Presidente da TIM no Brasil afirma que novas possibilidades de receita surgirão para o setor produtivo assim que a internet rápida estiver bem consolidada.

Desde fevereiro, a rotina do executivo italiano Alberto Griselli mudou da água para o vinho. O então Chief Revenue Officer (CRO), responsável por trazer novas receitas, se tornou CEO no lugar do compatriota Pietro Labriola, promovido a chefão do grupo na Itália. Mais do que trazer receitas, Griselli teve de assumir desafios colossais, como a compra de parte da Oi, definir a implementação do 5G e preservar o desempenho da companhia no quesito de atendimento ao cliente — o que fez da TIM a mais bem avaliada no Reclame Aqui entre os players de telecom. “O grande desafio é ser líder, mas com qualidade”, disse. Confira, a seguir, sua entrevista:

DINHEIRO — Sua nomeação a CEO da TIM aconteceu em paralelo a temas importantes como 5G e compra da Oi. Como tem sido conduzir isso tudo?
ALBERTO GRISELLI — É um período bastante intenso. O fechamento da compra da Oi, que é o mais importante de tudo, o lançamento do 5G e vários projetos em andamento vão definir o futuro das telecomunicações no País. Fiquei muito focado em liderar essa transformação da empresa e fazer da TIM a líder do setor. Com a aquisição de parte da Oi, passamos ter a maior cobertura entre as operadoras móveis do Brasil. Então, entramos em novo patamar de competição.

Em qual critério a TIM é líder? Todas as operadoras se dizem as maiores do País em alguma coisa…
Esse ponto é verdade. Mas, até um mês atrás, a Vivo tinha a maior cobertura. Nos últimos anos, eles fizeram questão de divulgar isso para todo o mundo. O tempo todo. Mas agora somos nós. A TIM tem a maior cobertura em número de cidades, em número de antenas e no porcentual de cobertura da população.

As empresas de telecom estão apostando no 5G, mas grande parte do interior do País não tem sequer 4G. A tecnologia anterior será deixada de lado?
Não. Como você super bem comentou, o 4G ainda não cobre todos os municípios do Brasil. Por essa razão, lançamos um plano para chegar à cobertura dos 100% dos municípios brasileiros em 4G até o primeiro semestre de 2023. Antes da aquisição da Oi a gente já estava com 85% dos municípios cobertos em 4G. Isso já foi bem anunciado e é superimportante para nós e para o Brasil. O Brasil ainda tem um número elevado ainda de municípios, cerca de 15%, apenas com 3G. Quando se passa de 3G para 4G, a experiência de consumo é brutalmente diferente. Ter 100% em 4G é um vetor de expansão da nossa cobertura.

E quando passa do 4G para o 5G?
Estamos pensando exatamente do mesmo jeito. Mas o intuíto é realmente tirar do cliente uma reação ‘Uau!’. O 4G tem o papel de democratizar o acesso a um sinal de qualidade e com velocidade. O 5G vai ser ‘uau!’.

“O Brasil ainda tem cerca de 15% dos municípios apenas com 3G. Quando se passa de 3G para 4G, a experiência de consumo é brutalmente diferente” (Crédito:Divulgação)

Como a TIM vai defender essa posição de liderança, sabendo que Claro e Vivo vão querer o mesmo lugar?
Por isso que estamos em um percurso de evolução contínua. Não gosto de ficar apenas em primeiro lugar. Prefiro ficar em terceiro porque aí temos muito para andar. Quem está em primeiro lugar tem a tendência de passar para o segundo. No terceiro, só podemos ir para a frente. A ideia é ter espírito de startup, mesmo sendo grande. O desafio é ser líder, mas com qualidade. Queremos continuar liderando em oferta, em serviço e em percepção dos clientes. Temos a melhor nota do segmento no Reclame Aqui, com 8,5 em uma escala até 10. Estamos no mesmo patamar de Nubank, Inter, Mercado Livre, iFood. Não é pouco.

Com o 5G, a régua de exigência do consumidor vai subir…
Com certeza. O 5G vai impactar tudo. Até hoje, todas as tecnologias que foram introduzidas, 2G, 3G, 4G, impactaram principalmente o consumidor. O 5G tem o potencial de impactar tanto o consumidor quanto o mundo dos sensores, o mundo da Internet das Coisas. O 5G traz vários benefícios para as empresas, para a economia. A tecnologia 5G vai revolucionar o ambiente de negócios e a forma como as empresas produzem. O 5G vai transformar a relação entre empresas e consumidores. Ela tem um papel importante para dar eficiência às operações, com potencial de mais geração de renda, de receitas. Isso muda a dinâmica do setor. À medida que a cobertura do 5G for se expandindo, podemos ampliar ainda mais as ofertas de novos serviços para o consumidor.

