Todo mundo conhece os hubs de inovação. Aqueles espaços que reúnem várias startups e atraem grandes companhias e investidores para fazer networking e fechar negócios. De um lado, as empresas nascentes esperam obter recursos para crescer rapidamente. De outro, as gigantes almejam incorporar a tecnologia desenvolvida para garantir a própria evolução e, por que não?, sua sobrevivência no mercado. 

Nessa dinâmica, naturalmente, muitas companhias começaram a adquirir startups. Mas muitas delas começaram a fazê-lo de forma a se tornarem, elas próprias, hubs de inovação. Não no sentido tradicional do espaço físico cheio de empresas, mas sim em relação ao conceito.

Em 2013, a Monsanto, gigante global na área de agricultura e biotecnologia, comprou a Climate, então uma startup americana de previsão meteorológica, por US$ 930 milhões. A transação, inclusive, fez da Climate o primeiro (quase) unicórnio no segmento de agritech. Até aí, uma bela história de sucesso. Mas a coisa fica ainda mais interessante quando olhamos para dinâmica estabelecida a partir da aquisição.

A Climate passou a permitir que outras startups se plugassem a ela via API (Application Programming Interfaces). Dessa forma, qualquer produtor rural que tivesse acesso a Climate, teria acesso às demais. Um bom negócio para todas as partes envolvidas. Para a Climate, uma maior variedade de soluções em seu ambiente. Para as startups, muitas oportunidades. Tudo sob o guarda-chuva da Monsanto. 

Naquele momento, isso fez muito sentido. A possibilidade de se conectar ao ecossistema de uma grande companhia era importante para as startups. E ainda é. Entretanto, nos últimos anos, o movimento de descentralização no mundo dos negócios permitiu que pequenas empresas caminhassem independentes das grandes corporações. 

O segmentos bancário e de blockchain talvez sejam dos mais expressivos nesse sentido. Com tecnologia, redução das burocracias e olhar atento às lacunas do mercado, muitas fintechs ganharam espaço e passaram a concorrer diretamente com grandes bancos. Em alguns casos, em pé de igualdade, haja vista a revolução provocada pelo Nubank (hoje um unicórnio) na indústria de cartões de crédito. 

O fato é que as transformações se estenderam por todas as áreas. A cada dia, surgem novos modelos para atender demandas específicas, muitas vezes negligenciadas pelas grandes corporações. Há um cenário de autonomia para que as pequenas empresas cresçam, mas nem sempre as condições são completamente favoráveis ou os recursos necessários estão disponíveis. 

E se as startups se conectassem a outras startups para crescer?

Talvez não pareça tão produtivo, mas é sim. Recentemente, a Grin (startup de patinetes elétricos) se uniu a Yellow (de bicicletas e patinetes elétricos) para formar a Grow. Ao unir forças, as duas empresas, inicialmente concorrentes, levantaram US$ 150 milhões em investimento e ganharam fôlego para alcançar o objetivo de se tornar a principal plataforma de mobilidade da América Latina, competindo com a Lime (startup americana do mesmo segmento) e com o Uber. Agora, a Grow estuda oferecer novos modelos de transporte compartilhado, como skooters e carros elétricos, e, em breve, deve disponibilizar o aluguel de bicicletas elétricas.

Ainda no ramo de mobilidade, podemos mencionar a parceria entre a 99 (aplicativo de serviços de transporte) e a Hitech Electric (startup de veículos elétricos). Juntas, as duas empresas promoveram um piloto para testar a viabilidade de oferecer corridas em carros elétricos recarregáveis na tomada, muito mais ecológicos e econômicos.

Mas há um outro tipo de conexão bem mais comum e que remete, de certa forma, ao modelo adotado pela Climate, lá atrás. Trata-se da API Economy, que, como o próprio nome sugere, se baseia em integrações via APIs. As startups se plugam aos serviços de outras startups para viabilizar seu negócio.

Imagine, por exemplo, um e-commerce. Para possibilitar a transação, essa empresa utiliza uma plataforma de meios de pagamento, como Paypal ou Pagseguro. Já para realizar a entrega, se conecta a um serviço como Loggi e Rappi, que, por sua vez, está integrado a uma tecnologia de geolocalização, como Waze ou Google Maps. A chave do sucesso está na cadeia de conexões. 

Aqui na Agronow, o caso é o mesmo. Temos várias startups parceiras que usam nossos dados e vice-versa. Avançamos juntos, já que nossos objetivos são (quase sempre) os mesmos: crescer e atender nossos clientes da melhor forma possível. Se não temos um determinado dado, por que não recorrer a um colega do mercado?

De certa forma, o conceito de hubs continua valendo, mas é muito mais fácil se plugar a outra startup.

A descentralização e a colaboração serão responsáveis pelos maiores avanços nos ecossistemas de inovação. Vale a pena olhar ao redor com atenção. Talvez aquela concorrente seja, na verdade, uma aliada. Talvez uma outra startup tenha a solução necessária para levar seu negócio adiante. 

Que tal ampliar suas conexões? 

 

(*) Rafael Coelho é CEO da Agronow, empresa de tecnologia de satélites
para monitoramento de safras e áreas agrícolas