Governos e empresários do mundo todo, preparai-vos! Uma enorme onda de pelo menos US$ 5 trilhões dos 300 maiores fundos de pensão de todo o planeta está se articulando para trabalhar em conjunto e, já nos próximos anos, determinar os detalhes de gestão das empresas nas quais tiverem investimentos comuns. Embora tímido, esse movimento já está acontecendo e resultará em uma geração de superfundos de pensão, com repercussões diretas no Brasil. Nos últimos meses intensificaram-se os contatos entre gigantes nacionais, como Previ e Petros, e potências estrangeiras, como o STRS, dos professores da Califórnia, com caixa de US$ 98 bilhões, e o ABP, que reúne dezenas de categorias profissionais da Holanda e administra US$ 147 bilhões. As conversas não são simples trocas de experiências ? devem terminar em acordos operacionais. Um exemplo de como essas negociações funcionam foi a ação do Calpers, caixa de previdência dos funcionários públicos da Califórnia. Alguns de seus diretores, preocupados com o acidente da plataforma P-36 da Petrobras e com os US$ 36 milhões que tinham em ações da companhia, procuraram semana passada os fundos de pensão brasileiros para, juntos, pressionar o conselho administrativo a ter mais rigor nos cuidados com o meio ambiente. ?Não se trata de um ato de ecologismo, mas de uma postura para evitar perdas como as que aconteceram com a queda das ações da Petrobras?, diz uma fonte ligada ao Calpers.

Os resultados da atuação dos superfundos são ainda difíceis de prever com exatidão. ?Esse movimento é ainda muito espontâneo e sem planejamento?, avalia Henrique Pizzolato, diretor de seguridade da Previ, caixa de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, com US$ 17 bilhões de patrimônio. Mas a aproximação faz sentido. Mesmo sendo de países diferentes, os grandes fundos guardam muitas semelhanças entre eles. Investem sempre a longo prazo, aplicam nos mesmos mercados e têm o mesmo tipo de preocupação com segurança nos investimentos. Nada mais natural do que atuar em grupo. ?Em dois ano no máximo, estaremos prontos até para definir conjuntamente representantes de conselho?, aposta Pizzolato.

O trabalho com os estrangeiros pode ajudar a eliminar um dos problemas dos fundos brasileiros ? sua manipulação para dar uma ?mãozinha? em negócios de amigos do governo. A administração profissional adotada nos outros países, e que aqui ainda é novidade, tornará cada vez mais difícil usar as caixas de aposentadoria para bancar investimentos duvidosos. ?Não adianta mais um executivo chegar aqui e prometer o céu. Ele vai ter de assumir riscos e me dar o retorno prometido?, diz Eliane Lustosa, diretora de investimento da Petros. As aplicações dos próprios fundos também estão sendo adequadas às exigências éticas dos companheiros internacionais.

undos como o holandês ABP e o norte-americano California State Teachers não investem em empresas que não tenham mulheres em sua diretoria, que trabalhem com mão-de-obra infantil, tabaco, fabriquem armas ou prejudiquem o meio ambiente. No Brasil, os fundos ainda se preocupam com questões muito mais básicas, como profissionalização da gestão e manter um relacionamento civilizado entre os sócios, evitando brigas que prejudiquem os dividendos. São os estrangeiros que estão puxando as preocupações para um degrau acima, rumo à sua função social. Caso do SamPension, da Dinamarca, que vendeu toda a participação na Petrobras depois dos acidentes na Baía de Guanabara e no Rio Paraná.

Invasão Silenciosa
  

Silenciosamente, sem fazer estardalhaço, um gigante está cercando o mercado brasileiro com seus braços. O Principal Financial Group, controlador do maior fundo de pensão dos Estados Unidos, com ativos de US$ 117 bilhões e filiais em 14 países, desembarcou aqui por meio de uma sociedade com o Banco do Brasil. Os dois controlam juntos a Brasilprev, o segundo maior plano de previdência privada nacional. Agora os americanos querem o primeiro lugar. Mais, querem um mercado que, segundo seus executivos, deve chegar a R$ 100 bilhões até 2004. O presidente do Principal, Norman Sorensen, visita o Brasil quatro vezes por ano. Os americanos controlam hoje 46% da Brasilprev, ao lado do Banco do Brasil, detentor de 50% das ações, e do Sebrae, dono de 4%. ?Se o BB quisesse vender, compraríamos com prazer sua parte?, diz. ?Mas não há negociações.?

Sorensen quer chegar a líder em cinco anos. Considera que o Brasil logo terá de adotar um modelo de previdência complementar obrigatória semelhante aos de Chile, México e Estados Unidos, onde cada trabalhador possui um plano de aposentadoria, mas eles são administrados por empresas privadas e é possível para o cliente escolher entre vários administradores de recursos. Seguindo esse modelo, Sorensen calcula que o País poderá acumular uma poupança de até US$ 400 bilhões em algumas décadas. A Principal quer o maior pedaço possível desse bolo. ?Veja o mercado norte-americano. Em 20 anos ele cresceu de US$ 32 bilhões para US$ 1,7 trilhão.? O mercado nacional é hoje de US$ 8,5 bilhões. (A. J.)