A maior fabricante de caixas automáticos do mundo está passando pela sua segunda revolução tecnológica. Após mudar a relação entre vendedores e consumidores com a invenção da caixa registradora no final do século XIX, a americana NCR agora quer alterar a cara dos terminais bancários de auto-atendimento, os ATMs. No interior de sua fábrica em Dundee, na Escócia, já produz caixas que lêem folhas de cheque preenchidas à mão e máquinas que transformam telefones celulares em carteiras eletrônicas, carregando-os com dinheiro virtual. ?Os terminais podem gerar mais receitas para os bancos, como a venda de anúncios, comércio eletrônico e outras aplicações com internet?, disse à DINHEIRO Mark Hurd, presidente mundial da NCR, que fatura US$ 5,6 bilhões ao ano no planeta. Todas essas mudanças ainda vão demorar para chegar ao Brasil. Aqui, antes de tudo, a empresa terá de se concentrar na venda de caixas automáticos que hoje está nas mãos das empresas Diebold, Itautec e Perto. ?O Brasil é o terceiro maior mercado do mundo. Por isso, faz todo sentido que o maior vendedor de ATMs queira competir nessa região?, diz Hurd.

O primeiro passo nessa direção foi a retomada da produção local de caixas automáticos. Em fevereiro, após vários anos importando máquinas em dólar, a NCR voltou a produzir ATMs na sua planta em São Paulo ? até então limitada a fabricar equipamentos menores para lojas e supermercados. O primeiro pedido foi feito pela TecBan, a administradora do Banco24Horas. Sem as taxas de importação o preço das máquinas caíram 15%. Num primeiro momento, os caixas serão feitos na atual unidade, mas o objetivo é montar uma nova fábrica com capacidade para produzir 7 mil caixas por ano. ?Somos líderes em todos os lugares em que atuamos e queremos a primeira posição também no Brasil?, diz a vice-presidente da NCR, Kathleen Dier, que se mudou para São Paulo com a missão de conduzir a nova fábrica.

 

As perspectivas otimistas da NCR levam em conta os números da Federação dos Bancos Brasileiros (Febraban). Desde que os bancos iniciaram a substituição do atendimento pessoal pelos caixas automáticos, o Brasil tornou-se o paraíso tropical dos fabricantes de equipamentos. Atualmente existem mais de 140 mil terminais para sacar dinheiro, imprimir extratos ou fazer transferências. O setor cresce a taxas anuais de 7% e deve manter o ritmo no futuro. ?Vamos ter cada vez mais caixas em supermercados, postos de gasolina e shopping centers?, diz Luís Marques de Azevedo, consultor de tecnologia da Febraban. Outro fator que deve manter o setor aquecido é a baixa proporção de caixas por habitante, que ainda provoca filas. ?Todo mundo está de olho no mercado brasileiro?, diz Nori Lermen, diretor da gaúcha Perto.

Mais do que a fabricação local, o sucesso da NCR dependerá da sua capacidade em nacionalizar componentes. A Perto, por exemplo, orgulha-se de só possuir fornecedores locais, o que se reflete num custo mais baixo. Hoje, 65% dos componentes da NCR são importados. A meta é chegar a 50% em doze meses. Para isso, o País terá a única fábrica fora da Escócia capaz de produzir o dispensador de caixa, o esqueleto da máquina que conta e seleciona as notas antes de entregá-la ao cliente. Para uma empresa que ficou sem importar máquinas durante dez meses em 2002 por dificuldades com o dólar elevado, esta é sem dúvida uma grande mudança.