Há duas semanas, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, estava em viagem no exterior. Seus compromissos em Londres e no Catar foram interrompidos por uma série de ligações do Brasil. Os contatos pediam a ajuda dele para resolver uma crise que não era na petroleira brasileira. O empresário Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração da BRF, perguntou a Parente se ele consideraria a possibilidade de ser o chairman da maior empresa de alimentos processados do País, que acumula um prejuízo de R$ 1,5 bilhão nos últimos dois anos e convive com um racha entre os conselheiros. O executivo prometeu pensar e, numa segunda ligação, respondeu que toparia construir uma solução, desde que houvesse consenso entre os acionistas. “Tem de ser assim. Seria muito complicado aceitar com qualquer posição diferente dessa”, teria dito ele a Abilio.

Com a sinalização positiva, o atual presidente do Conselho começou um intenso trabalho de bastidor para convencer seus pares a aceitar a proposta encontrada por ele. Desde o fim de fevereiro deste ano, os fundos de pensão Petros e Previ, que detêm 11,4% e 10,7% do capital da BRF, respectivamente, romperam com Abilio e com a gestora Tarpon (4% e 7,3%, respectivamente), e pediam a destituição do atual Conselho. Eles consideram a estratégia de Abilio, executada por Pedro Faria, ex-presidente-executivo e sócio da Tarpon, culpada pelos prejuízos nos negócios da empresa. Desde então, uma guerra pela indicação dos nomes movia os dois lados. Os impasses passaram a aumentar com a aproximação da data da eleição do novo board, marcada para 26 de abril. Tudo o que vinha de Abilio estava sendo desconsiderado.

Francisco Petros, representante do fundo Petros, era o maior crítico da atuação do chairman. Até que Parente apareceu como a última cartada do empresário para acabar com o conflito. Na noite de quarta-feira 18, as quatro partes divulgaram um comunicado concordando com a indicação. O mercado financeiro também gostou e a ação da companhia registrou alta de 9,5% no dia. “Previ, Petros, Abilio e Tarpon estão finalmente alinhados em uma chapa e, principalmente, no cabeça, que é o Pedro Parente”, diz um acionista, que conversou com a DINHEIRO sob a condição de anonimato. “Fico muito feliz que, depois de dois anos, os acionistas e suas questões pessoais não são mais preponderantes sobre as questões da empresa.”

Finalmente unidos: o representante do fundo de Pensão Petros, Francisco Petros (à esq.), tinha vetado todas as alternativas de consenso apresentadas por Abilio Diniz. O nome de Pedro Parente conseguiu uni-los (Crédito:Marcelo Justo/Folhapress e Regis Filho/Valor/Folhapress)

No dia seguinte, às 10 horas, o Conselho de Administração esteve reunido para alinhar os interesses e tentar resolver um novo empecilho: as famílias Furlan e Fontana, fundadoras da Sadia, que detêm cerca de 2% da BRF, não tinham aceitado a composição. A proposta apresentada por elas, com apoio do consultor e acionista Vicente Falconi, era uma chapa formada por Luiz Fernando Furlan na presidência e Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, como vice. Até o fechamento desta edição, essa alternativa continuava na mesa. “Estou me colocando à disposição para ter a sensação de dever cumprido”, disse Furlan, em coletiva de imprensa realizada na terça-feira 17, quando falou sobre sua indicação para tentar pacificar os acionistas. “Tenho o nome da empresa gravado, não na roupa, mas no coração.” A gestora Aberdeen, que detém 5% do capital, manteve a posição pelo voto múltiplo (quando as escolhas na eleição são nos nomes e não em uma chapa) “Mantivemos a nossa estratégia para clarear e reduzir os conflitos na empresa”, diz Peter Taylor, diretor-geral de equities da Aberdeen. “Mas o Parente é um bom nome.”

Há 20 anos, Parente tem sido peça-chave para realizar grandes viradas em momentos de crise. Foi assim em 2001, no apagão do setor elétrico, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Em seguida vieram desafios na RBS, na Bunge e, mais recentemente, na Petrobras (leia quadro ao final da reportagem). Na estatal, Parente elaborou um plano estratégico, com a venda de ativos, para recuperar a solidez financeira da companhia. Quando assumiu, em 1º de junho de 2016, a alavancagem (relação entre a dívida líquida e a geração de caixa) estava em 5,1 vezes. No fim de 2017, o indicador tinha caído para 3,7 vezes. Embora a Petrobras já esteja numa situação mais confortável, ela demanda muita dedicação de seu presidente.

“A situação no Conselho da BRF era prejudicial e a solução pelo nome do Pedro Parente é muito boa”, diz Thomas Lanz, fundador da Lanz Consultores Associados, empresa especializada em governança corporativa. “Mas ele precisará ter tempo para fazer tudo o que precisa na BRF, que tem muitos problemas de gestão e não gera resultado positivo. A Petrobras exige muita atenção e tempo dele.” Ou seja, o desafio na BRF pode tirar o foco dele na Petrobras, o que seria prejudicial para a estatal. Quando a indicação de Parente parecia ser um alívio para a BRF, veio uma má notícia. Na quinta-feira 19, a União Europeia impôs um embargo definitivo a importação de carne de frango e derivados de 20 frigoríficos, sendo 12 da BRF. O governo brasileiro prometeu recorrer à Organização Mundial do Comércio. O desafio de Parente, caso seja eleito no dia 26, será enorme.