É ali que o provedor Seridó Online fornece acesso à Internet para um público de 280 assinantes e fatura R$ 3,5 mil por mês. Há três anos no mercado, a empresa viu seu número de clientes despencar com a chegada dos provedores de acesso gratuito. ?Na época achei que não íamos resistir, mas foi até melhor?, comenta o empresário Gilton Filho, 35 anos, fundador do Seridó. Estranho? ?Não temos estrutura para atender um grande número de usuários. O Super11 ajudou a desafogar nosso servidor?, explica Gilton, que ainda oferece o acesso por linhas analógicas. Coisas da Internet brasileira.

Nem todos são como o Seridó Online. Na trilha de provedores-formigas que exploram o interior, existem as ?saúvas? ? empresas que atuam em mais de uma cidade e, com isso, acabam conquistando uma base de usuários mais significativa. A VSP é uma delas: além dos 20 pontos em diferentes cidades do Mato Grosso e Paraná, a empresa acabou de anunciar a abertura de mais 12 provedores franquiados nos Estados de Rondônia, Acre e Goiás. Os 8,7 mil assinantes, junto com serviços agregados ? como hospedagem de sites e webdesign ?, rendem um faturamento de R$ 120 mil mensais. ?Uma cidade com 12 mil habitantes já justifica um ponto de acesso?, diz Karla Araújo, diretora de marketing da VSP. A empresa consegue crescer mesmo com a presença dos grandes provedores na região. Como? A primeira resposta está no conteúdo. Enquanto os peixes grandes da Web atraem o internauta com revistas e jornais de grande circulação, a turma do interior oferece informações sobre a região, como classificados e previsão do tempo. Os menores chegam a anunciar promoções no comércio local. ?O jeito é procurar nichos de mercado?, afirma José Janone Júnior, fundador da Sunrise, que oferece acesso a 2 mil moradores de Araraquara e adjacências, no interior de São Paulo.

Mas o conteúdo, somente, não justifica a cobrança de taxas equivalentes a dos grandes provedores (cerca de R$ 30 ao mês). A principal explicação para a sobrevivência dessas empresas está no atendimento. ?Não trabalhamos com 0800. Nossos clientes são atendidos em casa?, diz José Janonte, orgulhoso. Os usuários da região têm um perfil um pouco diferente dos que moram nos grandes centros urbanos. Não basta oferecer acesso à Internet: é preciso instalar softwares, consertar o equipamento e até ensinar princípios básicos de informática. ?É impossível deixar de perceber que, em cidades menores, há um outro tipo de relacionamento entre a empresa e o consumidor?, diz o presidente da Abranet, Roque Abdo. Além disso, muitos usuários se acostumaram aos serviços desses provedores, que estrearam antes dos gigantes. O fato é que grande parte dessas empresas, que não atuam em rede nacional, surgiu por volta de 1995, ano em que a Internet ainda era coisa do meio acadêmico. A primeira sacudida do mercado aconteceu com a chegada dos grandes competidores, como UOL e Terra. Mas o motivo do pânico, que engoliu praticamente metade dos pequenos e médios provedores do País, atende pelo nome de acesso gratuito. Desde o início de 1999, uma enxurrada de empresas decidiu abrir mão da mensalidade pelo serviço, entre elas as falidas NetGratuita e Super11. O tremor serviu para enxugar o mercado. Ficaram as mais sólidas, com estratégias de expansão e saúde financeira. Todas buscam o lucro ? caso contrário, não sobreviveriam nem mais um mês. Prejuízo é luxo dos grandes.