A separação fez bem à Vale do Rio Doce. Logo depois de anunciar o acordo para se divorciar da CSN, de Benjamin Steinbruch, a mineradora foi ao mercado internacional mostrar sua nova face, mais arrojada, após a liberdade. Bradespar e Previ tiraram da gaveta os projetos de expansão rumo ao Exterior, guardados durante todo o período de conflito com a CSN. O passo mais teatral foi a cerimônia que marcou o início da listagem das ações da companhia na Bolsa de Nova York, na semana passada. ?Isso nos dá mais visibilidade?, explica Roger Agnelli, presidente do conselho da ex-estatal. Os movimentos mais importantes, porém, ainda estão em curso. Depois de acertar em menos de um mês as aquisições das concorrentes Samitri/Samarco e Socoimex, exportadoras de ferro como a Vale, a companhia partiu em busca de oportunidades de compra também fora do País. Estão no alvo duas mineradoras de ferro de pequeno porte: uma na Austrália, terra dos maiores concorrentes no mercado internacional, e outra no Canadá.

Os controladores da Vale trataram de espalhar essas novidades no mercado e no mundo. Foi o jeito de marcar a nova fase da empresa, agora sem Steinbruch e com um foco claro no negócio em que é mais competitiva, a mineração de ferro. O lançamento dos ADRs foi precedido de um extenso road show nos Estados Unidos e na Europa. O presidente da Vale, Jório Dauster, e o diretor executivo, Gabriel Stoliar, disseram que a empresa quer aumentar sua presença no mercado internacional de ferro e é compradora de empresas que aumentem sua capacidade de produção. A notícia só mereceu credibilidade devido ao fim da confusão acionária das participações cruzadas que Vale e CSN detinham uma na outra. ?Só de saber que havia um acerto os analistas já ficaram satisfeitos?, diz Dauster.

Canadá e Austrália não são alvos escolhidos ao acaso. Líder mundial em exportações de minério de ferro, com 20% de participação, a Vale negocia com uma empresa canadense na esperança de, com passaporte novo, conquistar uma fatia significativa no mercado dos Estados Unidos. As facilidades logísticas e o livre comércio entre os dois países transformariam a Vale em uma exportadora privilegiada, em comparação com as concorrentes australianas e sul-africanas. Já a aquisição de uma companhia australiana a deixaria mais próxima geograficamente das megassiderúrgicas do Japão e da Coréia do Sul. Agnelli calcula que a Vale pode deter em breve um quarto do comércio internacional de minério de ferro.

Previ e Bradespar preferiram esperar, mas as condições para a Vale dar esse salto já existiam desde a era Steinbruch. As aquisições da Samitri/Samarco e da Socoimex, por exemplo, foram pagas com o caixa acumulado nos dois últimos anos, resultado de lucros crescentes na mineradora. O grupo tem endividamento baixíssimo, para o tamanho de seu fluxo de caixa, e por isso pode também levantar crédito a qualquer momento.

Mas o acordo para a saída da CSN não encerrou as trapalhadas na vida da Vale. No dia do anúncio da listagem dos ADRs em Wall Street, que deveria ser só de festa, um erro no envio de documentos à CVM impediu que o programa fosse aprovado no Brasil. Resultado: os acionistas brasileiros estão impedidos de converter seus papéis em ADRs.