O 5G vai encarecer a telefonia para os consumidores finais?
O 5G não vai mudar o custo. Zero. Estamos empacotando o 5G de uma forma que seja democrática. É para todo mundo ter acesso. A qualidade será diferenciada, mas o grande ganho em curto prazo será para as empresas, indústria e agronegócio. É dentro das empresas, no chão de fábrica, que o 5G vai acelerar a inovação nos próximos anos. Já temos parceria com o 4G com a Stellantis, por exemplo. Os carros saem de fábrica com muitas ferramentas conectividade. Estamos montando também com a Microsoft um pacote de soluções que aumenta e digitaliza o negócio dos clientes. Com o 5G, a escala e as possibilidades são outras.

Como fechar a conta se o 5G demanda investimentos altos, muitos deles em dólar, se não haverá repasse para o consumidor?
O 5G permite alterar a mecânica de receita. No curto prazo, com o 5G mais rápido, o cliente utiliza mais dados. Então, quanto mais consumo, melhor para o cliente e para nós. Isso cria a oportunidade de crescimento da receita, sim, para as operadoras de telecomunicações versus a situação de hoje, pois nós poderemos fazer parte de uma forma mais forte do processo de digitalização do País. Então, o 5G através da inovação permite oportunidade de valor para o cliente, que se traduz em crescimento da receita para nós. Esse é um aspecto com certeza positivo para todo o setor.

Mas e a rentabilidade?
A rentabilidade do negócio virá do lançamento de serviços novos. Vamos entrar no mercado com soluções que hoje não existem. Na prática, o custo por giga será menor para o cliente. O 5G vai nos permitir lançar e construir serviços novos em cima de uma única plataforma. É uma oportunidade de gerar um valor a mais para o cliente e uma receita a mais para nós. Com o 5G poderemos fazer algumas coisas que hoje são inviáveis, tanto para consumidor quanto para empresa. Essas novas possibilidades, então, irão melhorar a experiência tanto na ponta de quem oferece o serviço como na ponta de quem o consome.

O aumento das ofertas será focado em novos serviços financeiros?
Não só em financeiro. Já temos uma parceria com o C6 Bank e acabamos de lançar outras duas com o grupo Anhanguera, uma de entretenimento, outra de educação. Existe ainda uma outra, em fases finais de testes, no mundo da saúde. Estamos em uma evolução contínua. Serviços financeiros é uma vertical que que já estamos consolidades. Nosso plano para os próximos anos é entrar em muitas outras.

“O 5G não vai mudar o custo para o consumidor. Zero. Estamos empacotando o 5G de uma forma que seja democrática. É para todos terem acesso” (Crédito:Istock)

O fim da Oi não será prejudicial para o consumidor, com o setor mais concentrado nas mãos de Claro, TIM e Vivo?
Com três ou quatro operadoras, o mercado brasileiro continua sendo competitivo do mesmo jeito.

O 5G vai reduzir a demanda por fibra ótica para uso corporativo e residencial?
Não. A fibra vai continuar crescendo. Não existe competição entre o 5G e a fibra ótica, principalmente no acesso residencial. A disponibilidade de fibra no Brasil tende a aumentar para dar suporte às próprias antenas de 5G.

O dólar caro, a inflação e a pressão de custos comprometem os planos de investimentos das empresas de telecom?
Historicamente, o setor de telecomunicação é anti-inflacionário. A receita do setor cresceu nos últimos cinco anos abaixo da inflação. O custo de gigas está diminuindo, ao contrário de gasolina, alimentos, passagem aérea. Mas isso faz parte da vida. Por isso digo que operamos um mercado competitivo.

Qual o maior desafio para a TIM nos próximos anos?
O desafio é manter a cultura de ataque. Essa cultura de empresa pequena, enquanto nos transformamos na melhor operadora de telecomunicações. Temos um plano já comunicado no mercado financeiro de investir R$ 14 bilhões nos próximos três anos. É fato que o ambiente de negócios no Brasil e no resto do mundo está contaminado pela inflação muito elevada. E isso encarece a nossa base de custo e reduz o poder de compra dos nossos clientes.

Isso afeta a estratégia da companhia para os próximos anos?
Isso é um problema do mundo inteiro. Vamos nos adaptar, como sempre fizemos para dar a volta por cima. É o que precisa ser feito em uma situação mais difícil. Se pensarmos que passamos por uma fase de pandemia, provamos ser mais resilientes. Temos planos em andamento sobre todos os negócios, receita, custos e investimentos para poder navegar num ambiente mais desafiador. Estamos acostumados com isso. Temos planos sólidos para manter nosso compromisso com o mercado e com os clientes brasileiros também.