Alemanha se planeja para outro 7 a 1 no Brasil. Não se assuste. A estratégia não tem a ver com futebol. Trata-se do plano que a gigante do setor aéreo Lufthansa, com sede em Colônia, definiu para o mercado brasileiro em 2020: voltar a voar entre São Paulo e Munique sete dias por semana. O pontapé inicial já foi dado. Desde o início de dezembro, a empresa reativou o trecho com voos terças, sextas e domingos. Segundo os alemães, o aumento da frequência seguirá o ritmo da expansão da demanda. “A rota mostra o quanto confiamos no mercado brasileiro”, diz Tom Maes, executivo que comanda as operações da Lufthansa na América do Sul. A aeronave escolhida para ligar São Paulo a Munique é o Airbus A350-900, com capacidade para 293 passageiros. A aeronave, uma das mais modernas da frota, é 25% mais econômica e 30% mais silenciosa que a versão anterior.

A linha havia sido encerrada em 2016, quando a crise econômica reduziu a demanda. Um ano depois, segundo Maes, a procura voltou a crescer, mas já era tarde. Em 2018, a Lufthansa quis retomar os voos, mas a readequação da malha aérea consumiu alguns meses. “A decisão de voltar foi difícil pela volatilidade das economias sul-americanas, mas fizemos a coisa certa”, afirma Maes.

De acordo com Thiago Carvalho, membro da Comissão de Direito Aeronáutico da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e sócio do D’Andrea Vera, Barão & Carvalho Advogados, a reativação de uma rota que havia sido encerrada é mais que uma iniciativa isolada. Significa uma real melhora no fluxo de passageiros dos voos internacionais. “Isso ocorre por causa do crescimento da demanda, mas também é reflexo da evolução no cenário legal e regulatório, implementado nos últimos três anos e que foi positivo para o setor”, afirma o especialista.

Carvalho se refere à Resolução 400/2016 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que permitiu a segregação dos serviços contratados, além de possibilitar a implementação de novos modelos de negócios como o de empresas low cost (baixo custo). Outra mudança positiva foi a aprovação da Lei 13.842/2019 que autoriza a criação e operação de empresas aéreas no Brasil com capital 100% estrangeiro. “Por conta dessas mudanças a Air Europa já tem autorização para atuar no mercado doméstico com capital 100% estrangeiro e as empresas de low cost Flybondi (Argentina), Norwegian (com sede em Londres) e Sky (Chilena) iniciaram rotas para o Brasil”.

Aposta nos céus brasileiros: Tom Maes, que comanda as operações da Lufthansa na América do Sul, afirma que voltar com a rota SP-Munique foi uma decisão difícil devido à volatilidade do mercado. Ele ainda prevê expansão da economia nos próximos anos. (Crédito:Claudio Gatti)

RECEITA ANUAL DE €36 BILHões Com tudo isso no horizonte, é grande a possibilidade de a operação da Lufthansa no Brasil não se limitar aos 26 voos já existentes (para Frankfurt, Munique e Zurique). Apesar de Tom Maes afirmar que não existe no momento interesse em comprar ou criar uma empresa para operar a partir do Brasil, ele próprio admite que a companhia já avaliou o potencial do mercado interno. “Vimos coisas interessantes e podemos aproveitar oportunidades quando surgirem aqui ou na América do Sul”, declara, lembrando da vantagem que a Lei 13.842 traz para os investidores. “Quando você é sócio minoritário fica difícil implementar mudanças. Ter o controle da empresa torna mais fácil a tomada de decisões”, afirma, deixando entender que há uma expectativa por ações mais concretas nesse sentido.

A empresa aérea alemã é uma gigante que fatura em torno de 36 bilhões de euros por ano, mundialmente. Tem 135 mil funcionários (2 mil no Brasil) e transporta mais de 140 milhões de pessoas anualmente. No Brasil, a expectativa é crescer entre 6% e 10% em 2020, em relação a 2019.

Alemães desistem da Alitalia

A situação da Alitalia já é difícil e – pode piorar. Joerg Eberhart, CEO da Air Dolomiti, subsidiária integral do grupo Lufthansa na Itália, anunciou na última semana, na Comissão de Transportes da Câmara dos Deputados da Itália, que não há interesse da empresa em participar de um consórcio para adquirir a aérea italiana. A Ferrovie delo Stato (FS), empresa pública que tem a concessão das estradas de ferro no país, participaria da empreitada junto com os alemães, mas também desistiu.

Eberhart reiterou que a Alitalia precisa de uma profunda reestruturação para se tornar atrativa. O executivo afirmou que “apenas assim ela ganhará o tempo necessário e poderá escolher livremente entre os três principais grupos de transporte aéreo da Europa.” Eberhart se referia à própria Lufthansa, à Air France-KLM e ao Grupo IAG, controlador da British Airways e da Ibéria.

A Alitalia passa por dificuldades e sofre prejuízos desde 2002. A situação só piorou nos últimos dez anos e a companhia não quebrou porque desde 2017 está sob intervenção do governo, que a mantém operacional por meio de empréstimos públicos. Especialistas de mercado estão pessimistas com o rumo da empresa para este ano.