São Paulo está retomando a sua atividade econômica, mas em algumas ruas da maior cidade do país a sucessão de lojas com as portas fechadas mostram o impacto do novo coronavírus: muitos comerciantes fecharam definitivamente.

Muitas lojas não tinham caixa suficiente para suportar a suspensão das atividades durante três meses, e por isso não voltarão a abrir logo depois que a pandemia passar.

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São Paulo, a capital econômica do país, com 12 milhões de habitantes, concentra cerca de 40% das pequenas e médias empresas existentes no Brasil.

Os inúmeros restaurantes e bares, com suas mesas nas calçadas, davam vida à megalópole… Até a pandemia.

Na Vila Madalena, um dos bairros mais frequentados em tempos normais, os resultados são sombrios, e a pandemia ainda não está sequer controlada: cerca de um em cada cinco estabelecimentos tem placas dizendo “Aluga-se” ou “Vende-se”.

Bares, boates, estúdios de tatuagem e salões de beleza: a maioria das empresas desse bairro não fazem parte das atividades consideradas essenciais, e não são serviços que podem manter seu funcionamento apenas por venda online.

Sem clientes desde março, muitas tiveram que fechar de vez.

É o caso de Graziela Magliano, de 47 anos. Natural de São Paulo, há sete anos ela abriu seu salão de beleza, oferecendo bons serviços e produtos de alta qualidade que atendiam, segundo relata, à crescente demanda do consumidor por produtos naturais. Trata-se de um segmento que já tinha um público muito específico, mesmo antes da pandemia.

Sem receber clientes, Magliano tinha pouca reserva no caixa, e não conseguiu arcar com os R$ 8.000 do aluguel das instalações, além dos salários dos três funcionários.

Após a publicação das primeiras medidas de quarentena anunciadas pelo governador do estado de São Paulo, João Doria, a empresária decidiu encerrar o negócio permanentemente.

“Eu não queria me endividar, queria sair dessa pandemia limpa, para não assumir outra dívida. Não sabia como seria depois, fiquei um pouco assustada”, conta Magliano, olhando para a bela casa branca onde funcionava seu salão de beleza.

“Pelo menos 20% dos negócios serão apagados. Eles fecharam suas portas e não retomarão (suas atividades)”, ressalta Carlos Melles, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

– “Não antes do ano que vem” –

Como ficará essa gigante e vibrante megalópole após a pandemia, muitas vezes comparada a Nova York, capital de um estado que acumula mais de 11.000 mortes pela COVID-19 e é o maior foco de contágio do país?

“O brasileiro empreendedor vai ter que se reinventar. A atividade de prestação de serviços, cuidador de idosos, até outras coisas mais emergenciais ou mais inovadoras vão surgir. O comércio digital cresceu muito nesses 90 dias de pandemia”, disse Melles.

Raimundo Jerônimo e Federico Prim conversam sobre o assunto em frente às portas dos seus respectivos estabelecimentos. O primeiro abriu um botequim há 15 anos e tinha um faturamento de R$ 1.500 a R$ 2.000 por dia.

“Aqui a gente está aberto só para não fechar de vez. O faturamento é de 10% do que ganhávamos antes, talvez 15%. Se for prolongar muito, provavelmente não vamos aguentar, já estamos no limite”, diz Jerônimo.

“Tomara que a situação bonita dos espaços de lazer, que identificava claramente tanto para as pessoas do país quanto para os estrangeiros as ruas de São Paulo, volte a funcionar, mas vai demorar”, comenta Federico em frente ao seu pequeno bar, completamente vazio.