Iniciar o ano sob a perspectiva de uma economia parada ao longo do exercício é algo desanimador e o sentimento é acentuado quando se soma o fato de uma previsão inflacionária em escalada crescente. O cenário em questão é desenhado por dez entre dez especialistas e encontra respaldo, inclusive, no último boletim Focus, do Banco Central, que aponta para um crescimento pífio do PIB em 2022, da ordem de 0,36%. Não é difícil encontrar quem aposte até em números negativos, aprofundando a recessão técnica já em andamento. Em Brasília não há no momento qualquer plano em andamento para reverter o processo, além das medidas de calibragem dos juros previstas pelo Banco Central. A ala econômica, incluindo a do Ministério da Infraestrutura, reclama das dificuldades para levar adiante os planos de privatização e mesmo das reformas administrativa e tributária. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, prepara o que seria uma carta de justificativas para a carestia fora da meta. Nela busca explicar os motivos para o atual quadro e tenta mostrar como resolver o problema. Será mais do mesmo, via instrumentos de política monetária que tendem a arrefecer o consumo e o crédito. Não são perspectivas animadoras. Para completar a triste situação, funcionários da Receita Federal, dos ministérios e do próprio Banco Central prometem entrar em greve por melhores salários, pressionando ainda mais o já estourado caixa público. A demanda dos servidores levou o ministro Paulo Guedes a alertar o governo para o que classificou como estouro do dique, uma espécie de nova Brumadinho em acidente, como disse. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acaba de concluir um estudo no qual avalia que a dívida brasileira chegará a 75,7% do PIB depois do abandono das regras fiscais. Há um consenso avassalador sobre 2022 mostrando que ele será pautado por dificuldades brutais na economia, algo ainda intensificado pela corrida eleitoral, que leva candidatos à reeleição a deixarem de lado tudo mais. Nada diferente do que aconteceu nos últimos meses. O clima para as finanças brasileiras não está dos melhores. Diversas vulnerabilidades geram incertezas e afugentam o capital dos investimentos em projetos nacionais. O FMI incluiu esse clima negativo nas análises sobre as fraquezas brasileiras para os próximos tempos. O ministro Guedes não gostou e mandou os técnicos do Fundo irem fazer previsões em outra freguesia. Não foi o melhor dos caminhos. Por não gostar dos dados, expulsou o mensageiro. Após um período de euforia e volumes históricos, o mercado de crédito privado vive fase de cautela. Investidores passaram a exigir prêmios cada vez maiores desde a virada do ano. Em toda essa rebordosa, o consumo deve ser de novo o maior prejudicado ao longo do ano, em virtude da corrosão da renda familiar e do alto índice de desemprego e miséria. A alta de preços impõe uma carga pesadíssima a maioria dos trabalhadores e às famílias de baixa renda. Na ponta do processo, são eles sempre as maiores vítimas da estagflação.

Carlos José Marques
Diretor editorial