Como muitos empreendedores brasileiros, acostumados aos desvios e incertezas econômicas do País, Leandro Pinto, 48 anos, já enfrentou diversas crises. E, em todas elas, conseguiu encontrar uma saída para contornar as barreiras à frente. Depois do primeiro negócio, uma fábrica de carroças, e de acumular dívidas que o levaram à falência, ele engatou uma nova marcha e fundou, no fim da década de 1980, o grupo Mantiqueira, que hoje ostenta o posto de maior granja da América do Sul, além de figurar entre as doze maiores do setor no mundo. Dona de um faturamento de cerca de R$ 500 milhões, a empresa tem um plantel de 11 milhões de galinhas que produzem 6,5 milhões de ovos por dia em três unidades instaladas em Itanhandu (MG), na região da Serra da Mantiqueira, e em Primavera do Leste (MT).

Agora, no entanto, o empresário passa por um dos maiores desafios dessa trajetória e foi obrigado a desacelerar a operação. Ou, em algumas frentes, pará-la, colocando em risco um volume considerável de sua produção. “Estamos com 70 caminhões bloqueados nas estradas, carregados com 25,2 milhões de ovos, e a produção nas fazendas está comprometida”, diz Pinto. “Galinha bota ovo todo dia. Na Mantiqueira, os galpões de estoque estão lotados e já faltam insumos para as rações da dieta dos animais”, afirma o presidente do grupo, que ainda não consegue estimar a extensão dos prejuízos diante desse cenário.

Presos no chão: o estoque de combustível do Aeroporto de Brasília esgotou na sexta-feira 25. Somente voos que não precisariam reabastecer foram liberados para o pouso (Crédito:André Dusek/Estadão Conteúdo)

A situação do grupo Mantiqueira não é um reflexo de decisões equivocadas tomadas pelo empresário. Muito menos um caso isolado. Desde a segunda-feira passada, uma greve deflagrada por caminhoneiros bloqueou estradas em todo o País, em uma mobilização sem precedentes contra a disparada do preço do óleo diesel, e, literalmente, parou o Brasil. Em um ano, o preço do litro subiu quase 20%, para R$ 3,60. Na trilha das rodovias interditadas, diversas cadeias de suprimentos foram prejudicadas. Sem matéria-prima, fábricas interromperam a produção.

Com a perspectiva de falta de combustível, filas quilométricas formaram-se nos postos de gasolina. Voos foram cancelados. Frotas de transporte público foram reduzidas. Supermercados restringiram a compra de alimentos. Medicamentos deixaram de ser entregues. Cirurgias foram canceladas. Os reflexos, sem distinção, atingiram desde pequenos negócios até grandes empresas. E, na ponta, a população. “A cada dia de paralisação, nós estimamos, preliminarmente, um prejuízo de cerca de R$ 8,5 bilhões para a economia”, diz Luiz Castelli, economista da consultoria GO Associados.

Sem oferta: por cidades de todo o país, como em Cuiabá-MT (à dir.), o combustível acabou na quinta-feira 24. Comerciantes que ainda tinham estoque mais do que dobraram o preço

Entre outras questões, os caminhoneiros reivindicam o congelamento do preço do óleo diesel e a definição de uma nova regra de reajustes do combustível. O movimento teve adesão das empresas de logística. Na quarta-feira, a Petrobras anunciou uma redução de 10% no valor do insumo e o congelamento temporário, nesse patamar, por um prazo de 15 dias (leia reportagem aqui). No dia seguinte, depois de sete horas de negociação, nove das onze entidades que representam a categoria aceitaram uma proposta formulada pelo governo federal e anunciaram a suspensão temporária da greve, por 15 dias. Entre os pontos atendidos, o governo assegurou a periodicidade mínima de 30 dias para os reajustes de preço do diesel e a manutenção do congelamento anunciado pela Petrobras até o fim do ano. Em troca, a União irá compensar financeiramente a companhia (veja mais nos quadros “Jogo de força – Os caminhoneiros pediram…” e “…E o governo concedeu”).

