Quando assumiu a função de CEO do Rally dos Sertões, em 2018, Joaquim Monteiro se movia por um propósito: “Queria um projeto desafiador que entregasse, como contrapartida à sociedade, um sentimento de orgulho de ser brasileiro”. Na bagagem, ele trazia uma experiência única no País: havia sido o CEO da Empresa Olímpica Municipal (EOM), criada para viabilizar a realização dos jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Cumprida a função com todos os méritos, ele enxergou na maior competição de esporte ao ar livre do Brasil a oportunidade perfeita para o que procurava. Foi então que fechou uma sociedade com Júlio Capua (sócio-fundador da XP Investimentos) e Roberto Medina (criador do Rock In Rio) para comprar o evento que pertencia a Marcos Ermírio de Moraes. A nova direção, que inclui ainda o sócio Edgar Fabre, vem provocando a revolução que Monteiro queria. A mudança começou pelo nome: apenas Sertões. Foi o primeiro passo no plano de transformar o que era um rali em uma plataforma de eventos ao ar livre construída sobre os pilares do esporte, do turismo e da responsabilidade social. Transversalmente na operação, impôs-se a filosofia ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança). “A responsabilidade com o meio ambiente é cada vez mais presente, por isso decidimos que este ano será a primeira edição do rali carbono neutro”, afirmou o CEO dos Sertões.

PEGADA NEUTRA O evento, com uso intensivo de combustível fóssil, terá este ano um veículo híbrido e energia solar nos acampamentos ao longo do trajeto. (Crédito:Cadu Rolim)

Ao anunciar a compensação de 100% dos gases de efeito estufa (GEE) emitidos na competição, o evento alinha-se com o movimento mundial na luta contra as mudanças climáticas, iniciado com a assinatura do Acordo de Paris (2015). A meta é reduzir as emissões globais, estimadas em 55 milhões de toneladas, em 43% até 2030. Assim, espera-se evitar que a temperatura do planeta aumente acima de 2ºC. “Caso mais iniciativas como a dos Sertões não sejam colocadas em prática, vamos inviabilizar a vida em diversas partes do mundo, seja pelas altas temperaturas ou pela fome provocada pela redução de alimentos”, afirmou Luis Felipe Adaime, CEO e fundador da Moss, empresa que está auxiliando e certificando o processo de compensação de carbono do Sertões. Pelos cálculos da Moss, 2 mil toneladas de CO2 serão neutralizadas. Foram levados em conta o impacto causado por 1,8 mil pessoas, 800 veículos, 5 aeronaves, 2 carretas médicas, 1 carreta TV Sertão que vão percorrer 4,5 mil km do Brasil durante 10 dias, em agosto. “A compensação será via compra de créditos de carbono revertidos em dois projetos de preservação na Amazônia”, disse Adaime. Um deles é o Agrocortex, empresa de manejo florestal instalada no Acre. O outro é Ituxi, unidade de conservação em Lábrea, município amazonense que, em 2020, bateu recorde com 37 mil hectares de floresta derrubados, de acordo com o Observatório BR-319, que reúne nove ONGs.

MITIGAÇÃO A decisão de zerar o carbono é ainda mais emblemática por se tratar de um evento com uso intensivo de combustível fóssil, situação que Monteiro também quer mudar. “Pela primeira vez teremos um veículo híbrido, movido a álcool e eletricidade, no rali”, disse. O protótipo é uma iniciativa dos Sertões junto a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e a Giaffone Racing. Outra frente é o incentivo de 20% na inscrição para carros movidos a etanol neste ano. Para 2022, o CEO já pensa na expansão com uma categoria exclusiva para veículos elétricos.

JOAQUIM MONTEIRO CEO do evento desde 2018, ele vem transformando o rali dos Sertões em motivo de orgulho nacional. (Crédito:Divulgação)

As iniciativas ESG incluirão os acampamentos montados no percurso. As Vilas Sertões serão alimentadas por energia solar. E ainda que a sustentabilidade seja a grande bandeira deste ano, o CEO faz questão de afirmar que o pilar social é estratégico. O principal projeto foi batizado como SAS — Saúde e Alegria Sertões. Comandado pela médica Adriana Mallet, tem o apoio de mais de 90 voluntários de parceiros como o Hospital Albert Einstein e a Universidade de Campinas, e soma 2,7 mil atendimentos e 1.752 operações. “Com a pandemia, adotamos a telemedicina em containers com capacidade de 500 consultas/mês”, disse Monteiro.

Essas ações fazem parte de um plano em que o esporte é o gatilho para a transformação social de cidades fora do eixo das grandes capitais. “Mostramos o Brasil que o brasileiro não conhece, com suas belezas naturais e com seu povo que passa a ter no turismo mais uma fonte de renda”, disse o CEO. Parece estar dando certo. De acordo com a empresa, o evento cresceu 70% em patrocínios no ano passado.