Entre os assuntos mais relevantes discutidos nos Conselhos de Administração das empresas ao longo do último ano, dois estiveram em destaque: como sobreviver aos tempos de Covid-19 e como acelerar o processo de transformação digital dos negócios. Enquanto as operações e os modelos de negócios tiveram que rapidamente se adaptar às novas exigências de um cenário mundial pandêmico, o nível de digitalização das organizações foi colocado à prova. O resultado não poderia ter sido mais claro: a resiliência foi proporcionalmente igual à maturidade digital de cada companhia.

Entre os principais ensinamentos dos últimos meses para o mundo corporativo está a necessidade latente de aumentar o nível de maturidade digital para possibilitar a continuidade dos negócios, a competitividade no mercado, a estabilidade financeira e o avanço nos lucros e, assim, conseguir traçar um caminho para o cenário que teremos após a pandemia. Os líderes brasileiros perceberam definitivamente que, sem uma transformação digital efetiva, não há como enfrentar os riscos inerentes a um mundo em constante ebulição.

Já podemos esperar um novo patamar de digitalização para os próximos anos. No entanto, será preciso ir além. As empresas precisarão estar verdadeiramente preparadas para as variadas possibilidades do amanhã. A trilha para isso estará fundamentada na mudança estrutural atrelada à adoção de tecnologias avançadas, ao uso de dados em grande escala, a metodologias ágeis e a processos digitalizados em todas as etapas das operações.

Estar pronto para o futuro significa pensar grande e compreender a necessidade de se desprender de mudanças tecnológicas apenas triviais, que ainda estão muito presentes no mercado. É preciso ter um modelo flexível apoiado em tecnologias que possibilitem e facilitem alterações quando os dados – o motor dos negócios do futuro – fornecerem insights sobre a necessidade de redirecionar o caminho. Ser ‘future-ready’ (preparado para o futuro) não envolve saber exatamente o que acontecerá daqui para frente, mas, sim, ser capaz de superar as adversidades readaptando o rumo conforme os movimentos do mercado, sempre com o uso de tecnologia para tornar o trabalho mais ágil, com reavaliações certeiras de cenários e agilidade na resposta aos contratempos.

O conceito ‘future-ready’ significa também estar preparado para automação de processos e para a adoção de novas soluções que ampliam o conhecimento para um modelo de inteligência artificial. Envolve incentivar a utilização de máquinas aliada à inteligência humana, com forças de trabalho especializadas e ágeis. Além disso, consiste em estar inserido em um ambiente inovador contando com a integração de parceiros especialistas capazes de entregar projetos únicos e direcionados para as necessidades de cada corporação. É abandonar o modelo do one-size-fits-all, entrando de vez na era da personalização, possibilitando a cocriação entre organização, fornecedores e colaboradores, com liberdade de ideias para estabelecer os alicerces do desenvolvimento de cada iniciativa.

Empresas que atingem esse nível abandonam antigos modelos e se mobilizam para trilhar um novo caminho, utilizando ferramentas digitais como a base para enxergar novas estratégias que darão sentido à inovação e à eficiência. Com a tecnologia será possível remover barreiras e ampliar possibilidades de negócios que até então eram impensáveis. Por meio delas, as infinitas questões do dia a dia das corporações são solucionadas de forma mais simplificada, ampliando os resultados em suas mais diferentes áreas.

A transformação digital está sendo bem-sucedida em empresas capazes de redesenhar seus modelos, integrando pessoas e tecnologias para a geração de novas oportunidades. Essa capacidade de mudança não é fácil de ser atingida, mas ela definirá quais companhias prosperarão, assim como irá destacar os líderes do futuro.

Para essa nova maneira digital de pensar e agir, os boards terão que incentivar a gestão para novas experiências com uso de Cloud Computing, Big Data, soluções colaborativas e dispositivos de Internet das Coisas. Nesse cenário, teremos também grandes inovações nas empresas com a chegada do 5G, que revolucionará completamente a dinâmica e a rapidez das conexões em segmentos como agronegócio, indústria 4.0, cidades inteligentes e saúde. Os benefícios proporcionados pelo 5G a todos os setores trarão resultados positivos para a economia brasileira, dando um salto de performance a exemplo do que tivemos nas revoluções industriais do passado.

As novas tecnologias disponíveis no mercado mostram que a transformação pode ocorrer de forma acelerada, bastando a cada empresa estar disposta a investir em inovação e na sustentabilidade dos seus negócios. A noção de que este é um processo lento se desfez por completo especialmente no último ano, quando as empresas demonstraram ser capazes de readaptar por completo seu modo de trabalho e remanejar suas equipes para formato home office em poucos dias. A pandemia mostrou que o planeta saiu de uma realidade na qual o trabalho remoto era impensável para conseguir comprovar, na prática, que as mudanças são possíveis e, muitas vezes, bem-vindas.

Não importa o estágio de digitalização no qual a sua companhia se encontrava. O que vale é a jornada rumo ao próximo nível que se inicia agora. As companhias que melhor explorarem as novas tecnologias irão conseguir promover a transformação digital de seus negócios e garantir a perpetuidade de suas operações. A visão forte e consistente das lideranças sobre o caminho a seguir ampliada para todos os colaboradores e o apoio de soluções digitais inovadoras possibilitarão aos negócios chegar longe. Os desafios são grandes, mas é preciso agir o quanto antes. O futuro não será fácil para quem não estiver preparado para ele. No entanto, para as empresas que ousarem pensar diferente e apostar na digitalização, o cenário será bastante promissor.

*  José Formoso é CEO da Embratel