Desperdício: em Palmeira, no Paraná, produtores descartaram leite diretamente no campo após caminhoneiros não retirarem a carga (Crédito:Lucia Massae Suzukawa)

Não há sinais, no entanto, de que a situação terá um desfecho no curto prazo. Uma das peculiaridades da greve e um fator complicador é que não existe uma liderança centralizada no movimento da categoria. Esse cenário ficou explícito em trocas de mensagens que passaram a ser trocadas em grupos de WhatsApp que reúnem caminhoneiros, logo após o acordo entre o governo federal e as entidades. “Os supostos sindicatos que estão negociando não representam os caminhoneiros que estão na rua”, disse o motorista Aguinaldo José de Oliveira, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Na prática, as paralisações foram mantidas, ampliando o cenário caótico em todo o País.

Como resposta, no início da tarde, o presidente Michel Temer anunciou que acionaria as Forças Federais de Segurança (leia reportagem aqui). “Quem age de maneira radical prejudica a população e será responsabilizado”, afirmou Temer. Outras medidas também foram adotadas. Na cidade de São Paulo, foi decretado, na sexta-feira, estado de emergência. A iniciativa abriu a possibilidade de a prefeitura apreender gasolina estocada em postos privados e fazer compras sem licitação. Segundo os sindicatos estaduais dos postos de combustíveis, até o fim do mesmo dia, a capital paulista e outras metrópoles, como o Rio de Janeiro, ficariam sem gasolina e diesel. Palmas, em Tocantins, foi a primeira capital a ficar sem uma gota de combustível.

Prejuízo: a distribuidora de alimentos do grupo Trigo, que inclui as redes Spoleto e Domino’s, não conseguiu entregar os produtos para os franqueados e o presidente Antônio Moreira Leite (acima)prevê perdas por todo o País (Crédito:Divulgação)

LEITE DERRAMADO Do insumo mais básico às viagens internacionais, não faltam relatos de empresários que estão sofrendo as consequências dessa situação surreal. Desde a quarta-feira passada, Sula Zardin, uma pequena produtora de Chiapetta, no interior do Rio Grande do Sul, está jogando fora toda a sua produção diária de seis mil litros de leite. “Estou perdendo R$ 8,1 mil por dia”, afirma Sula. “Minha capacidade de estocagem é pequena. Não tenho outra alternativa.” Produtor e exportador de melão e melancia em Mossoró (RN), Luiz Roberto Barcelos, já contabiliza uma semana de prejuízos.

O empresário tem 68 carretas estacionadas nas estradas, com uma carga total de 1,5 mil toneladas de frutas estragando, avaliada em R$ 2 milhões. “Mesmo que os produtos cheguem em bom estado de conservação, estarão atrasados, e o comprador vai cancelar a compra da semana que vem, para não ter excesso de produtos.” Para o agricultor, que também é presidente da Abrafrutas, a associação dos exportadores de frutas, a paralisação terá um impacto semelhante, tanto para quem vende no mercado doméstico quanto para quem tem clientes no exterior. “O produtor não vai conseguiu faturar nesta semana e, depois, sofrerá um excesso de oferta, porque a dona de casa não vai comprar frutas para compensar a produção de duas semanas”, afirma. Como o mercado movimenta R$ 42 bilhões ao ano, a expectativa é de perdas de quase R$ 800 milhões.

Deusmar Queirós, fundador e presidente do Conselho da Pague Menos: “Vai ter um problema muito sério de desabastecimento das nossas lojas. Mas o pior são os produtos refrigerados, como as insulinas, que vamos perder”
Racionamento: supermercados limitaram a quantidade de produtos que poderiam ser comprados por cliente, como a rede francesa Carrefour, que aplicou a medida para todas as suas lojas no País

Há impactos em todas as frentes do agronegócio. O frigorífico Aurora tem 15 unidades de produção de aves e suínos paralisadas. A medida incluiu a dispensa temporária de 28 mil trabalhadores. “O sistema de produção no campo e na cidade ficou asfixiado e impossibilitado de operar em face da falência de suprimentos”, afirmou a empresa em comunicado. Em apenas dois dias de suspensão, a companhia apontou um prejuízo de mais de R$ 50 milhões em sua cadeia produtiva.

