O grupo português Sonae chegou ao Brasil através do varejo, numa parceria com o grupo gaúcho Josapar, em 1989. Ao longo do tempo, construiu uma rede de supermercados que chegou a ser a terceira maior do País. Em 2005, saiu do negócio, ao vendê-la para a americana Walmart por R$ 1,7 bilhão. Mas não abandonou o Brasil. Sem fazer alarde, começou a investir no setor de shopping centers por meio de uma subsidiária, a Sonae Sierra, criada antes mesmo de deixar a área de varejo, na qual tem como sócia a americana Developers Diversified Realty (DDR). Em 2002, por exemplo, o grupo português inaugurou o Parque D. Pedro Shopping, em Campinas, ainda hoje o maior da América Latina em área locável. Atualmente, o Sonae Sierra é dono de dez empreendimentos comerciais, o que o coloca como a quarta maior empresa do setor no Brasil, atrás apenas da BR Malls, Multiplan e Iguatemi, entre as companhias de capital aberto. 

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José Baeta Tomás: ”Nosso negócio é escolher o terreno certo e expandir a partir dele”

“O nosso negócio é bastante simples: você precisa encontrar um terreno e se expandir a partir disso”, afirma o português José Baeta Tomás, CEO da companhia no Brasil, que registrou receita líquida de R$ 103 milhões no primeiro semestre de 2011. “Se não acertar na localização de onde será construído o shopping, não há como corrigir esse erro.” Nos últimos nove anos, o Sonae Sierra tem feito escolhas bem diferentes das de seus principais concorrentes, que concentraram investimentos em grandes cidades e nas regiões de maior poder aquisitivo. A empresa é dona de quatro shopping centers em São Paulo. Mas todos eles estão em regiões da periferia da capital paulista. A companhia, que abriu o capital no primeiro trimestre deste ano e captou R$ 478 milhões, também está presente em Franca e Santa Bárbara d’Oeste, ambas no interior de São Paulo. Brasília e Manaus completam a lista de empreendimentos do grupo português. Agora, o Sonae se prepara para uma nova safra de investimentos. Até 2013, vai gastar R$ 750 milhões na ampliação e na construção de três novos centros comerciais.  

Os dois primeiros vão ser inaugurados em Uberlândia (MG) e Londrina (PR), em 2012. No ano seguinte, é a vez da abertura do empreendimento de Goiânia. Com esses três novos shop-pings, a empresa pretende ampliar em 50% o total da área bruta locável. “Conheço mais o Brasil do que muitos brasileiros”, diz Tomás, que comandou as operações de varejo do Sonae no País na década de 1990. Além de o crescimento das cidades de médio porte ter um ritmo superior ao das grandes metrópoles, existe uma mudança nos padrões de consumo no Brasil, avalia Geraldo Ferreira, diretor-executivo da Escopo, empresa paulistana de pesquisa e geomarketing. “Os shoppings estão substituindo o comércio de rua nessas cidades”, afirma Ferreira. “As pessoas preferem concentrar suas compras no mesmo lugar e os shoppings permitem isso, oferecendo cinema, alimentação, pet shops e academias de ginástica.” 

 

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Novos polos: o Sonae Sierra escolheu a segunda maior cidade de Minas Gerais, Uberlândia,

e do Paraná, Londrina, para abrir os seus próximos empreendimentos

 

Tanto que, dos 55 novos shoppings previstos para ser inaugurados nos próximos dois anos, 33 estão fora das capitais. “Há uma tendência das empresas em ir para locais menos explorados, tanto no interior quanto no litoral,  e nos subúrbios das grandes cidades”, diz Adriana Colloca, superintendente de operações da Associação Brasileira de Shopping Centers. Apesar de sua atuação ser recente no mercado brasileiro de shopping centers, o negócio não é novo para a Sonae e para a DDR. O Sonae Sierra, por exemplo, atua nessa área desde 1989 na Europa. No continente europeu, possui empreendimentos em Portugal, na Espanha, Itália, Alemanha, Grécia e Romênia. A DDR, por sua vez, tem força nos Estados Unidos e em Porto Rico. “O Brasil virou a bola da vez para os dois grupos”, diz Tomás. “O crescimento virá daqui.”

 

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