O artigo desta semana poderia começar como venho fazendo há mais de três anos nesta coluna, dando os números estarrecedores sobre as desigualdades raciais no Brasil, onde um trabalhador negro ganha em média R$ 1.673,00 contra R$ 2.999,00 de seu colega branco. Ou seja, um trabalhador negro hoje, 133 anos após o fim da escravidão, ganha 55% menos que um trabalhador branco, segundo dados oficiais do IBGE. Poderia discorrer sobre esses números, mas, no momento, notícias ruins é o que não falta, então vamos mudar o disco.

Esta semana participei de vários webnairs com empresas comprometidas com a igualdade racial e a inclusão em seus quadros. A tônica das discussões foi o crescente aumento da covid-19 entre a população preta e pobre e os efeitos colaterais na saúde física e econômica brasileira, sendo os pobres, pretos e periféricos os principais alvos.

Em termos de representatividade e importância do tema, fiquei surpreso com adesão maciça de empresas, gestores e também com o público participante, que, mesmo de casa e de forma remota, estavam atentos ao debate sobre a questão racial, em tempos de coronavírus, mostrando o amadurecimento da sociedade brasileira para este tema.

O ponto mais positivo que pude sentir foi ver o grande comprometimento da alta direção dessas empresas (pelo menos as que palestrei), que, mesmo no ambiente adverso em que estamos passando de forma global e local, incluíram a pauta da igualdade racial na ordem do dia. Bom exemplo foi o de uma gigante multinacional alemã da área química, em que o próprio CEO convocou internamente os funcionários e mediou minha fala e o debate sobre o racismo estrutural brasileiro e seus reflexos no cotidiano das empresas.

Ao final da maratona lembrei das sábias palavras que ouvi em uma recente entrevista concedida a mim pela Dra. Valdirene Silva de Assis, procuradora-geral do trabalho em São Paulo: “A crise humanitária e econômica que o Brasil vivencia só evidencia a urgência da pauta da inclusão racial”. E continuou: “Os impactos serão sofridos de forma desproporcional pela comunidade negra que seguramente terá o maior número de desempregados. A pauta da igualdade racial será intensificada e potencializada, é a forma de suavizar os efeitos nefastos desta crise na sociedade brasileira.”