O fogo é quase sempre o vilão da história. Em dezembro de 2015, um incêndio destruiu parcialmente o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Em setembro de 2018, foi a vez de as labaredas consumirem parte do Museu Histórico Nacional. No caso do Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, o inimigo foi o descaso – e não as chamas. Pertencente à Universidade de São Paulo, o Edifício-Monumento inaugurado em 7 de setembro de 1895, nas proximidades do local onde D. Pedro I proclamou a Independência, estava praticamente abandonado até precisar ser fechado para visitação pública, em agosto de 2013. Àquela época, o prédio apresentava rachaduras e infiltrações de água. As paredes internas, feitas com tronco de palmeira juçara e argamassa, estavam deterioradas. Laudos apontavam ameaça de queda dos forros do Salão Nobre, da Biblioteca e do Auditório.

Salvá-lo da ruína exigiu obras emergenciais, como escoramentos em todas as salas que apresentavam risco. Consultorias internacionais foram contratadas para estabelecer as diretrizes básicas de intervenção, respeitando as características construtivas do edifício. Felizmente, tudo pôde ser restaurado. A partir de agora, um novo capítulo da história da cultura brasileira tem início. Nasce um Novo Museu do Ipiranga.

Ele foi reinaugurado no âmbito da celebração do Bicentenário da Independência. Os primeiros visitantes foram profissionais que trabalharam nas obras e um grupo de 200 estudantes de escolas públicas. A reabertura só foi possível graças a uma combinação de esforços de 28 patrocinadores. São eles: BNDES, Fundação Banco do Brasil, Vale, Bradesco, Caterpillar, Comgás, EDP, EMS, Itaú, Sabesp, Santander, Shell, Banco Safra, CSN, Honda, Postos Ipiranga, Pinheiro Neto Advogados, Atlas Schindler, Novelis, Raízen, Goldman Sachs, B3, GHT, Nortel, Dimensional, Rede D’Or, Ultra e Too Seguros. Com a participação dessas empresas, a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp), que administra esse patrimônio do povo brasileiro, conseguiu não apenas os recursos necessários para a realização das diversas etapas necessárias para a execução da obra. As verbas permitirão o acesso gratuito do público, mediante agendamento prévio, até 6 de novembro. A expectativa é que o Novo Museu do Ipiranga receba 1 milhão de pessoas por ano.

LEI DE INCENTIVO O valor global investido, estimado em R$ 235 milhões, uniu até companhias rivais, que disputam mercado entre si. É o caso de grandes bancos, representados por Itaú, Bradesco, Santander, Goldman Sachs e Safra, e de empresas do setor de óleo e gás: Shell, Raízen, Comgás, Ultra e Postos Ipiranga. Elas se envolveram no projeto por meio de diferentes modelos de patrocínio, sobretudo por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. O Governo Federal, por meio do Ministério do Turismo, e o Governo do Estado de São Paulo participaram do desenvolvimento institucional para captação de recursos e parcerias para reformar, ampliar e reinserir esse bem público na vida de brasileiros e de estrangeiros.

1895 foi o ano de inauguração do museu paulistra, com acervo etnográfico e arqueológico 

450 mil itens, entre documentos, obras de arte e objetos históricos fazem parte da coleção atual 

6,8 mil m2 foram adicionados à área original após uma escavação

Quando foi inaugurado, o museu tinha um acervo composto basicamente por peças etnográficas e arqueológicas. Hoje, são mais de 450 mil itens, incluindo documentos, dos quais 3 mil passaram por restauro. Entre eles, 122 pinturas. Há ainda uma grande maquete da cidade de São Paulo e outra do próprio museu. A reforma praticamente dobrou sua área. Aos 7,6 mil m2 da construção original foram adicionados 6,8 mil m2 após uma escavação em frente ao prédio. Ela abriu espaço para as novas entradas e bilheterias, além de café, loja, auditório e uma ampla sala de exposições temporárias.

Copatrocinador da obra, o Banco Safra entende que a preservação da cultura, das artes e da própria história é a melhor forma de garantir esses patrimônios às futuras gerações. “São legados que se transferem”, afirmou a instituição, por meio de nota. O banco é também patrocinador da minissérie Independências, no ar pela TV Cultura de São Paulo.