A greve também afetou praticamente todas as fábricas e a operação logística da JBS. “É impossível atualizar o número de unidades que estão paralisando as atividades, porque isso muda a cada hora”, afirmou uma fonte da empresa. A BRF, por sua vez, suspendeu as atividades em quatro unidades de abate de frangos e suínos, nas cidades de Nova Marilândia (MT), Dois Vizinhos (PR), Toledo (PR) e Campos Novos (SC). Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (Abpa), o prejuízo acumulado até o momento pelo segmento de proteína animal é de R$ 1 bilhão, sendo US$ 214 milhões em exportações de aves e suínos. A entidade também alerta para o risco de morte de 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos nos próximos dias devido à falta de ração.

Esse contexto assustador não impede, no entanto, que alguns produtores apóiem o movimento. Na quinta-feira, Paulo Leonel, sócio do Grupo Adir, de pecuária, enviou 120 kg de arroz, 60 kg de feijão, duas caixas de tomate, duas de cebola e a carne de uma novilha para caminhoneiros que estão acampados na G-164, rodovia na região de Mozarlândia (GO), no vale do Rio Araguaia, conhecida como Estrada do Boi e uma das mais importantes do Estado. “Nós apoiamos totalmente o movimento dos caminhoneiros, porque não é somente pelo óleo diesel”, diz ele. “Também tem um componente político, de um governo que não atende a população.” Além de Leonel, cerca de 100 produtores rurais ajudavam os motoristas no local.

PRODUÇÃO AFETADA As más notícias se alastram em todas as cadeias produtivas. O setor automotivo, que vinha se recuperando da derrocada dos últimos anos, na qual o mercado brasileiro de carros foi reduzido à metade, é um dos pontos mais críticos. Em nota divulgada na sexta-feira, Antonio Megale, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) afirmou que, a partir deste sábado 25, nenhum veículo será produzido no Brasil. “A greve dos caminhoneiros afetará significativamente nossos resultados tanto para as vendas, quanto para a fabricação e exportação. A indústria automobilística gera de impostos mais de R$ 250 milhões por dia e, por isso, esta paralisação gerará forte impacto na arrecadação do País”, disse o executivo. Dona das marcas Peugeot e Citröen, a PSA paralisou a sua fábrica em Porto Real (RJ) na quarta-feira, pela falta de componentes. “Trabalhamos no regime Just in Time, onde estoque é custo. Armazenamos apenas o que necessitamos e como dependemos de entrega constante, a operação foi afetada”, afirmou uma fonte da empresa.

A falta de insumos como farinha de trigo e ovo também forçou a Maricota Alimentos a suspender as atividades de sua única fábrica, em Luz, no interior de Minas Gerais. Cerca de 350 pessoas trabalham na linha. Fundada há 25 anos e com uma receita de R$ 128 milhões, a empresa tem um portfólio de pães de queijo, pizzas, lasanhas e salgados, entre outros congelados, além de ser responsável pela produção de parte das marcas próprias de grandes redes, como Carrefour, Grupo Pão de Açúcar e Walmart. “Não tenho condições nem mesmo de estimar nosso prejuízo”, afirmou Ronaldo Evelande, diretor da companhia, que estava desolado. Com a produção restrita, a companhia priorizou apenas os pedidos relacionados a promoções em grandes clientes e as demandas de um contrato da companhia na Coreia do Sul. Atualmente, 4% do faturamento da empresa vêm do exterior. “Se a empresa não produz, não fatura. Mas as despesas não vão mudar. Vamos ter que pagar funcionário, energia, custos fixos. É parar, esperar e rezar.”

Sem comida: a situação em alguns supermercados ficou crítica, com a falta de diversos produtos. No bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, consumidores encontraram prateleiras vazias (Crédito:Gabriel de Paiva/ Ag. O Globo)

Com unidades de produção em Extrema (MG) e Manaus (AM), a brasileira Multilaser, fabricante de produtos como notebooks, celulares, tablets e câmeras de segurança, tem, por enquanto, o abastecimento de componentes normalizado. O principal problema está na entrega dos lotes encomendados por varejistas. “Nós expedimos, em média, duas mil notas fiscais todos os dias. No momento, só 30% desse volume está sendo entregue”, afirmou Renato Feder, copresidente da companhia. Com as mercadorias abarrotando os galpões das transportadoras parceiras, o empresário estimou um prejuízo de dezenas de milhões de reais caso a situação perdure por mais dias. “Não temos alternativa. A cada dia, você triplica o problema.”

