Quando o californiano David Lee Wright assumiu, há pouco mais de dois anos, o comando da rede varejista Le Biscuit, companhia com sede em Feira de Santana (BA) e forte presença no Nordeste, não imaginaria o quanto seria colocado à prova no primeiro ano da crise provocada pela Covid-19. Vários passos para trás foram necessários. “Me senti em uma tempestade, mas dentro de um barco seguro”, disse o CEO da Le Biscuit. “Por trabalharmos com diferentes categorias, nosso impacto foi amenizado.” Ainda assim, a embarcação sentiu a tormenta. Em 2020, o faturamento da companhia caiu 17%, para R$ 628 milhões, ante os R$ 757 milhões registrados no ano anterior. E encerrou o período com prejuízo de R$ 55,5 milhões.

A varejista decidiu adiar o IPO apenas quatro meses depois de anunciar o interesse de ingressar na B3 e focou na entrada do varejo digital, com investimentos de R$ 25 milhões para antecipar em três meses o lançamento do e-commerce da rede. Ação necessária a partir do fechamento de mais de 50% de suas lojas entre março e junho. A rede está presente em 14 Estados, com 144 lojas – 110 localizadas na região Nordeste. Hoje, com 65% das unidades abertas, a companhia baiana percebeu nos números a importância dos canais digitais. Em oito meses de operação, o e-commerce faturou R$ 16,5 milhões.

Para este ano, o objetivo é investir R$ 15 milhões e ampliar ainda mais a presença dos canais digitais e fechar 2021 com participação entre 15% a 20% no faturamento. O otimismo com o e-commerce começa pelo crescimento do ticket médio de R$ 60 na loja física para R$ 180 na plataforma digital.

AMPLIAÇÃO Empresa aumenta o tamanho do Centro de Distribuição, que também recebe investimentos para concluir seu processo de automação. (Crédito:Cris Fraga)

Outra iniciativa é a ampliação do portfólio de produtos, de 12 mil para 30 mil produtos disponíveis no e-commerce. Também deu início ao processo de transformação em omnichannel, instalando 224 caixas automáticos em 58 lojas, criando canais de venda direta através de catálogos on-line e por WhatsApp, e implementando o Le +. O programa funciona como uma gôndola estendida ao disponibilizar um QR Code específico para cada seção e permitir que o consumidor tenha acesso a outras opções do produto que está sendo procurado na loja física. “Estamos vivendo um momento de inclusão digital e de aculturamento”, disse David Lee Wright. “O cliente brasileiro está gostando dessa nova experiência”.

EXPANSÃO O crescimento das vendas nos canais digitais resultou na ampliação do centro de distribuição da Le Biscuit em Camaçari (BA). Com investimento de R$ 10 milhões, a estrutura foi modernizada e passou de 18 mil metros quadrados para 32 mil metros quadrados. Para este ano, o CD deve receber mais R$ 5 milhões para conclusão dos processos de automação. Já no estado de São Paulo, segundo maior mercado em vendas atrás apenas da Bahia, a empresa irá inaugurar, no fim de abril, um centro de distribuição em Embu das Artes. Com 3 mil m² e um investimento de R$ 5 milhões, a estrutura vai funcionar como um projeto piloto para que a companhia entenda a dimensão da demanda no estado. “Queremos diminuir o prazo de entrega de sete para dois dias e esperamos, com isso, triplicar as vendas na região”, afirmou o executivo. Em São Paulo, a rede conta com 16 unidades.

Mas o horizonte da rede varejista não está somente no ambiente virtual. Com apenas 5% do market share do segmento de multicategorias, a Le Biscuit prevê a abertura de 20 lojas no modelo de franquia. A retomada do plano de expansão de lojas próprias está condicionada à reabertura definitiva das lojas e a melhora na economia a partir da pandemia. Se em 2010 a Le Biscuit tinha 9 unidades, o plano é chegar em 2031 com 1 mil lojas da rede baiana no Brasil. Uma meta audaciosa para quem ainda vê o barco balançar.

Correção: diferentemente do publicado, a empresa não desistiu do IPO, mas adiou os planos. A informação foi corrigida às 22:39 de 9/4/2021.