Pouca gente sabe que 97% da soja produzida no Brasil é transgênica. Isso significa que o shoyo, o tofu ou o leite de soja que o brasileiro consome é geneticamente modificado. “A transgenia nos permite inserir artificialmente um gene de uma agrobactéria ao da planta para conseguir alguma ação benéfica”, disse Carlos Arrabal Arias,  líder do Projeto Nacional de Melhoramento de Soja da Embrapa. O benefício no caso da oleaginosa é a maior resistência aos herbicidas e aos insetos. A questão que se coloca em tempos de grande pressão por questões ambientais e sociais é o impacto que a questão provoca na natureza e na saúde humana.

A resposta depende do ponto de vista. Para Arias, são positivos. “O plantio de soja convencional demandava muito mais herbicidas”. Já o professor de melhoramento de plantas e biotecnologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Rubens Onofre Nodari, afirmou que as vantagens acabam em um intervalo de até seis anos. “Depois desse período, a planta volta a se tornar resistente e o uso de agroquímicos volta a subir”, afirmou.

Bayer anuncia nova tecnologia de soja transgênica no Brasil

A realidade da soja transgênica não é só no Brasil. Os Estados Unidos também usam a tecnologia. No Bloco Europeu, a situação é diferente: eles proíbem o uso do glifosato, principal herbicida usado nas lavouras de soja transgênica, mas compram o grão tratado com o produto por aqui. Vale destacar que a soja é o carro-chefe da exportação do agro nacional, que no total movimentou US$ 100,8 bilhões no ano passado.

ROYALTIES – A agenda da soja transgênica voltou aos noticiários dos últimos dias por uma questão nada relacionada à saúde ou ao meio-ambiente. A pauta é econômica. Bayer, Basf, Syngenta e Corteva, quatro gigantes do agro, se uniram para lançar no Brasil um sistema para pagamento de royalties pelo produtor que compra sementes com a tecnologia. O movimento foi batizado de Cultive Biotec e é dirigido pela executiva Silvia Fagnani. Os royalties são cobrados desde a comercialização da primeira soja transgênica pela Monsanto (hoje parte da Bayer). “É uma maneira de pagar o desenvolvimento da tecnologia”, disse a executiva. “Com a entrada prevista de novos players queremos simplificar o propósito da iniciativa”.

Os produtores não gostaram. A Aprosoja, associação que reúne 240 mil produtores de soja no País afirmou em nota temer dificuldades nas negociações de preços e prazos. Segundo Silvia, a negociação na compra da semente continuará sendo feita individualmente. “O que queremos é que o produtor compre e armazene sementes de acordo com a lei brasileira, sem estocagem irregular ou compra de sementes piratas. É uma questão de defesa da propriedade intelectual da inovação”.

A proposta está em análise no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). No meio dos interesses do produtor e das gigantes do insumo está o consumidor. Ele seguirá comendo tofu de soja transgênica. E talvez pague mais caro.