A ausência de opções para driblar os bloqueios nas rodovias começa a colocar em estado de alerta segmentos extremamente críticos. A rede de farmácias Pague Menos está encontrando dificuldades para distribuir os produtos para as suas mais de 1,1 mil lojas. E teve que jogar no lixo alguns medicamentos refrigerados, como a insulina. “O principal problema são os itens que precisam ser mantidos refrigerados e que suportam no máximo uma semana forada temperatura adequada”, afirma Deusmar Queirós, fundador e presidente do conselho de administração da Pague Menos. Várias lojas da rede sofreram com problemas de abastecimento, com alguns produtos faltando nas gôndolas e a situação gerou perdas para a operação. “A dimensão das perdas ainda não sei.”

A situação dos hospitais também é preocupante. Insumos e medicamentos começaram a faltar em alguns locais desde quinta-feira e unidades tiveram que cancelar as cirurgias por precaução. São dois os principais problemas: a falta de gases medicinais, como o oxigênio, e o acumulo excessivo de lixo hospitalar. “Você consegue estocar os gases medicinais por no máximo uma semana, e eles são usados em praticamente tudo, nas cirurgias, com os pacientes entubados”, afirma Martha Oliveira, diretora-executiva da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Em Santa Catarina, ao menos cinco hospitais privados cancelaram as cirurgias eletivas – não emergenciais – desde quinta-feira, em uma medida de contingenciamento.

Os casos se acumulam em todo o País. O Hospital Moinhos de Vento, no Rio Grande do Sul, está desde o início da greve com um plano de contingenciamento instaurado. “Na quinta-feira, conseguimos o reabastecimento total dos gases medicinais, porque nosso fornecedor conseguiu passar o bloqueio. Mas é importante que retome a normalidade, porque nossas reservas cada dia são menores”, diz Evandro Moraes, superintendente administrativo do hospital. Nos supermercados, os problemas no abastecimento também têm sido uma constante desde o início da greve.

Os consumidores, receosos com um possível desabastecimento, lotaram as lojas, que registraram filas enormes a partir da quinta-feira. “O que mais me preocupa são os perecíveis, pois mantemos estoques bem menores”, afirmou Euler Fuad, presidente do Grupo Super Nosso, que controla 48 supermercados e atacarejos em Belo Horizonte. Para os perecíveis, a empresa teve que comprar nas Centrais de Abastecimento (Ceasa), pagando preços, em média, 20% mais caros. “A situação atrapalha toda a operação, gestão, planejamento, tudo”, lamentou.

Redes nacionais, como o Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar (GPA), também sentiram os efeitos. Na quinta-feira, todas as lojas do Carrefour no Brasil amanheceram com uma placa informando que, por conta da greve, as compras estavam limitadas a cinco unidades de cada item. Segundo a empresa, a medida foi preventiva e as lojas não sofreram grandes problemas de abastecimento, em função do volume de estoques. A rede acrescentou, porém, que estava em contato com fornecedores locais. No mesmo dia, o GPA registrou falta de itens de hortifrúti nas lojas do Extra, Pão de Açúcar e Assaí. Os estoques de carnes e aves, segundo comunicado da empresa, também foram impactados.

Perda milionária: em um único dia, quinta-feira 24, o prejuízo das quatro maiores companhias aéreas do Brasil foi de mais de R$ 50 milhões, segundo o CEO da Avianca, Frederico Pedreira (Crédito:Stefonlinton)

CARDÁPIO INCOMPLETO Empresários do setor de restaurantes também se mostraram apreensivos. O presidente do Grupo Trigo, que controla as redes Spoleto, Domino’s e Koni, Antonio Moreira Leite, disse que muitas das lojas das três redes estavam com dificuldades sérias de abastecimento na quinta-feira. “Tivemos que flexibilizar e permitir que os franqueados comprassem as mercadorias localmente”, diz. A medida, segundo ele, vai gerar um impacto nas margens de lucro dos restaurantes, uma vez que o custo para a aquisição dos insumos dessa forma é superior ao normal.

