O local da posse era o mesmo de 2010, mas a situação econômica está bem diferente. Na semana passada, Sebastián Piñera recebeu novamente a faixa presidencial do Chile das mãos de Michelle Bachelet, diante do Congresso Nacional, em Valparaíso. Ao ocupar o Poder Executivo pela segunda vez, Piñera afirma estar ainda mais preparado para a função. “Assumo com mais rugas e mais dores corporais, mas também com mais experiência e maturidade”, disse. Desta vez, a situação do país é mais preocupante. Há oito anos, a economia chilena seguia em rota de crescimento, apesar da grave crise mundial de 2008.

A dívida pública era modesta, de apenas 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e o crescimento econômico ao longo do seu mandato foi sempre superior a 4% ao ano. Agora, o presidente chileno herda uma economia sonolenta, que atingiu, no máximo, 2,1% de crescimento nos últimos quatro anos, e que possui uma dívida de 24,9% do PIB. Ainda é um patamar tranquilo para os padrões internacionais, mas que acendeu o sinal de alerta.

Seu principal desafio será dar continuidade às mudanças sociais da era Bachelet, sem agravar a situação fiscal. Entre elas, está a gratuidade das universidades. Após anos de protestos, o Congresso aprovou em janeiro a medida, que prevê ensino gratuito ao custo de US$ 3,5 bilhões, equivalente a 1,5% do PIB de US$ 248 bilhões. Isso significa que Piñera não terá margem para rever um recente aumento de impostos. Além disso, tentará votar uma polêmica reforma da previdência, que aumenta o tempo e o valor de contribuição e, em troca, eleva o benefício dos aposentados, hoje abaixo do salário mínimo.

Promessa de campanha, o líder chileno também planeja reduzir os impostos sobre empresas de 26% para até 24%. Em meio à expectativa de aumento contínuo de despesas, o novo governo torce para que o preço do cobre, principal produto de exportação do país, continue subindo – no ano passado, a alta foi de 20% no mercado internacional. Isso, no entanto, pode não ser o suficiente para que o Chile volte a repetir a expansão média de 5,3% do PIB registrada em seu primeiro mandato.

O FMI prevê que o Chile cresça 2,5% neste ano. “Um país altamente dependente da economia mundial não consegue crescer mais do que o resto do mundo”, afirma Antonio Carlos dos Santos, economista da PUC-SP, se referindo à expectativa de crescimento global de 3,1%, segundo o Banco Mundial. “A opção seria diversificar a base de sua economia ou criar novos acordos comerciais.” Nesse segundo quesito, o Brasil pode ajudar o Chile, já que as nossas portas parecem estar abertas. O presidente Michel Temer, que esteve em Valparaíso, disse que existe uma “relação comercial fortíssima” entre os dois, já que ambos têm “mais ou menos a mesma visão de mundo”.