Outra rede que passa por maus bocados é o McDonald’s. “A paralisação provocou um desabastecimento no comércio em geral, incluindo todo o setor de alimentação. Acompanhamos a situação de perto e fizemos o possível para manter a operação normalizada”, informou a empresa em comunicado. Mas isso não foi suficiente para evitar situações delicadas. Em Copacabana, a loja da companhia ficou sem pão para vender o tradicional sanduíche Big Mac, que é abastecido a partir de São Paulo e do Espírito Santo. Também foram registradas faltas de itens no cardápio em Brasília e em Belo Horizonte.

Pânico geral: motoristas correram aos postos de gasolina com medo do desabastecimento. Em cidades como Brasília, filas dobraram quarteirões e houve disputa pelos últimos litros (Crédito:Evaristo Sa / AFP)

Poucos setores são tão dependentes da logística quanto o comércio eletrônico. Essa dependência pagou caro na semana passada. A expectativa de crescimento do setor no mês de maio foi reduzido em 7,4 pontos percentuais, pela Ebit, empresa de pesquisas desse mercado, para 13,3%, em relação a maior de 2017. O faturamento projetado para o mês baixou R$ 280 milhões, para R$ 4,3 bilhões. “Essa situação impacta nos novos pedidos, além de deixar muitos caminhões parados na saída dos centros de distribuição”, diz Maurici Júnior, membro do conselho da Associação Brasileira do Comércio Eletrônico (ABComm). “Se a greve se estende, o custo do frete sobe e impacta a cadeia. A margem do setor é muito baixa e precisamos repassar os preços para o consumidor.”

Os aeroportos também viveram em estado de alerta, desde a quinta-feira 24. A posição oficial da Infraero foi alertar os operadores a avaliar os seus planejamentos de voos e definirem a melhor estratégia de abastecimento. Na sexta-feira, acabou o querosene de aviação em, pelo menos, dez dos aeroportos que administra. A estatal também negociou com órgãos públicos a chegada do combustível a alguns deles. Os caminhões de combustíveis direcionados para o aeroporto de Congonhas receberam escolta policial. Os aeroportos internacionais de Guarulhos e do Galeão, no Rio de Janeiro, se beneficiaram de contar com um pool de abastecimento próprio. No caso do Galeão, o querosene de aviação vem diretamente por tubulações subterrâneas. Já os aeroportos internacionais de Brasília e de Belo Horizonte enfrentaram contingenciamento, desde quinta-feira. Na capital federal, foi decidido que só poderiam pousar aeronaves com capacidade de decolar sem abastecer no terminal. Mesmo assim, o combustível acabou no dia seguinte.

Paulo Leonel, sócio e pecuarista do Grupo Adir: “Apoiamos totalmente o movimento. também tem um componente político de um governo que não atende a população”

Em dois dias, dezenas de voos foram cancelados pelas empresas aéreas Latam, Gol, Avianca e, principalmente, pela Azul. Esta última desmarcou 29 voos em dois dias. Ela, a Avianca e a Latam permitiram a remarcação de passagens sem nenhum custo para os passageiros, o que causou a perda de uma de suas fontes de receita. Na manhã de sexta-feira, os presidentes das quatro aéreas se reuniram para avaliar a situação. Juntos, contabilizaram prejuízos operacionais de R$ 50 milhões apenas nesse dia, sem considerar perdas de receitas e voos desmarcados. “A situação vai mudando a cada hora, e se agravando”, disse à DINHEIRO Frederico Pedreira, CEO da Avianca. “Do ponto de vista operacional, precisamos ser o mais criativo possível.”

A empresa estava monitorando a situação desde o começo da semana e montou uma operação de guerra. “Temos uma sala de crise aberta desde a quinta”, afirmou. Entre as estratégias, foi definida a mudança de rotas para que houvesse abastecimento. Por exemplo, foi alterado um voo que começava em um aeroporto com problemas, de Brasília, passava por Maceió, também desabastecido, e chegava a Salvador, que estava em situação melhor. A solução foi fazer uma parada técnica em Salvador antes de rumar a Maceió. Assim, o avião poderia receber combustível e voltar para Brasília com o tanque cheio. A empresa ainda cancelou 10 voos. “Isso tudo traz custos”, disse o CEO. “O impacto é catastrófico para o setor.” Mais do que isso: foram dias catastróficos para toda a economia brasileira.

Com reportagem de Leonardo Motta, Vera Ondei, Cauê Vizzaccaro e Béth Mélo